Memória e Esquecimento.
- Dan Mena Psicanálise
- 22 de abr. de 2024
- 12 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
A Memória e o Inconsciente: Desvende os Segredos da Sua Mente com a Psicanálise.
''A memória é o baú das lembranças, o esquecimento, a fechadura que protege seus enigmas'.' Dan Mena, por Dan Mena.

Memória e esquecimento são vistos como partes fundamentais da forma como nossa mente funciona. Em vez de apenas guardar informações como um computador, é moldada por emoções, desejos e experiências passadas. Para a psicanálise, a memória é atual, implica num passado que se torna vivo e carne pela bagagem que carregamos. Então, a lembrança é recuperada em uma nova malha, um novo signo psíquico que a torna a potência do pensamento. Seria, portanto, a soma de lembranças, desejos ou medos que influenciam nosso dia a dia, mas sem que o percebamos. Tanto a história quanto a memória, não apenas conectam esses conteúdos, fronteiras, demarcações e datas, mas também, estabelecem relações de razão e decorrência, causa e efeito. São o mais próximo e real de um legado, aquele que podemos passar adiante. Quando a historicidade é elaborada, construída paralelamente de modo que se transforme em memória eficaz, podemos anotar isso como a ferramenta mais dominante e soberana do sapiens. Seria um grande equívoco afirmar que psicanálise, memória e cronologia são sinônimos, destarte, caminham intimamente pertinentes e concernentes a alguns aspectos particulares entre si. Em nossa prática clínica, falamos em memória e cronologia, o que pode ser classificado como a própria teoria delas e da psicanálise em si. Obviamente, que tais não se justapõem, pois; ''A história pode existir sem a memória, mas, não há reminiscências sem história''.
Dan Mena.
Olhando pelo ângulo freudiano, ele nos sugere e propôs diversas formas de recordações, entre elas; o id, que representa os anais da história da espécie, o superego, retratando e simbolizando o contexto, e a história da família e o ego, que reúne e estampa essa linha do tempo unificadamente. Boa leitura.
Memória reprimida, lapsos freudianos e a interpretação dos sonhos.
O esquecimento, para a psicanálise, não é apenas uma falha da memória, mas pode ser uma forma de defesa psicológica. Por exemplo; podemos desmemoriar eventos dolorosos ou traumáticos como uma maneira de nos protegermos do sofrimento que eles nos causaram. Além disso, na análise reconhecemos que elas não são estáticas; podem ser reinterpretadas e reconstruídas ao longo do tempo. Isso significa, que nossas lembranças podem mudar conforme nossa perspectiva e estado emocional atual. Essa maneira de entender como lembramos e esquecemos coisas, não são apenas registros neutros do passado, mas são poderosamente influenciadas por nossos desejos, medos e know-how emocional. Um dos conceitos dessa interpretação é a “memória reprimida”. Quando vivenciamos algo muito doloroso, nossa mente pode tentar esquecer para nos proteger dessa angústia, ficando guardadas no nosso inconsciente, induzindo nossos comportamentos sem que estejamos conscientes deles. Por outra parte, os “lapsos freudianos” ou “atos falhos”, que são pequenos erros aparentemente insignificantes, como esquecer o nome de alguém, trocar o nome do parceiro(a), ou cometer um deslize na fala. Essas lacunas, revelam pensamentos ou desejos inconscientes que estamos tentando esconder. Somado a esses eventos, temos a ''interpretação dos sonhos'', parte crucial da teoria de Freud. Sonhos, são uma forma de expressão do inconsciente e suas imagens e símbolos podem revelar nossas aspirações e interesses ocultos, tanto quanto camuflar conflitos psicológicos não solucionados. Podem sem duvidas, nos ajudar a entender melhor a nós mesmos e os problemas que enfrentamos no percurso da vida.
A Profundidade do inconsciente.
O inconsciente atua como uma vasta reserva de pensamentos, desejos, memórias e impulsos que permanecem fora do alcance da nossa consciência imediata. Estes conteúdos embrulhados, exercem uma intervenção prestigiosa sobre nós. Por exemplo; consideremos alguém que se vê preso em relacionamentos conturbados, marcados por brigas, birras e desentendimentos constantes. Por mais que essa pessoa tente compreender as razões por trás dessas dificuldades, ele(a) podem não atentar que estão repetindo padrões de estreiteza moldados por experiências passadas, como a dinâmica familiar da sua infância. Outro modelo que pode ser observado em casos de fobias inexplicáveis. Uma pessoa pode desenvolver um medo intenso e irracional de algo, como voar de avião, ter medo de elevadores, de altura, de participar de atividades sociais, etc., sem uma causa ou motivos aparentes.
Memória traumática.
A memória traumática é como uma ferida invisível que persiste em permanecer na mente, ela repercute de maneira entrelaçada e por vezes perturbadora. Uma forma de execução se dá pela ''repetição compulsiva''. Assim, reiteramos logo padrões e estruturas de comportamento que parecem reencenar eventos que nos abalaram no pretérito. Alguém que sofreu abuso na infância, pode se ver espelhando e vivendo ciclos constantes e regulares de relacionamentos tóxicos, abusivos e tirânicos, sem compreender suas verdadeiras raízes quanto às suas péssimas escolhas. Dita recorrência ocorre, porque o trauma não foi processado adequadamente na primeira vez da circunstância em questão. Em vez de ser integrado à consciência e ser elaborado, o padecimento ficou latente, armazenado no inconsciente, onde continua a rondar e exercer sua ingerência de maneira disfarçada. Portanto, podemos ficar presos em estágios de comportamento autodestrutivo, tentando inconscientemente dominar e governar uma situação que não encontrou sua resolução psíquica. Por isso, a ''repetição compulsiva''.
Memória encobridora.
Outro aspecto que preciso ressaltar é a ''memória encobridora'', na qual o trauma é reprimido ou esquecido conscientemente. Podemos bloquear a lembrança dessa comoção como uma forma de autopreservação, destarte, o impacto e baque sofridos não desaparecem simplesmente porque foi omitido. Ele retorna a conduta de maneiras sutis, muitas vezes causando sintomas como ansiedade, depressão ou flashbacks. Podem emergir novamente, muitas vezes em momentos de estresse ou quando algo no ambiente atual lembra o evento marcado anteriormente. Essas memórias podem se manifestar de formas simbólicas, como sonhos ou lapsos, se exprimindo e emitindo pistas do que está escondido no inconsciente. É importante fazer uma reflexão sobre a própria natureza do trauma psicológico. Trauma não se refere apenas a eventos extremos, como desastres naturais, agressões ou abuso físico. Ele inclui experiências emocionais intensas, como perda, momentos da sexualidade, rejeição ou humilhação, que deixam uma marca duradoura na mente. O impacto deles é sempre individual e subjetivo. O que é ou caracteriza uma mágoa, tristeza, sofrimento, angústia e amargura para uma pessoa, pode não ser paralelamente sentido para outra.
''Memória e esquecimento são dois elementos da mesma máquina fotográfica, onde a análise funciona como a lente grande angular dos detalhes ocultos''. Dan Mena.
A Memória coletiva e cultural.
Unindo indivíduos e comunidades por eventos históricos e fatos compartilhados, entram às reminiscências, que não apenas contornam nossa psique individual, mas também a coletiva. Às raízes da história repartida, seja por lances significativos, como guerras, revoluções, levantes sociais ou mesmo embates culturais, deixam marcas na consciência pública da sociedade. Essas vivências comuns se tornam parte do tecido da memória comunitária. Por sua vez, serão transmitidas de geração em geração mediante narrativas, tradições e rituais. Uma pessoa pode carregar consigo o peso de episódios históricos que ocorreram antes de seu nascimento, como o Holocausto, Genocídio Armênio ou a Escravidão. Mesmo que não tenham vivenciado diretamente esses acontecimentos coletivos, eles podem se manifestar em sonhos, fantasias, ou mesmo em padrões comportamentais, afetando como vemos o mundo e nos relacionamos com os outros. De uma geração para outra, por meio de processos como a identificação e a internalização, os traquejos e valores societários são passados de pais para filhos, criando uma continuidade, uma ponte entre o passado e o presente. Essa transmissão não é apenas um ato de preservação, pode ser uma fonte de conflito e tensão, especialmente, quando as memórias traumáticas não são adequadamente processadas.
Desvendando o esquecimento.
O esquecimento é como uma névoa pesada que envolve nossa memória, às vezes ocultando lembranças importantes ou detalhes do passado. Na psicanálise, exploramos as diferentes formas de ausência e desmemória, desde aquele ato deliberado, até lapsos de memória não intencionais, para entender como lidamos com o passado. Examinemos mais de perto essas duas facetas e como realizamos sua interpretação na clínica.
Esquecimento deliberado: A Repressão.
Falar do esquecimento proposital é também invocar a repressão, isso ocorre quando conscientemente empurramos lembranças e emoções insuportáveis para o fundo da mente. Estaria essa obra metaforicamente representada, como se estivéssemos trancando uma porta para evitar enfrentar o que se esconde atrás dela, para aquilo que é doloroso ou ameaçador. Alguém que passou por um trauma, pode reprimir essas memórias como uma forma de autopreservação, as mantendo fora da consciência para evitar a dor que carregam para si. Sabemos que a inibição é um mecanismo de defesa natural da mente para lidar com conflitos emocionais intensos. Assim, essas reminiscências recalcadas, continuam a exercer sua influência, muitas vezes se manifestando de maneira indireta via sonhos, lapsos de memória, chistes ou sintomas psicológicos, como ansiedade ou depressão. O trabalho do analista, é auxiliar o paciente a revisitar essas memórias desacolhidas para serem re-elaboradas de forma saudável.
Esquecimento não intencional: Lapsos de memória.
O esquecimento não intencional se refere a lapsos que ocorrem sem que haja uma intenção consciente de obliteração. Esses vácuos, podem acontecer por uma variedade de razões, como distração, estresse ou simplesmente falhas na recuperação da informação armazenada em nossa mente. Podemos esquecer o nome de uma pessoa que acabamos de conhecer ou onde colocamos às chaves do carro que a alguns minutos estavam em nossas mãos. Ditas imprecisões, deslizes, gafes de memória, são vistos como descobertas, mensagens, diligências de processos inconscientes que estão em jogo. Acreditamos que são uma forma de expressão do desejo inconsciente, onde a mente revela o que está abstruso por trás da cortina da consciência. Por exemplo; esquecer o aniversário de alguém, pode ser uma forma de protesto do interesse dele(a) em esquecer ou evitar dita celebração dessa pessoa.
Memória e identidade.
Como um baú de tesouros, nossa memória é cheia de lembranças que plasmam quem somos e como vemos o mundo. Ela desempenha um papel crucial na formação de nossa identidade e senso de self. O tecido que envolve essa formação é como uma colcha de retalhos, feita de experiências, emoções e relações que acumulamos ao longo da vida. São os fios que costuram esses retalhos, pedaço a pedaço, más, juntos, formando uma narrativa coesa de personalidade, e como chegamos a ser, nós identificamos e projetamos. Desde as memórias de nossa infância até os eventos mais recentes, elas suturam, cirzam e cosem essa tarimba da trajetória de vida, delineando e criando uma visão panorâmica de si e da dimensão global universal. Como autores de nossa história, construímos uma biografia que dá sentido às nossas vivências e nos ajudam a entender quem somos. Essa linguagem própria e singular não é apenas uma lista de eventos cronológicos, mas sim, um balaio de significados e emoções que atribuímos às nossas memórias. Podemos, por essa trilha, reinterpretar um evento traumático do passado como uma fonte de força e resiliência, dando uma nova acepção a essa crônica pessoal. Às narrativas que construímos podem ser instigadas por memórias reprimidas, desejos inconscientes e padrões de comportamento repetitivos. Ao revisitar essas lembranças e explorar sua conexão com a identidade, podemos começar a reconstruir uma produção mais autêntica e coerente de existência. Elas são como a argamassa que sustenta toda nossa identidade e nos ajudam a dar sentido às nossas vidas. Através dessa sondagem memorial, podemos reorganizar nossa fábula, prosa e ficção pessoal.
Memória e envelhecimento.
Chegar a terceira idade é como participar de uma jornada através do tempo, onde memórias se tornaram uma riqueza peculiar que esculpiram e formaram nossa identidade. A relação que entendemos clinicamente entre memória e envelhecimento é heterogênea, com desafios únicos, como a demência e a doença de Alzheimer, mas também, oferecem oportunidades para preservar nossa analogia na senilidade. À medida que nos dirigimos para vetustez, é natural que nossa memória passe por mudanças. Podemos perceber que aconteçam lapsos memoriais mais frequentes e dificuldade em evocar detalhes específicos dessa peregrinação e giro pela vida. Para algumas pessoas, esses reveses podem se agravar, levando a condições de saúde psiquicamente comprometidas, onde sua perda é mais grave e afeta significativamente a rotina. Reconheço que essas mudanças análogas podem ser difíceis de enfrentar, por estarem inerente e profundamente ligadas à nossa identidade e ao senso de self. À medida que esquecemos pormenores sensíveis da nossa existência, podemos, ainda, ser invadidos por sentimentos de desconexão de quem éramos e da história que construímos.
Preservação da identidade.
No entanto, a psicanálise nos lembra que nossa identidade vai além das nossas memórias conscientes. Mesmo quando ela falha, ainda podemos manter uma sensação de continuidade e coesão. Isso ocorre porque nossa identidade é montada não apenas com base em eventos passados, mas também por relacionamentos, valores e aspirações. Destaco a importância de encontrar formas de salvaguardar nossa personalidade na velhice, mesmo diante dos desafios da memória. Isso pode incluir atividades que nos agregam com outras pessoas, como contar histórias, participar de grupos sociais, atividades físicas coletivas, deixando consequentemente um legado positivo para as gerações futuras. Ao manter essas ligações e atividades significativas, fortalecemos nossa função cognitiva e encontramos crédito na fase tardia. Enfrentando esses embates com compreensão e apoio, podemos envelhecer com dignidade e resiliência, nos mantendo ativos e funcionais em nossa verdadeira essência. Independentemente das mudanças e restrições naturais que possam advir pelo traquejo inevitável do desgaste físico inevitável.
A memória na clínica psicanalítica.
O esquecimento de impressões, experiências e vivências, na maioria das vezes, se reduz a um simples bloqueio delas. Quando o paciente se refere a esse desmemoriamento intencional ou não, deixa raramente de acrescentar. Sejam eles por eventos traumáticos ou reprimidos que continuam a exercer preponderância, modelando pensamentos, sentimentos, hábitos e condutas.
Vejamos isso nas palavras de Freud:
“A memória é o armazém de nossas experiências.”
“Os esquecimentos reais são raros; mais frequentemente, o que se supõe olvidar é apenas um encobrimento.”
“O passado é tudo o que não está presente.”
Não é raro que o paciente exteriorize sua desilusão por não conseguir lembrar o suficiente das coisas que poderia reconhecer como assuntos deixados para trás, elementos dos quais nunca mais pensou depois que aconteceram. Destarte, essa suposta nostalgia, também será satisfeita via às histerias de conversão. Verifico, também, outra restrição relevante das ''memórias encobridoras''. Quando trabalhamos a amnésia infantil, ela é contrabalanceada por essa instrumentação, articulando que não apenas tenta se proteger de algo essencial dessa fase, mas sim, de tudo o que é sua base primaria pueril. Eles vão se formar e aglutinar como um conjunto impecavelmente construído aos anos infantis supostamente esquecidos, assim como o conteúdo manifesto dos sonhos estão para os pensamentos imaginários e oníricos. Na neurose obsessiva, o esquecimento muitas vezes se limita à dissolução de conexões e o isolamento dessas memórias. Para tal, experiências ocorridas quando crianças, apenas podem ser levantadas e conhecidas por meio dos sonhos.
Resistência a análise.
A superação a resistência se inicia pelo ato de tornar evidente aquilo que não se expressa, que por sua vez, deve ser repassado ao analisado(a), que nunca deseja tomar contato com ela ou simplesmente não a capta. Verifico que muitos psicanalistas iniciantes confundem esse começo com a análise na sua totalidade. Por esta razão, será imprescindível criar e desenvolver o senso cronológico, dar tempo ao paciente para que se inclua nessa decisão de resistir, e refazê-la, obedecendo à regra analítica da técnica. O analisado(a), será imerso no trabalho conjunto, alavancando suas mobilidades pulsionais reprimidas que o/a suprem, de cuja extensão e permanência ele(a) se atesta em virtude da sua própria prática. A reelaboração dos entraves, pode se tornar uma tarefa melindrosa e fatigante para o analisado(a), embora, é a parte do trabalho que produz o maior efeito transformador.
''Entre os escombros da memória e os abismos do esquecimento, a psicanálise ergue pontes para a reconciliação com o passado e a libertação do presente''. Dan Mena.
O nó borromeano.
Como sempre faço leitura, Lacan amplia as ideias freudianas, então ele acrescenta;
“O inconsciente é estruturado como uma linguagem.”
“A memória é uma ilusão de continuidade.”
“O passado não cessa de não se escrever.”
A análise não se limita à recuperação de memórias individuais, mas também envolve a desconstrução dos sistemas simbólicos que moldam nossa experiência. O conceito de “nó borromeano lacaniano”, representa a interconexão entre o simbólico, o imaginário e o real. Sugere que a memória é tecida dentro desses registros compostos. Ele descreve essa inter-relação dos três momentos psíquicos fundamentais: anotados acima. Esse conceito deriva do emblema heráldico da família Borromeo; (família nobre italiana que desempenhou um papel significativo na história da Itália e da Igreja Católica), seria composto por três argolas entrelaçadas de tal forma que, se uma argola fosse removida, as outras duas se soltam.
Cada uma dessas designações; (simbólico, imaginário e real) são distintas, mas, estão interligadas de uma maneira tal, que mudanças em uma, afetariam às outras duas. Esse nó, representa a dependência mútua entre ditas referências.
Simbólico; Seria à dimensão linguística, cultural e social da nossa experiência. É o domínio das palavras, símbolos e significados que estruturam a realidade do sujeito.
Imaginário; Diz respeito à dimensão das imagens, das identificações e das relações especulares. Ele está associado à formação do eu e das identidades baseadas em imagens e ideais.
Real; É aquilo que não pode ser simbolizado ou representado plenamente, é o domínio do trauma, do corpo e das experiências que escapam à linguagem e simbolização.
A análise deve considerar essa correlação, para que se possa compreender a experiência da raça e os conflitos psíquicos que nos acometem. “O inconsciente é inteiramente redutível a um saber, e o mínimo que pressupõe o fato de poder ser interpretado”. “Esse saber do qual o inconsciente é uma escrita, se mostra entre dois significantes, representando o sujeito, ou seja, segundo a realidade”. Esses dois pontos fundamentais; que o inconsciente funciona como um saber, e só pode ser acessado por meio de um trabalho de rememoração. Que em segunda leitura; só existe o sujeito quando ele(a) se fala ou escreve, significando, o qual é esse movimento entre significantes. (Wunsch-Desejo).
“Entre memórias e lembranças, a psicanálise propõe a inscrição simbólica que permite esquecer aquilo que não é possível deixar de lembrar”. Lacan.
Desse modo, se introduz o sujeito no tempo do seu desejo.
Finalizando, fica muito transparente que nossa memória está diretamente conectada e relacionada ao inconsciente, então, ela se faz letra quando invocada. Se estabelece, se inscreve no discurso, na narrativa e significações compartilhadas. Seu saber, só se torna memória no momento em que incompetentes de fazer sua leitura, a traçamos, desenhamos e grafamos com palavras. Nesse enunciado, surge uma mensagem inconsciente, que vem à luz como uma ligação sonora, rachando, despedaçando aquele sentido objetivado.
Como diria Eluard;
“Outro mundo surge aí, desorganizando os lugares dos implicados, como uma dança cósmica de realidades entrelaçadas.” Interpreto assim; como alguém que antecipa sua direção, seu norte no ato de expressar, o que antes não era recordável.
Ao poema; Lembrança e Memória
por Mario Quintana.
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança... mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
Até breve, Dan Mena.
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199.
Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.
Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University - Florida Departament of Education - USA. Enrollment H715 - Register H0192.