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Os Afetos.

Atualizado: 22 de set. de 2024



“Os afetos são a moeda do mundo emocional, ao revelarem a riqueza da nossa vida interior.” Por Dan Mena.

De que falamos em psicanálise quando falamos em afetos? A que afetividade estamos nos referindo?


A maneira como nos comportamos em relação aos impulsos e desejos internos foi fundamental para a formulação da primeira classificação das neuroses. Essa compreensão moderna está intrinsecamente ligada ao nascimento da própria psicanálise. Freud baseou suas experiências com pacientes histéricas para construir uma teoria a respeito dos impulsos, que foi posteriormente desenvolvida em termos metapsicológicos, onde serão definidos como legítimos representantes da pulsão. O conceito central metapsicológico desempenha um papel crucial nas mudanças teóricas importantes ao longo da sua obra. Claramente, eles funcionam como uma força interna, apoiados em funções biológicas, mas, sem dúvidas, não se intercalam nem se confundem com elas. A ideia pulsional, também, articulará instâncias do corpo e da mente. Sua origem está na nossa fisiologia, e sua relação com o contexto psíquico, mediada pelos seus representantes de estímulo, que incluem os afetos e suas representações internas. Essa articulação entre o biológico e o psíquico, será fundamental para a compreensão dos processos mentais e dos conflitos que podem surgir na psique. A noção de pulsão e sua interconexão com os aspectos biológicos e psíquicos são uma contribuição relevante para a psicanálise, fornecendo uma base teórica para a interpretação e compreensão dos mecanismos internos da mente e complexidades das condutas comportamentais. Boa leitura.


O Dicionário de Laplanche e Pontalis define o afeto como um termo que a psicanálise buscou na terminologia psicológica alemã e que; ''exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga

maciça, quer como tonalidade geral''. Toda pulsão se deriva de dois registros; ''afeto'' e ''representação''. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações, a representação, o fenômeno representacional psíquico diretamente relacionado ao sistema nervoso humano, sendo analógicas e imagéticas. Elas são unidades mentais de objetos, situações, sensações, relações, etc. A história do afeto, tal como a da psicanálise, está intimamente ligada à histeria. No entanto, antes da “Comunicação preliminar” de (1893), e do aparecimento dos “Estudos sobre a histeria” em (1895), Freud fez algumas observações interessantes sobre o assunto. Determinadas anotações foram publicadas por ele, outras, se encontram na correspondência de cartas com Fliess, divulgadas em 1950. Em 1890, em “Tratamento psíquico” ou ''Tratamento da alma'', onde ele fundamenta a possibilidade de uma terapêutica ao respeito do tema. O termo ''afeto'', aparece várias vezes, enquanto ''emoção'' e citada com menos frequência. O exemplo mais evidente da influência da alma sobre o corpo é chamada de “Expressão das emoções”; tensão e relaxamento dos músculos faciais, fluxo sanguíneo para a pele, postura dos membros e alterações do pulso. Estes sinais corporais seriam muito confiáveis, á partir dos quais se podem expressar processos anímicos, substituindo os verbais. Etiologicamente, = D.: Affekt. — F.: affect. — : afeto. — /.: affetto. O termo emoção deriva do latim; ''emotio'', — onis — designa'': … ''Uma alteração intensa e transitória do humor, agradável ou dolorosa, a qual é acompanhada de uma certa comoção somática”. O significado que Freud lhe atribui é semelhante ao significado atual. Os afetos; (affekts), são considerados como: “… ''certos estados afetivos onde a coparticipação do corpo é tão dual quanto severa. Muitos pesquisadores pensaram que a natureza deles consistiria apenas nessas exteriorizações corporais”, … ''onde os estados afetivos persistentes, sejam tristes ou depressivos, como a frustração é o luto; quer da felicidade, prazer, regozijo, todos; dão origem a decorrências e repercussões corporais''. O termo alemão ''affekt'' que foi largamente utilizado, designa fenômenos cômpares aos implicados no significado psicológico de afeto e afetividade. Estes, que provém também do latim; ''affectus'', que pesquisado aparece como: “Cada uma das paixões do espírito, como a cólera, o amor, o ódio, etc.”. Finalmente definido no sentido geral; como; ''diferentes estados da alma de uma pessoa, apontando para as evidentes exteriorizações corporais que eles provocam''.


“Ficaríamos muito gratos se houvesse uma teoria filosófica ou psicológica capaz de nos dizer o que significam para nós essas sensações imperativas de prazer ou de deslocamento. Infelizmente, nada de útil nos é oferecido sobre este assunto.” (Freud, 1920). Em 1915, focado na dimensão metapsicológica, escreve; “O Inconsciente”, onde determina uma definição para os afetos e sentimentos como; “… processos de descarga cujas manifestações finais são percebidas como sensações”.


Pulsões não podem se tornar um objeto da consciência, o que nos permite ter uma perspectiva desse desenvolvimento pelo que seria a ''representação'', visto que ela é de fato, um elemento consciente. O destino delas não pode ser totalmente inconsciente, é necessária uma janela, uma vez que somos informados pelas exteriorizações emocionais, amostras, ações, exibições afetivas que acompanham a satisfação delas. Em “Tratamento Psíquico'' ou Tratamento da Alma”, Freud afirma: “Em certos estados emocionais chamados ''afetos'', a participação do corpo é tão significativa que muitos estudiosos da mente chegaram a pensar que sua natureza consistirá unicamente em exteriorizações corporais (…). Os estados emocionais persistentes, como a dor, ansiedade, preocupação e o luto, reduzem a nutrição do corpo, fazem com que os cabelos fiquem sem vida, os tecidos se tornem gordurosos e as paredes dos vasos sanguíneos sofram alterações patológicas. Inversamente, sob a influência de excitações alegres e exultantes, vemos o corpo inteiro desabrochar e a pessoa recuperar muitas características da juventude.” O que vemos neste sentido é que os processos corporais estão estreitamente conectados com o corpo e seus estados emocionais, mesmo aqueles que consideramos ser apenas ideias ou pensamentos, são de alguma forma “afetivos”, e nenhum deles está isento de exteriorizações corporais. Mesmo a atividade de pensar em representações que provocam agradados e bem-estar constantes. Na 32ª Dissertação: “Ansiedade e vida pulsional” (1926), Freud define a ansiedade como um estado emocional, algo que sentimos, onde a combinação das sensações da série prazer-desprazer, acompanhadas das fibras nervosas e suas ramificações da descarga e a sua percepção. Aqui observamos o nascimento, a marca de toda a angústia, onde por ditas vicissitudes se definem os três destinos pulsionais ligados a repressão:


— O afeto não é abalado pela repressão e permanece presente na sua forma original, isto significa que a energia pulsional permanece ativa e não sofre alterações.


— O afeto reprimido sofre uma transformação e se torna angústia. A angústia é uma forma particular de afeto, qualitativamente diferente das emoções normais, frequentemente associada a conflitos emocionais e ansiedades.


— A repressão é tão eficaz que impede que o afeto se manifeste, isto significa que a energia pulsional é bloqueada e permanece no inconsciente, fora do alcance da consciência.


Estes três destinos da pulsão diante da repressão exemplificam como afetos podem ser canalizados em diferentes direções, dependendo do seu processo repressivo. A repressão é um mecanismo de defesa fundamental, que permite ao indivíduo enfrentar e gerir conflitos psicológicos, mas também pode ter efeitos significativos na experiência emocional e sua expressão.

O bebê, é sua dimensão codificada.


A dimensão afetiva das primitivas reações emocionais do bebê é codificada fisiologicamente, envolvem uma mistura de respostas somáticas, uma assimilação cognitiva das experiências vivenciadas e incipientes simbolizações psico-afetivas dos seus eventos primordiais, (o nascimento). Esses aspectos diretamente relacionados à presença de um ''outro'', exercido pela função materna ou do cuidador. Essas experiências emocionais, gravadas originalmente na pisque, configurarão a profundidade da afetividade do indivíduo. Suas experimentações subjetivas irão regular, tanto às dinâmicas intrapsíquicas quanto as interações futuras com os ''objetos'', moldando assim o registro delas. Portanto, existe esse duplo caminho, que está além das dimensões biológicas e culturais, sendo intras e também interpessoais. Os dispositivos que estruturam ditas respostas infantis frente à vida são vitais para a socialização e humanização do sujeito, acontecendo unicamente através da mediação inevitável do outro. Desde o início da vida, esse ''outro'', retêm uma existência onde há uma fuga impossível como condição necessária. O sentimento introdutório dessa continuidade formativa vai se fazer presente desde o início da vida, é, será mantida com suas transformações próprias para o desenvolvimento, acrescentadas pelo estilo singular e particular para cada. Esse núcleo de fatores envolvidos, aponta para a formação estrutural como um fundamento da identidade, necessitando de estabilidade dos pais ou cuidadores envolvidos na constituição infantil. Essa noção do trânsito da formação, não deve ser misturada, trocada ou confundida com a questão temperamental do sujeito, embora possa de alguma forma sugestionar e induzir a determinadas reações emocionais da criança. Polaridades de tensão e descarga — prazer e desprazer, foram aperfeiçoadas após os estudos freudianos por novas concepções mais atualizadas e contemporâneas que não serão comentadas agora. Às respostas emocionais do bebê são absorvidas pelo seu impulso vital,  por isso, são chamadas de afetos vitais, de forma percebidas como acontecimentos ligados às excitações. Na medida que o infante amadurece, ditas vivências vão se elaborando de forma mais estruturada, correndo em direção a padrões repetitivos, que por sua vez estão ligados ao seu ambiente com características únicas, e absolutamente correlacionadas aos seus estados afetivos. Essas interações, que ocorrem no âmbito de redes simbólicas, vão proferir o significado de mundo, enquanto se compõem psiquicamente. A afetividade é a base de toda subjetividade humana, sobre ela são consignadas as pontes qualitativas provenientes do ambiente, que posteriormente se tornarão o social é a cultura. O bebê, dará mão dessa afetividade do ''outro'', como um ''significativo'', onde os sentimentos originais e naturais dele(a), estarão ligados à assimilação que fez dessa primeira fascinação materna, sempre carregada de afetos provenientes da própria sexualidade da mãe. Inicia assim, (a criança), o caminho da simbolização, instaurando sua conexão inseparável entre aprendizado, experiencia e afetividade, que serão determinantes para todos seus vínculos futuros. Essa corrente pulsional materna não deve ser vista como uma manipulação sexual por parte do adulto, visto que o bebê, ainda imaturo, será relacionado e posto a prova diante de mensagens encobertas de desejo, pelos quais não possui regras, nem meios interpretativos, o que chamamos nesta fase de significantes enigmáticos. (Exemplo; nos Três Ensaios, o aleitamento: o seio, que veicula alimento e seus significados eróticos e sexuais, dos quais nem a mãe se dá conta. São enigmas também para o adulto, visto que a sexualidade é carregada de mensagens misteriosas para a criança, que, de acordo quanto as recebe por elas, será grifada, e para o adulto, seu portador-emissor, também, pois não percebe sua irradiação. A criança que está presente no adulto guarda essa marca do enigma, e essa é propriamente a matéria-prima de seus expedientes). Como objetos inconscientes, eles constituem a fonte das pulsões, funcionam como interações afetivas primárias, que produzem afinal o inconsciente. O ''outro'', como significativo, obriga a um trabalho psíquico na criança que possa definir seu processo metapsicológico, compondo e formando suas estruturas básicas para o desenvolvimento afetivo saudável.


A teoria dos afetos.


Posso citar aqui André Green, um psicanalista francês conhecido por cunhar o termo da ''teoria dos afetos''. Ele desenvolveu várias ideias importantes sobre o papel que desempenham e o funcionamento psíquico na vida emocional do indivíduo. Algumas das suas principais teorias incluem;


- O complexo de vida-morte: Se refere à coexistência e interação das pulsões de vida e de morte na mente do indivíduo, que estão no centro deste complexo, onde o trabalho psíquico deles consistirá em encontrar uma forma de simbolizar e representar estes afetos opostos, ambivalentes e contraditórios.


- Afetos tóxicos e o núcleo melancólico: Explorou a ideia de "toxicidade", interpretando que são emoções superabundantes e entorpecedoras, que surgem em determinadas condições emocionais. Esse núcleo taciturno a que se refere Green, estaria ligado a um sentimento de ausencia, perda e tristeza, presente em diferentes níveis da psique do sujeito.


- O lado negativo: A importância do trabalho do negativo na vida psíquica, envolve a capacidade do indivíduo de lidar com a perda, a falta, sua incapacidade de converter, transfigurar e transmutar estas experiências em ações e produtos criativos e positivos.


- Função alfa: Introduziu a definição e significado da função alfa, que se refere à competência e habilidade da psique em transformar afetos grosseiros, agressivos e primitivos em representações simbólicas e expressivas.


As teorias de Green sobre os afetos e o seu papel na vida emocional têm sido influentes na teoria psicanalítica, contribuíram para uma maior compreensão da complexidade da experiência emocional na nossa mente. Seu trabalho continua a ser debatido na comunidade psicanalítica atual devido sua importância e extensão.


O psicanalista afetivo.


Este termo pode designar um profissional terapeuta especializado na análise e compreensão dos aspectos afetivos dos pacientes. Dito perfil técnico deste profissional se foca na exploração do trabalho terapêutico relacionado com as emoções, os sentimentos e os afetos profundos que influenciam o comportamento e bem-estar psicológico das pessoas. Seu enfoque se embasa nas teorias da psicologia psicanalítica, desenvolvidas por Freud e posteriormente alargadas por outros psicanalistas como Klein, Bion, Jung e Lacan, entre outros. Estas abordagens teóricas enfatizam a importância do inconsciente e a influência dos impulsos emocionais e desejos reprimidos no comportamento humano, emoções e afetos subjacentes, identificando possíveis conflitos não resolvidos e a possibilidade de desenvolver uma maior consciência de si próprios e dos seus padrões emotivos correspondentes. É um processo aprofundado que pode levar tempo de assimilação, se centra na promoção do crescimento pessoal, na auto-consciência e na resolução interiorizada para melhorar a qualidade de vida. É importante notar que o termo não é uma designação oficial no campo da psicanálise, psicologia ou psiquiatria, mas sim, uma forma de descrever a orientação ou ênfase do(s) profissional(ais) na sua aproximação terapêutica. Os psicanalistas em geral, somos treinados para trabalhar com uma vasta gama de problemas emocionais e psicológicos.


Vejamos algumas frases célebres que falam sobre afetos;


“Os afetos são a vida da mente, a energia que nos move e nos impulsiona para a ação.” Freud.


“Os afetos são a linguagem da alma, revelando os segredos mais profundos do nosso ser.” Klein.


“Os afetos são a matéria-prima do trabalho psicanalítico, são a chave para desvendar nossos desejos e medos mais íntimos.” Lacan.


“No divã do analista, os afetos encontram um espaço para se expressar, transformando-se e ganhando novos significados.” Winnicott.


“A mente humana é um turbilhão de afetos, cada um com sua própria história e importância.” Bion.


“No processo terapêutico, os afetos são nossos guias, nos mostram o caminho para o autoconhecimento.” Anna Freud.


“O psicanalista tem a missão de explorar e compreender os afetos do paciente, desvendando suas emoções mais profundas.” Kernberg.


“Os afetos nos mostram o que realmente nos importa e nos preocupa, são o coração pulsante de nossa existência.” Erikson.


“Através da análise dos afetos, podemos compreender as complexidades da mente humana e sua capacidade de transformação.” Kristeva.


Essas frases ressaltam a importância deles e o papel que desempenham em nosso trabalho psicanalítico. Cada psicanalista abordou o tema de acordo com sua própria teoria e perspectiva, enriquecendo assim nosso entendimento sobre o mundo emocional.


Lacan e os Afetos.


Em Lacan, no seu Seminário XI, lemos que a pulsão se articula com a linguagem, mais especificamente, com a demanda (demanda; o conceito que orienta o analista na construção do caso que se apresenta. Toda queixa é sua posterior análise começa com uma demanda, o analista deve visar o que não é dito, para saber precisar o que está aquém, sendo o desejo). Seguindo, ele define a pulsão como; “o conjunto através do qual a sexualidade participa da vida psíquica”. A pulsão representa a realização da sexualidade no ser vivo, uma vez que não há inscrição no psiquismo que dê conta de como se situar em relação ao outro sexo, não há instinto que oriente o encontro dessa sexualidade tida como a ''posição do inconsciente''. Sublinha, também, que a pulsão só representa a realização da sexualidade apenas parcialmente, o que é fundamental nela é a oscilação com que ela se estrutura. O circuito da pulsão parte da zona erógena para o objeto, e regressa ao local de start-partida (original). O seu objetivo não é outro senão retornar ao ponto inicial, sob a forma de um contorno circular sobre o próprio corpo, desde que o outro esteja envolvido nessa posição. A pulsão contorna o objeto, mas é o próprio corpo que ela visa, vai à procura específica dele, através da libido, implicada pelo desejo. Nesse circuito que percorre e retorna, o sujeito perceberá que; “o seu desejo não é mais do que um desvio para fisgar, apanhar, o gozo do outro”, que será provisoriamente satisfeito, mesmo acontecendo uma insatisfação. O sintoma da reivindicação daquele que chega ao consultório é geralmente inconsciente, busca pela satisfação de um gozo pulsional, um aprazimento que não é aquele que ele(a) procura como sujeito. Temos então aqui o ''gozo da pulsão'', na sua linha de sofrimento, visto que será na pulsão ou pela sua via onde resolveremos uma satisfação irresoluta, destarte, o prazer é o oposto do gozo. Ao se articular com a libido através dos efeitos da castração, a pulsão se articula com o fálico, (genital), permitindo que o sujeito se interesse pelo corpo do outro. Logo, o ''corpo do outro'', será o caminho do gozo. “O que se chama de perversão”… gozo fálico é o gozo do poder, do domínio em todas suas formas, jurisdição sexual, potência-impotência, poder político, epistêmico, artístico, ou seja, onde o poder fálico converge com o narcisismo”. C. Soler.


Lacan fez importantes contribuições para o campo da psicanálise, incluindo sua perspectiva única sobre ele e sua relação com a vida emocional. São às respostas do sujeito ao encontro com o ''Outro'', ou seja, com os outros indivíduos e o mundo ao seu redor, não são simplesmente reações emocionais, mas sim, o resultado do processo de simbolização e significação que ocorre na relação entre o sujeito e esse ''Outro''. Eles têm uma presença significativa no inconsciente, expressos por símbolos, metáforas, ficções, imaginação e imagens, que muitas vezes escapam à compreensão consciente do indivíduo, transpassando o ser na forma de um poder-potência, capaz de influenciar seu comportamento e como se relaciona com o social. O Complexo de Édipo é um conceito central na teoria de Lacan, que aborda a fase do desenvolvimento em que a criança experimenta sentimentos de amor e desejo em relação ao sexo oposto e sua rivalidade com o pai do mesmo sexo, conflitos emocionais medulares para a construção do psiquismo. A angústia, como uma emoção paralisante, pode surgir em resposta a certas experiências emocionais não resolvidas, como os afetos tóxicos, sendo emoções negativas e afetam o bem-estar psicológico, prejudicando a capacidade de lidar com as adversidades.


Aspectos metapsicológicos.


Em “A Repressão”, Freud afirma que; “a essência da repressão consiste em rejeitar algo da consciência e mantê-la afastada dela”. No entanto, mais adiante, no mesmo artigo, ele descompõe esse agenciamento como representante da pulsão em quantidade de afeto e representação propriamente dita. O destino da concentração de afeto, representante da pulsão, é muito mais importante do que o destino da sua representação, e os mecanismos da repressão têm algo em comum, como, por exemplo; subtrair o investimento energético. Em “O Inconsciente”, afirma; que a “supressão do desenvolvimento do afeto é a verdadeira meta da repressão” (Freud, 1979). Após o processo repressivo, tais representações continuariam a existir como formações do real no inconsciente, enquanto ao afeto inconsciente só haveria uma possibilidade de expressão que não lhe seria permitida. Se há algo que não lhe é autorizado e expressar, é porque esse algo realmente existe; “o desenvolvimento do afeto se torna possível a partir deste substituto consciente, cuja natureza determina o caráter qualitativo dele”, (Freud, O Inconsciente, 1979). Após erigir e construir a repressão, conseguimos reconduzir afetos às suas causas originais, quando na repressão só existiriam representações e cargas sem qualidade, o que para tal finalidade o afeto seria a experiência subjetiva dessa descarga.


Em alguns casos, afetos intensos ou considerados “inaceitáveis” pela sociedade podem ser reprimidos e negados pelo indivíduo. A repressão deles pode levar a conflitos internos, ansiedade, depressão e problemas emocionais. A psicanálise explora como os afetos reprimidos podem encontrar expressão no inconsciente, influenciando nosso comportamento de maneiras sutis e muitas vezes desconhecidas. Embora sejam uma parte natural da experiência humana, é essencial aprender a regular e gerenciar nossas emoções para nos adaptarmos adequadamente às diversas situações da vida. A capacidade de expressar e processar eles de maneira saudável é crucial para o nosso bem-estar emocional e mental. Têm um papel essencial em nossas vidas, ao moldarem nossas experiências, influenciam nossa percepção de mundo e de nós mesmos. Ao entender e explorar suas profundezas, podemos nos tornar mais conscientes de nossos sentimentos e desenvolver uma maior habilidade em lidar com nossas reações emocionais negativas. Aprender a regular e expressar sentimentos de maneira saudável nos ajuda a alcançar uma maior harmonia emocional e a viver uma vida mais equilibrada e satisfatória.


Libido, sexo, afetos, fantasias, corpo, adulto, criança, trauma, frustrações, enigmas, prematuridade; são terrenos que sempre conduzem ao conceito de sedução, (a teoria da sedução foi a primeira proposta sistemática de Freud para dar conta de um excedente de excitação que faz uma exigência de tradução ao sujeito, constituindo, ao mesmo tempo, o seu aparelho psíquico), uma verdade necessária à constituição da psique e seus significantes misteriosos. Sem dúvidas, será uma estação de parada obrigatória, como um destino pré-fixado para todos nós. Como Freud referia; ''medidas externas de nosso estranho que nos escapa'', algo em nós, com um quê de repelência e enigmático. E é esse precisamente nosso material de construção na psicanálise, o tal do ofício do impossível, mas que se faz imprescindível, em tempos onde o ''outro'', é muitas vezes visto com desconfiança, sem haver fundamentos. Ao tratar do sexual, do pulsional, surge a etiologia sexual, que será subjacente ao conflito humano e ao sintoma, que escapa à compreensão do sujeito.


Ao poema de Olavo Bilac;

Ao Coração Que Sofre.


Ao coração que sofre, separado

Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,

Não basta o afeto simples e sagrado

Com que das desventuras me protejo.


Não me basta saber que sou amado,

Nem só desejo o teu amor: desejo

Ter nos braços teu corpo delicado,

Ter na boca a doçura de teu beijo.


E as justas ambições que me consomem

Não me envergonham: pois maior baixeza

Não há que a terra pelo céu trocar;


E mais eleva o coração de um homem

Ser de homem sempre e, na maior pureza,

Ficar na terra e humanamente amar.


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 
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