Do Córtex da Neurociência ao Divã da Psicanálise
- Dan Mena Psicanálise
- 16 de dez. de 2024
- 19 min de leitura
Atualizado: 15 de abr.

A interface entre a neurociência e a psicanálise é um distrito que fascina, nos interpela como profissionais interessados no avanço do conhecimento mental. O tema que escolhi, “Do Córtex da Neurociência ao Divã da Psicanálise”, considera analisar brevemente, não apenas os progressos científicos, mas também nossa rica tradição psicanalítica que, há mais de um século, alumia os aspectos superabundantes da subjetividade do ser. Pretendo assim, promover um diálogo entre essas duas disciplinas, não como concorrentes, que certamente não são, mas como colaboradoras medulares na busca por respostas às questões da consciência e do inconsciente.
"Entre o córtex cerebral e o divã, encontramos o território híbrido onde a biologia e a subjetividade se entrelaçam, criando uma nova topografia da psique." — Dan Mena.
A neurociência, reúne um arsenal de tecnologias de ponta e descobertas importantes, nos oferece uma apreciação detalhada sobre os processos cerebrais que sustentam pensamentos, emoções e comportamentos. No entanto, é possível compreender completamente o ser apenas pelo prisma da biologia? Como explicar os desejos inconscientes que povoam a mente, traumas reprimidos e a riqueza simbólica dos sonhos?
A psicanálise, por sua vez, é esse universo do icônico e simbólico, que investiga os significados que transcendem a lógica cartesiana e que não podem ser traduzidos por ressonâncias magnéticas. Assim, surge a pergunta: como integrar essas abordagens para criar uma epifania mais completa da psique?
"Trazer a neurociência ao encontro da psicanálise é aceitar que o sapiens é tanto uma máquina de pulsos neurais quanto uma teia de desejos reprimidos." — Dan Mena.
Para além da teoria, a conexão entre neurociência e psicanálise oferece benefícios práticos inestimáveis. Estudos recentes confirmam que traumas emocionais podem não apenas marcar a psique, mas também moldar circuitos cerebrais, influenciando padrões de comportamento ao longo da nossa vida. Nesse contexto, a análise atua como um instrumental preponderante para ressignificar experiências dolorosas, enquanto a neurociência evidencia as bases biológicas dessas mudanças. Como essas perspectivas podem ser utilizadas de maneira complementar no tratamento de transtornos como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)?
"Enquanto a amígdala armazena os ecos do trauma, o divã oferece o espaço para reelaborar suas marcas no inconsciente." — Dan Mena.
Logo devemos nos perguntar: O que é a mente? Seria ela apenas uma emergência das conexões neurais, ou algo que transcende a matéria, que poderia se situar entre o domínio do simbólico e do inconsciente? Tanto uma matéria quanto a outra, ao longo de suas trajetórias, buscaram obter respostas para essas questões primordiais. A neuropsicanálise, campo que abrange essas disciplinas, desafia conceitos clássicos e convida à reflexão: como o inconsciente freudiano se relaciona com as redes cerebrais que operam fora da consciência? Quais são as implicações clínicas dessa posição integrada?
Um exemplo dessa via cruzada é a memória, um fenômeno eixo para ambas estruturas disciplinares. Enquanto a neurociência pesquisa e investiga como traumas podem ser armazenados em conformações como a amígdala e o hipocampo, a psicanálise trabalha na importância de elaborar essas memórias no ‘’setting terapêutico’’. Será que uma abordagem integralizada, que combine técnicas psicanalíticas e ferramentas neurocientíficas, pode revolucionar a forma como tratamos memórias traumáticas?

Não podemos deixar de fora os sonhos, um dos alicerces da psicanálise, que são vistos como uma auto estrada de acesso ao inconsciente. Já, por outra perspectiva, a neurociência tem se dedicado a apurar os estados cerebrais associados ao sono REM e à formação das narrativas oníricas. Com esses dois enfoques na mesa, podemos dialogar para elevar nossa compreensão sobre os sonhos? Poderiam os estudos neurocientíficos fornecer novas pistas sobre os significados simbólicos que a psicanálise tão bem maneja?
"Memórias traumáticas habitam tanto os sulcos do cérebro quanto as narrativas reprimidas da mente; a integração dessas perspectivas é nossa chave para a libertação." — Dan Mena.
Outro ponto de encruzilhada reside na psicopatologia.Transtornos como a esquizofrenia, a depressão e os transtornos de personalidade apresentam tanto dimensões biológicas quanto figurativas. Como discorrer nessas condições de maneira holística, considerando os aspectos neurobiológicos e os conflitos inconscientes que as sustentam? A convergência entre neurociência e psicanálise pode ser a chave para criar intervenções mais eficazes e sustentáveis. Natureza, cultura e mente, possuem dicotomias históricas no estudo da psique. Somos moldados por estruturas genéticas e o contexto milenar do social em que vivemos. Como uma perspectiva ajustada entre ambas poderia ampliar nossa compreensão do tema, nos permitindo enxergar o ser em toda a sua multiplicidade?
Essa possível hibridização nos leva a considerar importantes implicações éticas. Até onde nossa compreensão pode chegar sem simplificar excessivamente a mente? Como evitar o reducionismo e minimalismo que pode transformar a psique em um mero conjunto de processos neurais, ou a abstração extrema, que ignore as bases biológicas em favor de uma aproximação puramente metafórica? A passagem relacional do córtex da neurociência ao divã da psicanálise, tanto pode ser um empreendimento intelectual quanto uma busca por compreender mais cavada e articuladamente nossa condição. Que novas possibilidades poderiam surgir dessa convergência? Poderíamos estar à beira de uma nova era de entendimento sobre a mente? As respostas residem, como sempre, na interseção entre disciplinas, ideias e prismas. Boa leitura.
O Papel do Córtex Pré-Frontal: Racionalidade e Controle Emocional.
Para compreendermos a relação entre racionalidade e controle emocional precisamos escalar territórios escabrosos, de forma a alcançar o topo da montanha como o rol essencial do córtex pré-frontal. Este segmento cerebral, situado na região frontal do crânio, é regularmente descrito como o epicentro do pensamento crítico, da tomada de decisões conscientes e do gerenciamento emotivo. A sua relevância na formação da nossa experiência como sapiens supera o contexto orgânico, interferindo diretamente no modo como nos relacionamos, interpretamos o mundo e somos conduzidos pelas adversidades cotidianas.
Mas o que torna o córtex pré-frontal tão capital em nossa existência? Como essa estrutura configura o equilíbrio entre razão e emoção? Essas questões envolvem um universo onde a neuroplasticidade e os mecanismos de regulação emocional emergem como grandes protagonistas.
"O córtex pré-frontal é o julgador silencioso entre razão e emoção, governando nossas decisões e formatando a maneira como circulamos pela vida." — Dan Mena.
Estrutura e Função: O Portal da Consciência.
Esse elemento desempenha um papel executivo das nossas ações, que incluem planejamento, inibição de impulsos, regulação emocional e julgamento moral. Tais funções tornam possível que não apenas possamos reagir aos estímulos imediatos, mas também ponderar quanto às consequências dos atos, nos adaptando às demandas de ambientes complicados. Essa capacidade de observação é particularmente importante na mediação entre desejos inconscientes e normas sociais. Essa conexão midiática entre ambas articulações permite que ele atue como um moderador, avaliando situações potencialmente ameaçadoras e ajustando reações e comportamentos.
Será que é essa arbitragem que nos diferencia de outras espécies em termos de conduta social e elaboração da moral?
O dualismo entre razão e emotividade tem sido muito investigado por filosofias e ciências ao longo dos séculos. No entanto, o avanço das neurociências demonstra que essas dimensões não são assim tão antagônicas, portanto se complementam. O córtex pré-frontal é a raiz para equilibrar essas forças, permitindo que as emoções sejam filtradas pela razão e que as decisões racionais possam considerar esse choque.
"A regulação emocional do córtex pré-frontal é o alicerce da convivência social, tornando possível que enfrentemos as adversidades sem perder a compostura." — Dan Mena.
Quando confrontados com escolhas difíceis, como priorizar uma carreira ou uma relação pessoal, o córtex pré-frontal analisa previamente as implicações de cada opção. Simultaneamente, as emoções e sentimentos fornecem instantaneamente informações inestimáveis sobre valores e desejos pessoais. É possível imaginar um mundo onde essa integração não ocorra? Como nossas decisões seriam arranjadas apenas pela racionalidade fria ou pela emoção desenfreada?
Essa capacidade de regular emoções negativas, como raiva ou frustração, permite que possamos manter relações saudáveis e resilientes. Por outro ângulo, a disfunção nesse sistema pode levar a comportamentos impulsivos e prejudiciais, como explosões de ira, raiva e agressividade ou empurrar para o isolamento social. Estímulos digitais e pressões sociais estão em constante aumento, onde sua função se torna ainda mais crítica. Como podemos portanto fortalecer essa área para enfrentar desafios afetivos atuais? "A capacidade de ponderar as consequências dos nossos atos não é uma dádiva do acaso, mas a função refinada de um cérebro que negocia entre impulsos inconscientes e normas sociais." — Dan Mena. Uma das descobertas mais significativas da neurociência contemporânea é a capacidade do cérebro de se reorganizar através da neuroplasticidade. Isso significa que, mesmo diante de disfunções, o córtex citado pode se fortalecer por meio de experiências e intervenções específicas. Por exemplo, indivíduos que praticam meditação frequentemente mostram maior espessura cortical nesta região, refletindo maior capacidade de foco e equilíbrio. Essa capacidade de transformação também pode ser questionável eticamente.
"O avanço tecnológico e a influência das redes sobre o cérebro nos bloqueiam de uma reflexão crítica: como podemos usar a neuroplasticidade para promover a adaptabilidade, e não apenas a exploração das nossas fragilidades?" — Dan Mena.
Até que ponto podemos ou devemos modificar intencionalmente nossas funções cerebrais para atender a ideais culturais ou profissionais? Existe um limite para o que a neurociência pode fazer em termos de aprimoramento da raça?
A era digital trouxe novas formas de interação, mas também aumentou o estresse, a ansiedade e os transtornos relacionados à sistematização emocional. Por exemplo, plataformas digitais frequentemente manipulam as respostas emotivas para nos engajar, o que pode sobrecarregar o córtex e prejudicar sua função operacional. Como podemos então criar ambientes mais sadios que promovam a resiliência em vez de fazer exploração dela? É possível alinhar o avanço tecnológico com o bem-estar psíquico?
“A neuroplasticidade é uma prova viva de que a mente é uma obra em progresso, nunca limitada ao presente.” — Dan Mena.
O Inconsciente Freudo-Lacaniano na Era da Neurociência.
Desde sua fundação, a psicanálise se estabeleceu como um campo de investigação sobre os mistérios da mente. O inconsciente, axis do nosso conceito, emerge como a instância que expõe as tramas ocultas dos quereres, desejos, angústias e impulsos que esculpem essa intangibilidade. Na era da neurociência, um novo fulgor é lançado sobre essa caracterização ao confrontar as teorias de Freud e Lacan com os avanços tecnológicos e descobertas cerebrais. Como o inconsciente freudo-lacaniano pode ser compreendido à luz dos mecanismos neuro científicos contemporâneos? Essa pergunta, embora ambiciosa, é o fio condutor deste aparte que faço.
Freud descreveu o inconsciente como um reservatório de conteúdos reprimidos que, mesmo fora do alcance direto da nossa consciência, influenciam nossas ações e pensamentos. Lacan, por sua vez, reformulou essa compreensão ao situar o inconsciente na linguagem, no simbólico, enfatizando que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Nesse quadro, o sujeito é falado pelo inconsciente, cujas manifestações são enigmáticas e sensivelmente fragmentadas.
"O avanço da neurociência nos desafia a compensar os limites éticos da transformação do ser humano." — Dan Mena.

A neurociência, advém com uma visão materialista das funções cerebrais, buscando entender como padrões neuronais sustentam os estados mentais. Estudos de neuroimagem, por exemplo, sugerem que processos inconscientes podem ser detectados por alterações em regiões como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, responsáveis pela tomada de decisões e outras regulações. Mas, como essas descobertas dialogam com a ideia de um inconsciente dinâmico e simbólico, além do meramente biológico?
Se o inconsciente freudo-lacaniano opera no campo da linguagem e dos significados, enquanto a neurociência lida com sinapses e circuitos, não seria essa uma dicotomia irreconciliável? Ou, pelo contrário, seria possível estabelecer uma ponte entre essas visões? Aqui reside então uma das grandes provocações deste tempo: como integrar a dimensão simbólica do inconsciente com as bases materiais da mente?
"Entre sinapses e significados, o cérebro traduz o inefável em padrões que jamais compreenderemos por completo." — Dan Mena.
Uma das contribuições mais fascinantes das disciplinas é a ideia de que o cérebro processa informações de maneira similar à linguagem. Redes neurais, operam com base em padrões, associações e relações que, de certo modo, saltam a noção lacaniana de um inconsciente estruturado linguísticamente. Pesquisas apontam que o significado é criado no cérebro por meio de conexões entre várias regiões, refletindo portanto um processo de interpretação constante. A neurociência evidencia a existência de mecanismos automáticos e inconscientes que governam decisões e condutas. Estudos sobre vieses cognitivos mostram que a maior parte das escolhas que realizamos ocorre sem a participação consciente, desafiando a crença na racionalidade como fundamento das ações. O que esses dados dizem então sobre a relação entre desejo, linguagem e os processos neurais que sustentam o psiquismo?
Bom, é possível imaginar que o inconsciente lacaniano, com sua insistência no desejo como motor do sujeito, encontre uma ressonância na neurociência ao considerar o circuito dopaminérgico – ligado à recompensa e à motivação – aclimatando os comportamentos e a busca por satisfação. No entanto, aqui se levanta uma questão intrigante: até que ponto a neurociência consegue acessar o que Lacan denominava de “o Real” – aquela dimensão inefável do inconsciente que escapa à simbolização e ao conhecimento?
À primeira vista vejo os potenciais frutíferos de um diálogo interdisciplinar. A neurociência traz evidências empíricas que podem enriquecer o discernimento dos fenômenos descritos pela psicanálise, enquanto esta oferece uma estrutura interpretativa para os dados neurocientíficos, os colocando num contexto existencial e impalpável. Dando um exemplo, a investigação sobre memórias reprimidas e a capacidade do cérebro de reorganizar experiências ressoa com a ideia psicanalítica de re-elaboração e cura. Da mesma forma, a percepção de que os padrões de conexão neuronal mudam com base na experiência e na reflexão pode ser interpretada como uma base biológica para os efeitos da associação livre no divã.
"Conectar o Real lacaniano às redes neurais é como buscar o infinito no finito: fascinante, mas inalcançável." — Dan Mena.
Por isso, nossa insistência como psicanalistas na singularidade de cada sujeito – naquilo que escapa à generalização científica – que aponta para os limites de qualquer tentativa de reduzir o inconsciente à pura atividade neuronal. O que há portanto no sapiens que resiste à mensuração e à objetividade? Essa é uma das questões mais conturbadas para este diálogo. A aceleração tecnológica e o culto à produtividade, é um lugar onde o inconsciente permanece como um lembrete incômodo de que nem tudo é controlável ou visível. A neurociência, com sua capacidade de mapear a mente, é vista como um caminho para a superação do enigmático. Contudo, a psicanálise persiste, que o desejo que nos acompanha é irredutível a esquemas sinópticos e neurais.
"A tentativa de quantificar o inconsciente é como medir o vento: ele sempre escapa entre os dedos da ciência." — Dan Mena.
Que impacto essas ideias têm sobre nossa compreensão de identidade, autonomia e sofrimento? Será que, ao buscar traduzir o inconsciente em dados quantificáveis e binários, não perdemos de vista sua dimensão poética e transformadora? Como essas questões induzem e se entrelaçam com as práticas clínicas e a forma como nos relacionamos com nossa própria subjetividade?
É inevitável que eu conclua, que o inconsciente freudo-lacaniano, mesmo na era da neurociência, permaneça um terreno fertil de indagação, investigação e estudo. Mesmo que possamos acolher neste tempo as contribuições dos campos digital e tecnológico, é básico preservar o mistério que nos torna tão singulares. Afinal, como diz nossa máxima:
O inconsciente nunca “encerra” o sujeito – ele apenas inaugura novas formas de interrogação e descoberta.
Cérebro e Psique.
Existe um paradoxo fascinante entre cérebro e psique: como podemos traduzir o mundo emblemático e etéreo da mente em processos neurobiológicos tangíveis? Esse abismo entre a ciência da neurociência e a arte da psicanálise, tem sido cada vez mais pesquisada fecundamente entre os métodos. A partir da leitura cuidadosa do tema, compreendemos que o cérebro não é apenas uma máquina que processa estímulos externos; ele é, sobretudo, um repositório dinâmico. A psique, por sua vez, é onde essas vivências e experiências ganham cor e significado. Essa dualidade se manifesta na prática clínica quando, no divã, tentamos acessar tais tramas subjetivas dos nossos pacientes.
A Linguagem do Cérebro e a da Psicanálise.
O cérebro possui sua própria linguagem, cifrado em impulsos elétricos e sinapses químicas, que regulam desde as funções motoras até as emoções. Na psicanálise, no entanto, a linguagem é outra: trata-se de simbolizações e narrativas. Essa dicotomia é desafiadora, mas também frutífera. Um dos avanços entre neurociência e psicanálise é a ideia de que memórias de traumas podem ser “impressas” no cérebro em níveis não simbólicos, mas, ao mesmo tempo, rearticuladas através da palavra.
"A neurociência mede o trauma; a psicanálise lhe dá voz." — Dan Mena.
Eventos estressantes podem alterar a estrutura do hipocampo, região cerebral relacionada à memória e à estandardização. No consultório, esses mesmos lances se enunciam como narrativas fragmentadas, com lacunas que o paciente tenta preencher. Assim, podemos perguntar: o que o inconsciente psicanalítico tem a nos dizer sobre a organização neural do sofrimento? O trabalho clínico consiste em construir conexões, ligando os significados por meio da escuta analítica, ajudando assim a resgatar o que foi silenciado pelo trauma. O cérebro, nesse sentido, funciona como o cenário onde se elabora a peça teatral.
"Narrativas desagregadas no consultório são o reflexo de uma mente em busca de reconexão." — Dan Mena.
Estresse e Sofrimento.
O impacto do estresse estimula o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, responsável pela liberação de hormônios como o cortisol. Quando cronicamente ativado, esse sistema pode levar à exaustão das reservas emocionais e até mesmo a mudanças na conectividade entre regiões cerebrais como o córtex pré-frontal e a amígdala. E como o divã se insere nesse contexto? Ele é o espaço onde esses efeitos se manifestam como sintomas peculiares: ansiedade, apatia, insônia, angústia. Mais do que isso, é no encontro analítico que o paciente encontra uma oportunidade única de qualificar o que seu cérebro interpreta como ameaçador. Esse processo terapêutico não apenas alivia os sintomas, mas também promove uma reorganização na relação do sujeito consigo mesmo e com o mundo. A integração entre neurociência e psicanálise é uma via de mão dupla, neste diálogo: é possível reconciliar as diferenças epistemológicas entre o material e o simbólico para criar um modelo mais abrangente de compreensão? "A reforma neural começa com a reorganização do significado no discurso do paciente." — Dan Mena.
Sonhos, Memória e o Processo de Cura.
Os sonhos têm sido fontes inesgotáveis de fascínio e mistério. Que segredos eles guardam sobre nossa mente e emoções? Interpretados por muitos como mensagens divinas, símbolos do inconsciente ou manifestações de desejos reprimidos, permanecem em sua essência, um enigma. Hoje compreendemos sua importância, não simplesmente como narrativas subjetivas, mas também como fenômenos cerebrais intimamente ligados à memória e ao processo de cura psíquica. Como essas dimensões interagem? E como podem contribuir para a restauração do equilíbrio emocional?
"Os sonhos revelam o que o desejo esconde a memória preservada, uma coreografia entre o esquecimento e a gravação." — Dan Mena.

A Interseção entre Memória e Sonhos.
Os sonhos aparecem como um processo ativo durante o sono REM (Rapid Eye Movement), fase conhecida por sua alta atividade cerebral. Nesse estágio, o cérebro revisita e reorganiza memórias recentes, as consolidando em alguns casos, ou então as reformulando. Esta reorganização não é um ato mecânico; se trata de uma experiência alusiva. O que isso significa para o nosso bem-estar? Por que ele escolhe seletivamente certas memórias e não outras? A resposta é, que memórias emocionalmente significativas têm maior probabilidade de serem revisadas durante o sono REM, devido à ativação específica do hipocampo e da amígdala. Por exemplo, eventos traumáticos ou experiências intensamente emocionais tendem a surgir nos sonhos como parte de um processo de reestruturação e organização, plausível de resolução. Assuntos menos relevantes ou rotineiros podem ser descartados ou relocados de maneira menos consciente, permitindo que o cérebro priorize recursos para questões emotivas mais prementes.
Essa seletividade reflete a complexa interação entre necessidade biológica, contexto psicológico e estrutura neural.?"A seletividade dos sonhos refletem a sabedoria do inconsciente, priorizar o que necessita de atenção para a cura." —Dan Mena.
Na psicanálise sugerimos que os sonhos possuem uma função de "digestão psíquica". Memórias carregadas de emoção, principalmente aquelas que envolvem traumas, são revistas em busca de uma resolução simbólica. A neurociência corrobora essa perspectiva ao demonstrar que regiões do cérebro trabalham em sincronia durante o sono para integrar experiências emocionais ao nosso arcabouço de aprendizado. Assim, sonhar não é apenas uma função biológica; é uma trilha psíquica de reinterpretação e cura.
Mas será que conseguimos atingir todo o potencial terapêutico dos sonhos?"Sonhar é a arte do inconsciente e do cérebro de esculpir a experiência em aprendizado e superação." — Dan Mena.
O Papel Emocional.
Os sonhos nos duelam com suas situações inesperadas que desafiam a lógica cotidiana.
O que eles estão tentando nos dizer? Em muitos casos, essas histórias imaginárias trazem à tona sentimentos reprimidos ou negligenciados no estado de vigília. Por que tantas vezes ignoramos ou desvalorizamos essas mensagens? No quadro terapêutico, acessar esses conteúdos inconscientes e trabalhar questões mal resolvidas. Quando relatamos um sonho, estamos de certa forma reconstruindo suas memórias e abrindo um espaço protegido, onde a linguagem icônica prevalece sobre a racionalidade. Isso permite que emoções labirínticas sejam expressas sem as barreiras impostas pelo consciente. Como podemos, então, incentivar uma escuta mais atenta aos nossos próprios sonhos?
"Na terapia, o sonho é um mensageiro que guia o paciente na permanência de si mesmo." — Dan Mena.
Perturbações, especialmente aquelas associadas a eventos dolorosos, muitas vezes deixam marcas indeléveis. Essas experiências podem ser distorcidas, como se o cérebro buscasse nos proteger de sua intensidade. Entretanto, durante o sono, esses fragmentos podem reaparecer, tentando se agrupar e encontrar um lugar num contexto mais amplo. Qual é o rol deles nesse processo de busca por integração? O sono REM pode atuar como um "terapeuta interno", permitindo que reminiscências agoniantes sejam processadas com menos ativação do sistema de alerta emocional. Isso sugere que sonhar sobre um determinado padecimento pode, paradoxalmente, aliviar o sofrimento associado a ele. Mas até que ponto estamos preparados para lidar com essas pautas aflitivas?
"Enfrentar os retalhos oníricos do trauma refletem nossa disposição de reconstruir o que foi quebrado." — Dan Mena.
O Divã como Espaço de Reconexão.
Ao trabalharmos com sonhos em terapia, como psicanalistas assumimos o papel de facilitador, ajudando o paciente a traduzir a linguagem devaneante em narrativas compreensíveis. Isso não significa impor interpretações rígidas, mas oferecer um lugar onde o sonhador possa adentrar em seus significados pessoais. A análise de sonhos requer um olhar que vá além da lógica aparente. Por exemplo, um sujeito que sonha com um labirinto pode estar explorando sentimentos de confusão ou perda de direção em sua vida. Destarte, essa mesma imagem pode representar uma caminhada de autodescoberta. Qual é a chave para decifrar essas nuances?
"Um labirinto vivido em sonhos pode ser tanto a prisão quanto o caminho da liberdade, dependendo da lente do sonhador." — Dan Mena.
O Impacto Social e Contemporâneo.
Na sociedade atual, onde o tempo de descanso é constantemente sacrificado em prol da produtividade, os sonhos têm sido negligenciados como uma ferramenta de introspecção e cura. Como podemos valorizar novamente esse aspecto raiz da nossa experiência? A assimilação de que eles são um portal para nossas memórias pode incentivar práticas mais saudáveis de sono e concepção. Ademais, a hiperconexão digital e a exposição constante a estímulos podem interferir no nosso ciclo do sono, afetando negativamente sua qualidade. Quais são as implicações disso para a saúde mental coletiva? A desconexão de um sono reparador e, consequentemente, de sonhos restauradores, pode estar contribuindo para uma escalada de problemas psicológicos. A privação do sono REM, a fase na qual os sonhos mais vívidos ocorrem, está associada ao aumento de sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades na regulação emocional. Adicionalmente, a sobrecarga digital e a hiperconectividade diluem a capacidade de alcançar estágios avançados, impedindo que o cérebro processe memórias ou consolide aprendizados. Como essa desconexão coletiva da dimensão simbólica dos sonhos está influenciando nossa capacidade de lidar com estresse e adversidades diárias? Estaríamos nos distanciando de um recurso natural para a saúde mental? Ao unirem memória e emoção, funcionam como um elo entre o passado e o presente, entre o trauma e a cura. Eles nos convidam a enfrentar nossas vulnerabilidades com coragem e curiosidade, oferecendo uma oportunidade de transformação interior. Quando interpretados sob o guia da psicanálise e da neurociência, aparecem não apenas as demandas do inconsciente, mas também, caminhos para uma vida mais expressiva. Que lições podemos aprender ao olhar para dentro de nós mesmos através dos sonhos? Como a ciência e a psicanálise podem trabalhar juntas para aprofundar nossa compreensão sobre este fenômeno? "Sonhar é um ato de resistência contra a aceleração do tempo e a exaustão emocional da sociedade contemporânea." — Dan Mena.

O que está em jogo, ao levantar essa hipótese integrativa desses campos, não é apenas a busca por melhores respostas técnicas, mas a reinvenção da própria concepção de mente e sujeito. Quando perguntamos se a mente é simplesmente o produto de conexões neurais ou se ela transcende a matéria, estamos tocando no coração de uma das questões mais antigas. Contudo, a verdadeira insurreição desejada não seria apenas a possibilidade de melhorar tratamentos psicológicos ou psiquiátricos, mas uma reconfiguração de nossa compreensão sobre nós. O que significa de fato ser humano? Seremos apenas a soma de processos biológicos que podemos esquematizar e controlar, ou há algo mais, algo misterioso e não mapeável, que nos definem? Já que não temos a resposta científica, considero incluir estas respostas:
‘’Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: “Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?”. Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e com honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste.’’ — Salmos 8:3-6.
‘’Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.’’ — Gênesis 2:7.
‘’O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, que esquadrinha todo o mais íntimo do ventre.’’ — Provérbios 20:27.
O verdadeiro desafio não reside na possível integração técnica das duas disciplinas, mas em como seremos capazes de respeitar a biologia natural sem que a técnica, em seu afã de resolver problemas, reduza nossa experiência de vida a meras descobertas biológicas. Se a neurociência é capaz de agregar as estruturas que sustentam nossos estados mentais, a psicanálise oferece a chave para decifrar os significados que dão sentido a ambos estados.
O divã, assim, pode ser visto como o espaço onde essas duas dimensões se encontram."Não podemos tratar a psique como uma pesquisa a ser resolvida; seu intrincamento é justamente o que nos impulsiona a buscar incansavelmente seu sentido." — Dan Mena.
Na minha opinião, não somente podem coexistir, mas se interpenetram, se engrandecem e ampliam, juntas, podem abrir novas portas para o futuro da saúde mental, da psicoterapia e da compreensão mental. E, ao final, talvez possamos concluir que, ao integrar o córtex com o divã, descobrimos algo inédito sobre nós mesmos: uma psique que, olhando para seu hermetismo, nunca poderá ser completamente decifrada, mas que sempre será digna do nosso DNA, a busca inata por conhecimento.
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Fontes Utilizadas e Autores:
A Interseção entre Psicanálise e Neurociência – Mark Solms e Oliver Turnbull
O Cérebro e a Mente – Allan Schore
O Ego e o Id – Sigmund Freud
A Neuropsicologia do Inconsciente – Mark Solms
O Cérebro Emocional – Joseph LeDoux
Em Busca da Memória – Eric Kandel
O Cérebro Mindful – Daniel Siegel
Apegos e Perdas – Volume 1 – John Bowlby
O Corpo Guarda as Marcas – Bessel van der Kolk
Até breve, Dan Mena.
Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130. Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. A reprodução total ou parcial, distribuição ou adaptação dos materiais aqui publicados é permitida somente mediante o cumprimento das seguintes condições:
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