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O Poder.

Atualizado: 22 de set. de 2024

“É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade”. Bacon.

Por Dan Mena.

O significado etimológico do termo na sua forma verbal mais antiga, a palavra ''PODER'', provém do termo indo-europeu poti, que designava o chefe de um grupo social ou familiar, de um clã, uma tribo, e tinha uma concepção política de autoridade do chefe. (Schaal, 1994). A palavra poder vem do latim ''POTERE'', seu significado remete à posse, capacidade ou faculdade de fazer algo, bem como à posse do mando, imposição da vontade.

• ter poder expedido ou poder para realizar uma coisa;

• domínio, poder e jurisdição que se tem para mandar numa determinada situação ou executar uma ação;

• posse ou detenção efetiva;

• cair sob o poder de… estar sujeito ao seu domínio ou vontade;

• em política: a capacidade de exercer um controle sobre a população de um determinado território;

• poder de autoridade, (polícia, exército, etc.), de uma força física ou coercitiva.


Neste artigo, discorro sobre diferentes perspectivas sobre a natureza humana e a sua relação com o poder. Conforme a teologia cristã, como seres humanos fomos criados à imagem de Deus, (O fato de que o homem é criado à imagem de Deus significa que o homem é como Deus nos seguintes aspectos: capacidade intelectual, pureza moral, natureza espiritual, domínio sobre a terra, criatividade, habilidade para tomar decisões éticas e imortalidade) assim, foi nos concedido o domínio sobre a terra e todas às criaturas que nela existem. O filósofo Russell, defende que o poder é o motor básico do comportamento e ação humana, que por sua vez, é uma procura inerente à nossa concepção inata. Freud defende, que o inconsciente e os instintos desempenham um papel importante dessa constituição, tal se submete ao jogo dominante na sociedade e a cultura. Acrescenta; que, é aquele tomado em consideração como implícito, ou seja; o exercício que fazemos dele na ordem do inconsciente, que mostra como a pulsão desse desempenho pode dar origem a uma expressão sádica, que contribui para a constituição do saber. Wilson, na área biocientífica, argumenta que a biogeocenose imperfeita a que estamos designados, está predefinida pelos nossos genes, onde seu impulso e desempenho está na gênesis molecular do código DNA. Saber e poder se entrelaçam, estão intimamente relacionados; Foucault, conseguiu demonstrar que o discurso é produzido em cada momento histórico, que o mesmo, contém verdades produzidas pelo conjunto desse saber-poder. Ao analisar a psicanálise pela sua prática discursiva, mostra que ela está amplamente relacionada com os pronunciamentos disciplinadores. Faz leitura do papel que a psicanálise desempenha como coadjuvante auxiliar das famílias na anuência desse esquema, e que não estava nesse contexto apenas contribuindo com a ordem prescrita, senão também, como um projeto que procurava estabelecer uma comunicação com a parte irracional do processo. Freud, descobre então uma terceira ferida narcísica para a humanidade, de natureza psicológica, isto é, retira do reinado ancestral a ideia de que o ser humano tem controle sobre sua vida psíquica. Entra Santo Agostinho, que já dizia; ''não há nada mais perto de mim do que eu mesmo, no entanto, não há nada que eu desconheça mais do que a mim''. Às duas primeiras feridas narcísicas, uma realizada por Copérnico e Darwin, já tinham revelado; A primeira, quando a humanidade descobre que a Terra não era o centro do universo, mas apenas uma partícula de um sistema universal, dificilmente concebível em sua magnitude para a época. A segunda, ocorre com a investigação biológica que roubou nossa aparente superioridade divina sob a criação, e repreende o homem com a descida ao reino animal e sua natureza similar. Sem dúvidas, existem dezenas de recortes divergentes e concepções ao tema, que realçam a importância da intrínseca relação humana com o poder, absolutamente implicada em muitos aspectos ambivalentes, seja pelo nosso estilo de viver, realidade e discurso. 


Vamos ao tema, boa leitura.


Gosto muito dentre os muitos conceitos desta posição de ''O Poder'' visto pela visão de Foucault, que argumenta que tal não se opõe ao conhecimento ou à verdade, mas, pelo contrário, produz e reproduz ambos. Na seguinte citação: ''A verdade é deste mundo; ela é produzida aqui, graças a múltiplas imposições. Ela tem efeitos regulados de poder''. Cada sociedade tem o seu regime de verdade (…). A “verdade”, está centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o produzem (…), tal produção, e transmitida sob a forma de controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos, como universidade, exército, escrita, meios de comunicação social, etc.). (Foucault, 1992). É, portanto, seu entendimento, que a verdade é elaborada, e como ela própria reproduz o poder, também, inclui tipos de narrativas e mecânicas que se encarregam da sua construção. Por sua vez, visualizo, que a verdade, não é uma, nem transcendental, mas sim, particular e específica de cada sociedade. A verdade seria então, o conjunto de regras utilizadas para determinar o que será verdadeiro ou falso, o que estará conectado aos efeitos políticos do poder. A verdade é para Foucault, o próprio poder em si. Por vezes, acreditamos ser possível delimitar seu espaço, aquele onde se encontra, no entanto, outra citação dele é muito subjetiva; O poder: (…) essa coisa enigmática, ao mesmo tempo, visível e invisível, presente e oculta, investida em toda a parte (…), (Foucault, 1992).


Como o poder interpela o psicanalista?


Ulm diz;


*… a influência do poder no processo psicanalítico é raramente refletida, analistas são rápidos em fugir do assunto recorrendo à técnica: o argumento de que o analista não exerce poder porque ela(e) não faz justiça ao comportamento abstinente, não realiza mediação ao problema. Exatamente pelo seu significado, certos comportamentos do analista podem desempenhar um papel na luta pelo poder. É sabido que tais interpretações podem ser utilizadas para impor determinadas condições do enquadramento clínico do paciente. O desequilíbrio desse manejo torna-se maior quando o psicanalista coloca em jogo um conhecimento privilegiado sobre a verdade inconsciente do paciente, via interpretações profundas da psique que ele ignora.


Hector Fiorini diz: em “O que faz uma boa psicoterapia psicanalítica?”, “Psicanálise: Focos e aberturas”, publicada no Uruguai.

''Penso, que fomos formados sob uma teoria que tentou saber muito sobre a sexualidade, sobretudo da infantil e suas derivações na vida sexual adulta. Não sabemos qual é o problema do poder, assuntos que jogam um rol numa família desde a fase primaria. Se conhecêssemos melhor o poder, poderíamos compreender que nem sempre é a sexualidade que vem primeiro, mas que por vezes, os problemas sexuais são derivações desses elementos. Por vezes, a impotência sobre-sexualizada em face a problemas de poder''.


Foucalt e Deleuze colocam a questão da seguinte forma: ''em vez de estudar a política das grandes sociedades, é preciso concentrar estudos delas, na micropolítica, no jogo do poder no grupo familiar, no casal, no amor. Há uma série de domínios absolutamente fundamentais da vida psicológica onde se desenrola esse tema''.


Da nossa natureza.


Tanto do Deus bíblico como dos próprios seres humanos, emerge uma natureza cruel e destrutiva. Se nos remetemos a religião podemos convocar como exemplo às Cruzadas e a Inquisição, situações reais de violência e perseguição que exterminaram milhares de pessoas em nome de uma religiosidade. Por outro lado, vemos o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que demonstra capacidade de agir de forma racional e consciente. Scheler, defende que o ser humano consegue dizer ''não'' à realidade, de protestar contra ela, ao contrário dos animais que devem aceitar sempre a situação imposta. Consciência e razão, ambas são interdependentes, uma vez que a consciência sem a capacidade de reter informação seria superficial. No entanto, devemos reconhecer que não somos apenas racionais, visto que agregamos compostos influenciadores como às emoções, afetos, cognição, experiências, laços, impulsos, etc., que nos tornam adaptativos a mudanças. Freud alude; que grande parte da vida mental humana é irracional e inconsciente, e que o inconsciente, representado pelo “id”, possui desejos e impulsos imperiosos, que tanto a razão como a irracionalidade são essas características distintivas do ser humano em relação aos animais. Destarte, cientificamente partilhamos características relativas com outras espécies animais, principalmente a que aponta para o cérebro reptiliano, que controla os comportamentos instintivos e básicos de sobrevivência, (Segundo a teoria, a camada mais profunda e primitiva do cérebro, chamada de ''Cérebro Reptiliano'', opera os reflexos e funções instintivas, controla funções vitais do corpo e determinados comportamentos sexuais. Essa base psíquica, seria responsável por comportamentos de agressão, domínio, territorialidade e exibição. Envolveria o tronco cerebral e o cerebelo, na forma de um animal interior impulsivo, com tendências violentas, que busca proteção, defesa e poder. Uma teoria considerada incorreta pela neurociência moderna). A relação entre esse contexto do poder e nossa natureza primitiva, se faz presente no dia a dia, porque está ligada aos presságios de sobrevivência e tino, logo agressivas, aquelas que supostamente estão além do limiar do controle possível, mais sensíveis de serem dominadas. As características únicas do ser humano, incluem a razão, consciência, capacidade de pensar, projetar, equacionar, refletir e fazer definições lógicas, enquanto a consciência, é a habilidade de estar consciente da existência, ambiente, tempo, laços e da nossa ligação simbólica com o universo. O instinto vital presente em todos os seres vivos, se explana ao instinto de sobrevivência, incluindo as pulsões de vida e morte.


A origem da atividade mental.


A pulsão é a origem de toda atividade mental, representa os estímulos somáticos do corpo, Freud define a pulsão como uma magnitude de exigência ao trabalho que impele à ação, constituída por uma fonte, uma força, uma meta e um objeto. O instinto, através das pulsões de vida visam satisfazer necessidades, tais como a alimentação, água e perpetuação da espécie. Está dividida entre as pulsões de vida representada por ''Eros'', e as pulsões de morte, por ''Thanatos'', que influenciam o comportamento humano e a sociedade. Nessa linha, todo poder tem origem no instinto, ao ser a energia motora que levou o ser humano a criar uma cultura, a construir um mundo civilizado e procurar pelo seu bem-estar, conforto e propósito de felicidade. Uma relação proporcional entre consciência e poder, uma vez que quanto mais elevado o nível de consciência, maior a ânsia e o desejo de obter ele. A vazão dessa influência sobre o meio ambiente se vê espelhada por motivações egoístas e ambiciosas. O gene egocêntrico humano não tem nenhuma moral ou comportamento associado ao mal, atua segundo a sua natureza interesseira, age, enquanto portador e transmissor da sua prioridade na transmissão do seu material genético. A teoria do gene egoísta, (teoria do gene egoísta de Dawkins, a seleção natural atua sobre genes específicos como unidade de seleção. Esse replicador usa veículos transitórios em favor de sua multiplicação, onde o aspecto egoísta mantém suas características sendo transmitidas), o que não implica maldade ou moralidade. Refere-se ao impulso egoísta como um canal de imortalidade do ser, entendido como ações aparentemente altruístas que, em última análise, procuram o benefício próprio. Rand defendia o egoísmo racional como uma virtude moral e considerava o altruísmo irracional incompatível com a liberdade, o capitalismo, e os direitos individuais. De acordo com ele, os seres humanos são inerentemente autocentrados e egocêntricos, procuram o seu próprio interesse racional e a boa-venturança como objetivo moral.


O poder, suas formas.


O poder é uma articulação do ser humano para controlar racionalmente os outros, é a soma dos comportamentos, condutas e características típicas determinadas por fatores genéticos, embora existam outras condições que interferem. Uma tendência inerente para o desejo de domínio e egoísmo, que como predadores naturais desejam dominar outras espécies, obter benemérito para seu próprio bem-estar, incluindo à exploração dos outros. Embora os genes primitivos possam se mesclar em grande escala nos comportamentos, fatores ambientais, sociais, políticos e culturais, desempenham um papel importante na formação do comportamento humano. Uma sociedade baseada apenas no egoísmo e na lei deste DNA seria algo muito indesejável, onde valores como a assistência, caridade, mutualidade, solidariedade, cooperação, amizade e o bem coletivo seriam negados. No entanto, reconhecer a nossa tendência para o valor que damos ao poder e seu consequente egoísmo, podem contribuir para a melhor intelecção, pensamento e funcionamento das futuras sociedades, e nos instruindo atualmente para os desafios contemporâneos que enfrentamos. A ética e a moral, desempenham uma incumbência incisiva na forma como os seres humanos interagimos e convivemos entre si, ajudam, formando decisões de atuação mais compatíveis com princípios e valores em função do inevitável exercício do poder. 


O que Freud fala sobre o poder?… ''a relação política básica consistia numa relação erótica, da massa com a autoridade. Para ele, a autoridade sempre existe personificada. A horda supõe um chefe, o hipnotizado, um hipnotizador, o amor, um objeto, a massa, um líder''.


O lado escuro.


Hobbes respaldou com suas argumentações que os seres humanos somos maus por natureza, que a ordem social seria uma estrutura fundamental para brecar e reprimir nossos impulsos destrutivos, necessário correlato poder de convivência medianamente pacifica. Ele aponta; que a natureza individualista, autocentrada e competitiva do homem, exige a imposição de uma autoridade para manter a equidade civilizatória, ordem, desenvolvimento e estabilidade civil. Quanto à natureza gregária e social, é fato que somos animais sociais e temos inclinação para viver em convergência. Esta tendência, pode não se basear propriamente num altruísmo humano genuíno em relação ao outro, mas pode estar embutida, instigada por interesses comodistas, como a preservação e supervivência do gene, da raça como objeto primário. Nestas máscaras, também podemos incluir os princípios e valores, usados como táticas estratégicas complementares. Por outro ângulo temos a moral, campo da discussão pela sua constituição complexa, objeto de grandes debates acadêmicos. Uns defendem que a moral tem uma origem biológica, que desponta como uma articulação da espécie, uma reflexão, dito subproduto de demandas biológicas. Outras escolas, intercedem quanto a moral ultrapassar os instintos, senão, atribuída a capacidade cognitiva de raciocinar quanto ao pêndulo das ações e suas possíveis repercussões negativas que podemos sofrer. De acordo com essa visão, a moral se constituiria via uma construção social, que foi se aperfeiçoando no tempo, desenvolvendo e avançando, na medida que se fundaram as civilizações modernas, instituindo paulatinamente normas e valores que foram agregadas aos marcos regulatórios legais e culturais. A interação entre múltiplos fatores, sejam psicológicos, ambientais, legislativos e sociais, talham a humanidade, esculpindo nossos hábitos, crenças e comportamentos, deixando em qualquer direção uma temática sedutora ao debate, a sua compreensão para o progresso do campo filosófico, histórico e científico. Em particular, como indivíduos, temos o pleno direito de questionar ditos ritos que regem nossa vida, devemos sempre ir em busca da compreensão, exigindo uma mente disposta e aberta ao polêmico, espírito cívico e senso crítico.


''Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se em si, é o verdadeiro poder''. Lao-Tsé.


Na abordagem psicanalítica.


De que forma o poder se intitula na psicanálise? Seria na forma de qualquer outra teoria?, na talvez dita manipulação, manejo, desvio,   abuso ou na própria técnica? É, onde ela não se encaixa? Onde seria possível falar de poder em psicanálise, e onde não haveria um espaço significativo da sua práxis? Se teoricamente a sexualidade não é propriamente o campo do discurso, onde encontramos o poder?. É possível falar dele nas formas de sua institucionalização? Onde é que ele seria importante ser invocado?


Para esta resposta quero dar voz a Christian Dunker, meu professor contemporâneo que tanto admiro e me espelho, se existe esse lugar, é este que e reservado a psicanálise; ''A psicanálise desenvolveu uma pequena teoria prática sobre o poder. Quando alguém procura a nós, psicanalistas, em geral, este alguém está questionando suas posições e decisões na vida. Por isso mesmo abre-se para ouvir, pedindo que o outro lhe dê alguma direção, uma pista e até mesmo um conselho sobre a pergunta fundamental: o que fazer? Esse pedido não é apenas uma demanda formal, como a que fazemos para um consultor financeiro ou jurídico, mas emerge em uma relação de confiança e intimidade, adquirida e formada pela escuta paciente e cuidadosa sobre os aspectos que deram luz da rede de problemas que cercam uma vida. Portanto, estamos nas condições ideais para sugerir e orientar, posição com a qual muitos educadores sonham porque lhes garantiria o trabalho disciplinar que é tão difícil de obter em situações institucionais.


Ocorre que toda a graça e quase toda a arte da psicanálise consiste em renunciar ao exercício deste poder que o próprio paciente nos incita e nos pede para praticar. É porque nós não agimos com o poder que nos é atribuído, entendendo que a natureza dessa atribuição é por si só problemática, que a psicanálise transforma o poder imaginário da sugestão em autoridade simbólica da transferência. Nós não o fazemos, contra o pedido e a demanda, por vezes explícita, de nossos pacientes. Nós não vamos para a cama com eles, não usamos nossas informações para obter benefícios indiretos, não nos associamos nem empreendemos nada com eles, muito menos nos satisfazemos em sermos amados como uma imagem sábia ou benevolente. Todo o poder que a situação nos confere, com exceção do poder de contribuir para a transformação do próprio paciente, nos é interditado. Ora, todas as atividades humanas que dependem de situações análogas deveriam seguir a mesma regra. Ou seja, padres e pastores nunca deveriam usar a autoridade que lhes é concedida para indicar candidatos ou eles mesmos se apresentarem como postulantes a cargos representativos. Também médicos e professores jamais deveriam aproveitar-se desse tipo de situação para extrair benefícios secundários da relação de tratamento ou de ensino para criar laços secundários. A liberdade que se exerce nessas atividades é dada pelo limite que se escolheu''.


Em última análise, a compreensão da natureza humana é objeto de debate e reflexão constantes. Diferentes teorias e perspectivas oferecem formas polifacetadas de interpretar e compreender as motivações, atos e comportamentos humanos.


Para fechar ficarei com Foucault.


A definição de Foucault para o conhecimento na sua obra ''A Arqueologia do Saber'', sinaliza com sua proposta;


Um saber é aquilo que se pode discursar numa prática narrativa, que é assim especificada:


O domínio constituído pelos diferentes objetos que vão ou não adquirir um estatuto científico (…) “indica em seguida“(…) é também o espaço no qual o sujeito pode tomar sua posição para falar dos objetos que trata no seu discurso (…)” e continua: “(…) é também o campo de coordenação e subordinação dos enunciados onde os conceitos aparecem, são definidos, aplicados e transformados (…)” e finalmente: "(...) um conhecimento é definido pelas possibilidades de uso e apropriação (…). Oferecidas pelo discurso (…) (Foucault, 2007). Para ele haveria um problema no discurso, porque poder inerentes ao jogo enunciativo. Assim, ele descobre que o poder, longe de ser descrito simplesmente por seu caráter repressivo, é por essa noção de poder que a força de proibição, a força que diz “não” como; (uma concessão puramente jurídica do poder), tem um caráter produtivo muito mais poderoso. ''O exercício do poder é executado com e para além da lei, funcionando antes por incorporação'' (Ayouch, 2013). O poder, diz Foucault:(…) produz coisas, induz ao prazer, forma saberes, produz discursos; ele é (…) uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social e não (…) uma instância negativa cuja função é reprimir.”. (Foucault, 1992). O poder, não impede o conhecimento ou a verdade, mas, ao contrário, produz e reproduz ambos. Quero encerrar com uma reflexão a iluminada frase de Francis Bacon. “É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade”, tão potente ao homem sua ânsia pelo domínio, que consegue prescindir da sua vida vivida, em detrimento de ditar regra, ir e vir, ser livre, desfrutar do bem mais precioso que lhe foi outorgado. Que falta de bom senso!


Ao poema. Se comparo poder ou ouro, ou fama.

Antero de Quental.


Se comparo poder ou ouro ou fama,

Venturas que em si têm oculto o dano,

Com aquele outro afeto soberano,

Que amor se diz e é luz de pura chama,


Vejo que são bem como arteira dama,

Que sob honesto riso esconde o engano,

E o que as segue, como homem leviano

Que por um vão prazer deixa quem ama.


Nasce do orgulho aquele estéril gozo

E a glória dele é cousa fraudulenta,

Como quem na vaidade tem a palma:


Tem na paixão seu brilho mais formoso

E das paixões também some-o a tormenta…

Mas a glória do amor… essa vem d’alma!


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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