Self, Verdadeiro e Falso.
- Dan Mena Psicanálise
- 13 de ago. de 2023
- 15 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
“O verdadeiro self é o que você é quando ninguém está olhando.” Winnicott.
Por Dan Mena.

O que é o conceito de self?
Neste artigo sintetizo a compreensão da teoria do self, explorando e comparando diferentes perspectivas propostas por autores proeminentes historicamente. O conceito é fundamental em psicanálise, se relaciona com a identidade e a unidade psicológica de um indivíduo. Ao longo do seu desenvolvimento, vários especialistas têm contribuído para a compreensão deste tema, focando distintos aspectos da sua formação e funcionamento. Ditas interpretações incluem Freud, Winnicott, Kohut, Lacan, Melanie Klein, Descartes, entre outros, visando expor suas visões e implicações para a prática clínica. O self é descrito como a instância psíquica que contém os elementos que compõem a personalidade, mas não integra o núcleo da existência genuína do indivíduo. Assim, seria o protagonista da vivência é o “ser interior”, onde atua como coadjuvante principal na formação da personalidade. Boa leitura.
No domínio das definições de identidade, duas perspectivas proeminentes são as oferecidas pela psicanálise, aquelas que se centram no estudo da base biológica do comportamento. Defendemos que a identidade se assenta numa estrutura inconsciente, embora esta elaboração tenha sido criticada por questionar a existência de uma arquitetura psíquica universal que transcende as fronteiras culturais e simbólicas. Por outro lado, a visão biologista goza de reconhecimento social e considerada mais científica, devido ao seu enfoque nos métodos das ciências naturais. No entanto, esta formulação apresenta problemas teóricos e éticos. Do ponto de vista do primeiro é reprovada pelo seu angulo de negar a influência da natureza simbólica da linguagem e da cultura na formação da personalidade, pela qual se negligencia a importância dos significados que conferimos à nossa representação do ''eu'' e como estes estão sujeitos a contingências sociais e culturais. Sob a ética, as teses biológicas do comportamento podem ser facilmente instrumentalizadas por pessoas mal intencionadas, conduzindo a propostas de segregacionismo, diferenças raciais, xenofobia e justificação da discriminação e violência social contra os grupos menos favorecidos. A interpretação do comportamento humano como o resultado de uma determinação natural, decorrente do substrato biológico, pode legitimar a marginalização e a destruição dos indivíduos considerados ameaçadores ou fora do cânone biológico, que possam ser estabelecidos e usados como argumentos pelos grupos ou pessoas no poder. Ambas as leituras, oferecem diferentes prismas e pensamentos que pairam sobre a identidade, por esta razão é essencial considerar os aspectos culturais, simbólicos e éticos no estudo da formação e sua compreensão. A complexidade da psique exige uma abordagem interdisciplinar que integre suas dimensões psicológicas, abrindo para uma sustentação mais completa, humana, contemporânea e respeitadora da nossa diversidade como raça.
Como um elemento que se contrapõe ao “eu consciente” e compreende não só a “psique consciente”, mas também o “inconsciente”, é, portanto, por assim dizer, uma personalidade na qual “também”, ''somos'', (estamos inclusos). Não existe possibilidade de alcançar uma “consciência” do ''eu'', mesmo que aproximada, pois, por mais que desejemos torná-la consciente, haverá sempre uma quantidade indeterminada e indeterminável de “inconsciente” estabelecida, que pertence a uma totalidade desse ''eu''. Freud não desenvolveu propriamente o conceito de identidade, embora o mencione e esteja implícito em vários pontos da sua obra, principalmente quando fala de identificações. Para Freud, o ego é a parte da mente que lida com a realidade externa e atenderá às demandas do mundo externo, enquanto também tenta satisfazer as pulsões do ''id'' de forma socialmente aceitável. O ego, na sua função, desempenha um papel fundamental na formação da identidade e do self, uma vez que é responsável por integrar diferentes partes da psique e equilibrar demandas. A ''psicologia do eu'' introduz o sentido para se referir à representação mental que uma pessoa tem de si própria. Essa identidade responde ao nível de integração e de coesão das representações do eu, como forma do indivíduo se percepcionar, de enxergar sua consciência e encadeamento com seu corpo, das emoções e a justificação do desenvolvimento das ações que empreende. Na psicopatologia, a presença da síndrome de identidade é considerada nos pacientes borderline; (transtorno de personalidade borderline, caracterizado por um padrão generalizado de instabilidade e hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais, mudanças emocionais bruscas, flutuação na autoimagem, inconsistências extremas de humor e impulsividade). Esta sintomatologia se define por uma grave dificuldade em integrar ditas representações. É comum que durante a adolescência se manifestem confusões intensas em relação à identidade, (embora não sejam exclusivas desta fase). Isto se deve ao fato do período adolescente passar por uma ponte de experiências inovadoras e significativas que redundam na imperícia de resolução imediata nos aspectos mais básicos e importantes da vida: aceitação ou rejeição do corpo, relação com os pais, primeiros relacionamentos, comunicação social e a sua translação do papel de criança para uma fase de introdução de responsabilidades.
A perspectiva monológica do eu.
A compreensão da natureza do “eu” é um tema que tem intrigado filósofos, psicólogos, psicanalistas e pensadores ao longo dos séculos. Uma das abordagens fundamentais para entender o self é a visão monológica, cujas bases podem ser traçadas até as obras de Descartes e Locke. Essa aproximação revela quatro características essenciais que lançam luz sobre a maneira como percebemos a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor.
1. O papel das representações.
No cerne da cena monológica está o rol das representações, o ''eu'' considerado a visão global de mundo, dos outros indivíduos e até dos próprios sentimentos, desejos e temores, (Taylor, 1991). Essas caracterizações atuam como intermediárias, reguladoras entre nós e a realidade perceptível, permitindo que possamos interagir com o social, formar conexões e nós compreendermos. Por meio delas, construímos uma espécie de mapa mental da situação, o qual nos auxilia a planejar e executar ações, e também, nos conectam com o fisiológico. Nessa abordagem, a representação desempenha um papel importante, sendo a teoria sempre priorizada sobre a prática, o que implica que nossas atuações e decisões sejam influenciadas pelas configurações internas que formamos e estruturamos dentro desse padrão, refletindo uma relação intrincada entre a mente e a realidade externa.
2. A natureza oculta da mente.
O domínio mental é percebido como algo solapado nas fronteiras da “mente” das pessoas, (Shotter, 1993). Essa mente é considerada um órgão neutro, uma espécie de intermediário entre o indivíduo e o mundo, que opera com base em princípios que são independentes do contexto em que ocorrem. Esse entendimento sugere que é uma entidade autônoma, possuindo suas próprias características e funcionalidades, portanto, vista como um sistema de processamento de informações que interpreta e responde ao mundo exterior, moldando assim nossas experiências e compreensões individuais.
3. A divisão do mental, social e corporal.
Se caracteriza por uma distinção clara entre os domínios mental, social e corporal. O indivíduo cartesiano, seguindo uma metodologia específica — o método da dúvida de Descartes — consegue desenvolver representações sobre o mundo e o corpo. Essa separação entre os diversos campos ressalta a ideia de que a mente opera de maneira independente do contexto social e das manifestações físicas corporais. Essa desagregação pode ser entendida como uma tentativa de isolar o ''eu'' como uma entidade autônoma, que age desvinculada das influências externas, no entanto, essa abordagem pode ser criticada por negligenciar as interações complexas entre o ''eu'', e o ambiente social que ocupa o corpo.
4. O desenvolvimento das teorias mentais.
Um dos aspectos notáveis da concepção monológica é desenvolver teorias mentais ordenadas, alocadas na capacidade de recordar, perceber e atribuir significado, o que é visto como às ações individuais que ocorrem no espectro do espaço mental, (Shotter, 1993). Essas interações culminam na construção de conjecturas internas que moldam nossa percepção, assimilação, apreensão, captação, absorção, discernimento e razão de englobamento. Organizadas, influenciam a maneira como percebemos, interpretamos e respondemos a determinadas situações, moldando nossa interação com os outros e a associação das próprias conexões. Destarte, a ênfase excessiva nessas postulações pode limitar nossa cognição das complexidades emocionais, deformando o discernimento das experiências e influências sociais.
Descartes não desenvolveu explicitamente uma teoria completa da personalidade como entendemos nos contextos modernos. Seu pensamento filosófico influenciou indiretamente as ideias sobre a natureza da personalidade e do self. Suas obras e conceitos-chave incluem;
“Meditações sobre a Filosofia Primeira” (1641): Nesta obra, introduz seu famoso “Cogito, ergo sum”; (“Penso, logo existo”), que enfatiza a importância do pensamento e da consciência como a base da existência humana. Isso seja um precursor das teorias post-modernas que ressaltam a consciência, o autoconceito e a reflexão como componentes centrais da identidade pessoal.
Dualismo cartesiano: A distinção que fez entre a mente; (res cogitans) e o corpo; (res extensa) é uma das contribuições mais relevantes para a filosofia da mente, estabelece aqui a divisão fundamental entre a mente e o corpo, o que estruturará a maneira como muitos filósofos e teóricos subsequentes abordaram sobre a compreensão do self.
Em “Paixões da Alma” (1649). Explora as emoções humanas e suas flamas, afetos, amores, apegos, uma aproximação dualista sobre os sentimentos, aonde navega nas reações automáticas do corpo em resposta a estímulos, mas entende que podem ser controladas pela mente racional.
Autonomia racional: Trabalha na ênfase da razão como uma capacidade única da mente humana, anotando a influência das ideias, personalidade e identidade como interligadas à capacidade de raciocinar e tomar decisões conscientes.
Método da dúvida: O dispositivo sistemático da dúvida utilizado por Descartes em suas; “Meditações” para alcançar certezas indubitáveis tem implicações na formação da personalidade. Esse critério destaca a importância do pensamento crítico, da autorreflexão e da busca pela verdade individual.
Filosofia da subjetividade: Dá ênfase na subjetividade do pensamento e da consciência, contribuiu para a compreensão da personalidade como uma experiência interna única para cada indivíduo.
Ditas teorias da personalidade como as conhecemos hoje são produtos de desenvolvimentos filosóficos, psicanalíticos, psicológicos e científicos posteriores, interpretar os subsídios de Descartes exige contextualização e análise crítica em relação ao seu tempo e à evolução subsequente das ideias apresentadas. A perspectiva monológica do eu, com suas raízes profundas na sua obra, quanto as de Locke, oferecem uma visão única sobre a natureza do self e sua relação com o mundo. A ênfase nas representações mentais, a visão da mente como um ente autônomo, a divisão entre os domínios; mental, social e corporal, bem como o desenvolvimento de teorias psíquicas organizadas, são características fundamentais dessa abordagem. No entanto, é importante reconhecer que essa análise pode ser limitada, ao par que desconsidera as interações complexas entre o eu, o ambiente social e o corpo, enquanto proporcionam insights valiosos. Também é essencial, que sejam explorados outros contributos que incluam a riqueza e complexidade da experiência humana em sua totalidade.
Uma exploração psicanalítica do self pela dinâmica de Lacan.
Nos aproximando para análises mais progressistas, Lacan trabalhou profundamente na compreensão do self, suas influências e as implicações de suas ideias para a psicologia moderna, como O Eu, o Outro e o Espelho, especialmente na ''Teoria do Espelho''. Uma das contribuições mais conhecidas, que aborda o processo de formação do self na infância. Neste estágio, a criança se reconhece pela primeira vez como um ser distinto através da imagem refletida em um espelho. Esse momento, marca o início da formação do ''ego'' e do senso de identidade, onde tal identificação inicial é ilusória e fantasiosa, uma vez que o self percebido é uma distorção do desenho unificado que oculta a fragmentação intrínseca do ''self, verdadeiro''. Adiante farei nota sobre o ''falso self”.
A ordem simbólica e o desejo.
A ideia da “ordem simbólica”, se refere ao sistema de símbolos, significados e linguagem que moldam nossa experiência, a formação do self é influenciada pelo acesso a essa metafórica ordem figurativa, permitindo que possamos ampliar, alargar identidades sociais e culturais. Entra aqui o desejo, como uma parte elementar do self, atuando como uma força complexa, muitas vezes inconsciente, que impulsiona a busca da satisfação e onde se aloca também como elemento de frustração, insatisfação permanente e orexia.
O conceito do “Outro”.
O papel do “Outro” na construção do self não é apenas a estrutura caracterizada pelo sujeito separado, mas também simboliza a cultura, as normas sociais e as expectativas que influenciam a formação da identidade. A busca pelo reconhecimento e validação desse “Outro” pode moldar o desdobramento do self, muitas vezes gerando tensões entre a autenticidade pessoal e a imposição com a conformidade social.
A fragmentação do self — “Objetos a” e a busca pela coerência.
A convicção e avaliação lacaniana do self é marcada pela ideia de que morfologicamente está intrinsecamente fragmentado e instável. A busca pela coerência e pela totalidade é uma tarefa contínua, primária a todo indivíduo. Neste ponto, será introduzido o conceito de “objetos a”, os quais são elementos inatingíveis que representam as partes perdidas e insatisfeitas do self. A busca por esses objetos pode se manifestar de maneira inconsciente nos comportamentos e escolhas que realizamos. “Objetos a”; Freud desvendou que nossos impulsos, sejam eles de natureza agressiva ou sexual, buscam encontrar satisfação para se libertarem. Utilizando este caminho, e para atingir esses objetivos se valem de objetos, mesmo que eles não possuam importância ou pouca representatividade sob a visão dos impulsos. Seja outro sujeito, roupa, alimento, vestuário, adereço, tudo seria descartável e insignificante, visto que o íntimo para os impulsos mora na obtenção da própria descarga. Logo entendemos, que embora seja necessária a presença de ''objetos'' para que nossos impulsos alcancem a satisfação, logo eles serão circunstanciais, substituíveis, provisórios e mutáveis. Assim, inclinações pulsionais não estão fixadas a objetos específicos, necessitam de algo que execute essa função. É aqui que entra o conceito de “objeto a”, como um espaço a ser envolvido por inúmeros objetos concretos necessários a satisfação. Para dar um exemplo lúdico; imaginem Papai Noel passando em diversas residências e tentando coletar no seu saco vazio de presentes, ''objetos'', usando de súplicas, pedindo, rogando, postulando e solicitando eles; assim ele poderia dizer; “Preciso de qualquer coisa que possa preencher meu saco de regalos, tudo serve, se ficar abarrotada, cheia, e possa estar completamente provida”. Nesta metáfora que elaborei, o saco de presentes indicaria o “objeto a”, precisa e rigorosamente por esse ''objeto'' ser um espaço teoricamente vazio, lugar este, onde nossos impulsos são provocados, incitados a busca do necessário preenchimento desse suposto vazio temporal e permanente que nos habita. Cabe, portanto, dentro desta concepção a introdução deste significativo lacaniano, que firma o “objeto a” como causa, origem, e fonte do desejo da nossa natureza.
A importância do self para a análise.
O prisma de Lacan sobre o self e absolutamente multifacetada para entender a identidade humana. Suas ideias complexas, que adicionam a formação do ego, a influência da linguagem, a importância do desejo e sua relação com o “Outro”, têm influenciado fortemente a psicanálise, psicologia, a filosofia e a teoria crítica. Como não podia diferir, suas concepções são frequentemente debatidas e criticadas, refletindo a natureza evasiva e desafiadora do self humano. Sua impecável obra, nos convida a investigar, pesquisar e perpetuar os exames das complexidades propostas pela identidade, reconhecendo a influência das dimensões inconscientes e sociais impostas a sua abrangente compreensão. Podemos consagrar e sinalizar aqui, que Lacan mais uma vez contribui com mais de um ensinamento, somando elucidações incríveis para a psicanálise, como uma ferramenta essencial para explorar e compreender nossa mente. A importância da análise do inconsciente, e a interpretação dos símbolos, a reflexão sobre os desejos ocultos que se misturam no processo analítico, onde o indivíduo é capaz de poder confrontar todos os elementos fragmentados do self e trabalhar em direção à sua reconciliação e integração.
Frases de autores importantes;
“A busca pelo verdadeiro self é uma jornada para além das máscaras sociais que esconde nossa essência autêntica.” Klein
“Na psicanálise, o verdadeiro self emerge quando nos atrevemos a explorar as profundezas do inconsciente.” Jung
“O verdadeiro self é o núcleo de nossa identidade, muitas vezes obscurecido pelas defesas e distorções do ego.” Anna Freud
“Através da psicanálise, descobrimos que o verdadeiro self é a chave para a saúde mental e a realização pessoal.” Erikson
“O verdadeiro self é o poço de nossa essência, no qual mergulhamos através do processo psicanalítico.” Rollo May
Máscaras e autenticidade na psicologia.
A busca pela compreensão da identidade humana é uma jornada complexa, repleta de nuances e camadas que influenciam quem somos e como nos apresentamos ao mundo. Uma faceta intrigante dessa busca é o conceito de “falso self”, uma construção psicológica que reflete como algumas pessoas mascaram suas verdadeiras identidades por várias razões.
Origens do falso self.
O conceito de falso self tem suas raízes na psicologia e na psicanálise, sendo influenciado por teóricos como Donald Winnicott e Melanie Klein. Winnicott, em particular, anotou ser; uma resposta a ambientes não acolhedores ou negligentes na infância. Algumas pessoas desenvolvem um “falso self” como uma maneira de se adaptar e se proteger. Ele representa uma máscara social que esconde os verdadeiros sentimentos, pensamentos e desejos do indivíduo. Heinz Kohut, um dos principais expoentes da psicologia do self, enfatizou a importância das necessidades de espelhamento e empatia no desenvolvimento saudável do self. Para Kohut, as crianças precisam ser espelhadas e validadas por seus cuidadores para desenvolver um senso positivo, onde a ausência dessas necessidades pode levar ao surgimento de distúrbios, como o narcisismo patológico.
Suas características. Falso Self.
É uma construção: Nasce como uma resposta à necessidade de se encaixar nas expectativas dos outros ou de evitar rejeição e crítica.
Superficialidade e conformidade: Se apresenta como agradável, socialmente aceitável e conforme as normas. No entanto, essa correspondência é frequentemente superficial e pode mascarar uma desconexão entre a pessoa e sua verdadeira natureza.
Máscaras sociais: Em essência, um disfarce usado para se adequar às situações sociais. A pessoa pode se esforçar para parecer feliz, extrovertida(o) ou assertiva(o), bem-sucedido(a), mesmo que esses traços não reflitam seu momento, sentimentos e posição real de qualquer natureza.
Desconexão Interna: Por trás da fachada do falso self, há uma desconexão profunda entre o que a pessoa mostra ao mundo e o que ela realmente sente e transpassa. Isso pode levar a um sentimento de vazio, insatisfação e falta de autenticidade.
Negação: Frequentemente aquele afetado, pressupõe negar partes genuínas do ''eu'' para se encaixar no ambiente, isso pode resultar em uma falta de autoconhecimento e aceitação da sua personalidade.
Implicações e impactos.
O desenvolvimento do falso self pode ser uma estratégia adaptativa em certos contextos, mas também leva a sofrer consequências psicológicas significativas. A desconexão entre o falso self e o self autêntico pode causar estresse, ansiedade, depressão e um sentimento persistente de vazio. A busca incessante por aprovação externa em detrimento da autenticidade pessoal pode corroer a autoestima e levar a uma crise de identidade.
Caminhos para a autenticidade.
A jornada rumo à nossa verdade envolve reconhecer o falso self atuando como protagonista da nossa vida, o que passa por explorar as razões originais e subjacentes da sua formação. A terapia psicanalítica pode desempenhar um papel crucial ao auxiliar os indivíduos a explorar suas emoções reais, desejos genuínos e padrões comportamentais condicionados a se desenvolverem ao longo da trajetória pessoal. Ao cultivar a autoconsciência, aceitação e conhecimento de si, no confronto, despertamos progressivamente esse re-alinhamento do self externo com sua verdadeira essência, permitindo a passagem para uma vida mais autêntica e satisfatória.
O falso self e a máscara psicológica.
Por outro ângulo, o falso self lança luz sobre as complexidades da identidade humana e como as pessoas podem, às vezes, sacrificar sua autenticidade para se adaptar ao mundo a sua volta. A busca pela genuinidade, é uma jornada individual que é muitas vezes desafiadora, mas, e um princípio fundamental para elaboração de uma saúde mental e emocional convincente e adequada a realidade. Sua compreensão nos oferece uma oportunidade de explorar nossa relação com máscaras sociais singulares, buscando uma resolução pacificadora. Na psicanálise, aprofundamos para guiar o indivíduo na compreensão da mente humana sobre inúmeros enredos da psicologia e da identidade, desvendando essa outra faceta desse conceito intrigante, que emerge como uma variação. Através dessa lente, podemos adentrar nas suas características e reconhecer suas interações psíquicas na formação da personalidade.
Uma adaptação defensiva.
Na psicanálise, o falso self é entendido como uma estratégia adaptativa que desenvolvemos em resposta às demandas do ambiente e das relações interpessoais. Melanie Klein, sugeriu que o mesmo se origina em estágios precoces do desenvolvimento, quando a criança aprende a suprimir ou ocultar aspectos de sua personalidade autêntica para se ajustar às expectativas dos outros. Esse processo é impulsionado pela necessidade de sobrevivência, aceitação e proteção. Winnicott expandiu o conceito com sua teoria sobre o “verdadeiro self” e o “falso self”, aonde enfatizou, que o verdadeiro é a parte autêntica e essencial da personalidade, aquele que reflete as emoções, desejos e crenças genuínos de um indivíduo. Já o falso, surge como uma arma defensiva de fachada, camuflando a personalidade, levando a uma desconexão interna. Se estabelece como um mecanismo enraizado para estabelecer estratégias psicológicas que possam nos proteger de indivíduos ou sentimentos angustiantes, sejam oriundos de ameaças internas ou externas. Estabelece assim o sujeito, um escudo adaptativo imaginário, represando e ocultando seus impulsos, medos e vulnerabilidades subjacentes. Essa máscara, pode permitir que em determinado(s) momento(s) nos adaptemos ao mundo, a alguém, situações, etc., (o que pode incluir os pais, cuidadores, família, relacionamentos, amigos, atividades profissionais, etc.), que levarão inevitavelmente a consequências de uma perda de autenticidade.
Consequências do falso self.
Pode servir como um mecanismo adaptativo, destarte, também trará implicações psicológicas negativas, desconectando o verdadeiro do falso, levando o sujeito a uma alienação interna, sinalizada por uma angustiante ansiedade e possível formação de um quadro depressivo. Essa gangorra social destes tempos, que lança suas redes na busca constante de validação externa, numa sociedade exigente que pressiona por ratificações, consagrações e confirmações. Esse pressuposto alcança o individuo em detrimento da interposição do seu lídimo original, minando sua autoestima e propiciando seu envolvimento para permanecer cativo a uma sensação persistente de impossível satisfação. Vejamos algumas frases de alguns autores;
“Na psicanálise, desvendar o falso self é como remover camadas de proteção para revelar a vulnerabilidade subjacente.” Klein
“O falso self é uma construção defensiva que se desenvolve para proteger o verdadeiro self de ameaças externas.” Winnicott
“O falso self é como uma máscara que esconde as partes mais autênticas e vulneráveis de nossa psique.” Kohut
“O falso self muitas vezes emerge como uma resposta a um ambiente não acolhedor, como uma forma de adaptação.” Erikson
“O falso self é uma construção que mascara a angústia interna, muitas vezes escondendo nosso verdadeiro eu.” Rollo May
“O falso self é uma criação defensiva que protege nossa vulnerabilidade, mas também pode limitar nossa autenticidade.” Rank
A jornada para a autenticidade.
Na psicanálise reconhecemos a importância de explorar o falso self como parte de uma jornada de autoconhecimento e crescimento. A análise psicanalítica oferece um espaço seguro para os indivíduos desvendarem suas camadas e acessarem o verdadeiro íntimo dissimulado. Ao revisitar as emoções reais, desejos autênticos e experiências encobertas, os indivíduos podem começar a alinhar sua identidade externa com sua essência interior, promovendo uma jornada em direção à integridade psicológica.
Selfis — por Dan Mena.
No palco da mente, uma dualidade dança
O self verdadeiro, por onde o falso avança
Dois atores encenam, uma adaptação do tema
protagonista e coadjuvante, juntos estrelam
Num intricado jogo de cena
O verdadeiro se mistura na sua essência plena
Reflete a alma, cada curva derradeira
Trás ilações profundas, do social e da cultura
Representa com fervor, uma real jornada interior
Mas o falso self, é uma máscara elaborada
Criada para enfrentar o mundo na jornada
Adaptada ao exterior como máscara desenhada
Oculta no seu interior sua pintura desbotada
De amarras a correntes que o falso self cria
Tem o outro lado que a autenticidade infinda
Grita o legítimo anseio de soberania
Descativeiro de uma imagem distorcida
Tem horas que eu não me entendo
Me obrigo a ser o que não represento
Será que tem alguém me submetendo?
Já nem sei quantas almas tenho.
Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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