top of page

Culpa e Perdão: A Jornada da Cura Emocional.

Atualizado: 14 de jan.

"Reparação e Reconciliação: Perspectiva Psicanalítica"

"Reparação e Reconciliação: Perspectiva Psicanalítica"
Culpa e Perdão: A Jornada da Cura Emocional.

Você já se perguntou por que a culpa parece ser um sentimento tão persistente e, muitas vezes, paralisante? Por que, mesmo quando desejamos perdoar do fundo do coração – tanto a si quanto aos outros –, encontramos barreiras, montanhas internas que parecem intransponíveis? Esses são dois lados de uma mesma moeda emocional, seguramente moldadas pela singular história pessoal e pelas dinâmicas inconscientes que governam nossa mente. No entanto, elas não são apenas questões privadas, mas sim, relevâncias universais que atravessam cada um, todas as culturas, épocas e contextos. "Perdoar é se libertar da prisão emocional construída pelas mãos do ressentimento e da dor." – Dan Mena.

Vamos imaginar a seguinte situação: você está navegando pelas redes sociais e se depara com uma lembrança de um erro passado, algo que você preferiria ou gostaria de esquecer. Esse momento de exposição pública de uma falha pessoal pode desencadear uma espiral de remorso e autocrítica. Em um mundo onde a privacidade está se tornando cada vez mais escassa, lidar com tais emoções como a contrição se tornou um desafio quase diário para a maioria. Além disso, o ato de remir é assiduamente romantizado como algo simples, mas, na verdade, é um processo que exige muita pacificação, articulação e ponderação, um tripé sensível ao ser contemporâneo, lugar de difícil acesso quando se trata de relevar.   

Vivemos uma era em que as redes amplificam nossos equívocos e, simultaneamente, banalizam o ato de poupar o ‘’outro’’. A psicanálise – desde Freud até os pensadores atuais – nos mostram que essas expressões emotivas são mais intrincadas do que aparentam. Elas não residem apenas na superfície da nossa consciência, mas afloram das camadas sondas do inconsciente, carregando seus significados icônicos, simbólicos e arquetípicos.

"O transtorno da culpa é aliviado quando compreendemos que nossos erros não definem quem somos, mas como podemos evoluir com eles." – Dan Mena.
"A culpa não é um peso, mas uma bússola que aponta para os aspectos de nós mesmos que clamam por transformação." – Dan Mena.

"A culpa não é um peso, mas uma bússola que aponta para os aspectos de nós mesmos que clamam por transformação." – Dan Mena.

A culpa está enraizada na dinâmica do superego, uma das três estruturas psíquicas do modelo estrutural da mente, juntamente com o id e o ego. Desempenha o rol da instância moral e ética, representando as normas, valores e ideais internalizados a partir da convivência com figuras de autoridade, como os pais, cuidadores e com a sociedade como um todo, que internalizam essas regras impostas pela civilização, assim, elas julgam e regulam nossos comportamentos. Surgem portanto do conflito entre o id, que busca satisfação imediata dos desejos, e o superego, que impõe essas restrições e limitações aos princípios elaborados. Esse repto interno pode gerar angústia e desconforto psíquico, que muitas vezes é difícil de compreender e superar.

Indivíduos que experimentam altos níveis de culpa são mais propensos a desenvolver transtornos mentais e emocionais. Essa carga adicional pode se manifestar em comportamentos autodestrutivos e dificuldades nos relacionamentos interpessoais.

Mas como podemos usar essas ferramentas para nosso benefício? Como conseguimos aliviar esse embaraço da culpa e alcançar o perdão genuíno?

Vamos logo fazer a primeira parada no trem da vida e indagar: "Por que a culpa parece insuperável, invencível e irremovível?" ou "O que é necessário para perdoar de verdade?" Vou estimular sua reflexão, desmistificar conceitos e oferecer caminhos para a uma melhor assimilação do tema. "O transtorno da culpa é aliviado quando compreendemos que nossos erros não definem quem somos, mas como podemos evoluir com eles." – Dan Mena.

Em sua essência, pode ser vista como um mecanismo de sobrevivência psíquica, formatado pelas interações com figuras parentais e pela internalização das normas culturais que absorvemos durante a existencia terrena. No entanto, quando não resolvida, ela pode se transformar em um fantasma obstinado, que bloqueia o crescimento emocional. Buscar a reconciliação interna não é apenas um ato de autocura, mas também um movimento de libertação das amarras do passado. Por essa razão Nietzsche afirmou com a seguinte perspectiva: "O perdão é a vingança dos fracos". É realmente um ato de fraqueza ou uma expressão de força? Qual seria sua opinião a respeito? "A culpa mal compreendida se transforma em corrosão emocional; quando acolhida, um alicerce para a maturidade." – Dan Mena.

A experiência com a culpa e o perdão também é influenciada pelo contexto social. Em uma comunidade global que valoriza a perfeição e a meritocracia, pode ser exacerbada por expectativas irreais e pela constante comparação que fazemos com outros. Byung-Chul Han, em sua obra "A Sociedade do Cansaço", (sempre aprecio suas reflexões), argumenta que vivemos em um tempo onde a autocobrança e a busca incessante pelo sucesso geram sentimentos de inadequação, logo a culpabilidade. Nesse quadro, ela emerge como um ato de resistência, uma escolha consciente de abandonar a rigidez do superego e abraçar a compaixão.

A prática da autocompaixão é uma das estratégias mais eficazes para lidarmos com ela. Tratar a si mesmo com a mesma gentileza que oferecemos a um amigo pode romper esse ciclo vicioso de autocrítica e promover a tão libertadora cura emocional. Portanto, um caminho viável seria reconhecer que esse itinerário da culpa ao perdão é absolutamente pessoal e único para cada indivíduo. Seguindo aqui o que sabiamente Jung expressou: “O que negamos nos subjuga; o que aceitamos nos transforma.” – Jung.

"Perdoar não é esquecer, mas registrar com sabedoria, libertar o outro e a si mesmo da clausura da reprodução simbólica." – Dan Mena.
"Ao perdoar, não renunciamos à justiça, mas levamos tudo para o espaço restaurativo, onde a reconciliação é a mais nobre das vinganças." – Dan Mena.

Assim caros leitores, espero que este artigo seja o começo de uma incrível releitura pessoal, na qual eu também me incluo, um excelente convite para refletir, questionar e, acima de tudo, encontrar esse percurso de redenção. Boa leitura. "A culpa nos aprisiona ao passado, mas o perdão abre suas portas para elaborar um presente de libertação." – Dan Mena.

A Natureza da Culpa.

Qual é a verdadeira natureza da culpa? Será que é apenas um sentimento de remorso pelas ações cometidas ou há algo mais entranhado nela?  Melanie Klein, em seus estudos sobre posições esquizo-paranóides e depressivas, sugere que pode estar associada a fantasias inconscientes de destruição e reparação. Essa visão nos ajuda a entender por que pode ser tão persistente e difícil de lidar.

Lacan, por sua vez, nos oferece uma perspectiva diferenciada. Para ele, está ligada ao conceito de "Grande Outro" – a instância simbólica que regula e julga nossas ações. Nesse sentido, é algo que não apenas sentimos, mas que também nos é imposto pelo contexto em que estamos inseridos. "Não carregamos a culpa apenas pelo que fizemos, mas pelo que o 'Grande Outro' espera de nós, moldando nosso ser no tribunal invisível do simbólico." – Dan Mena.

A Natureza Interdisciplinar.

Para compreender completamente ambos os termos, é muito adequado adotar uma abordagem interdisciplinar, incorporando a psicologia, sociologia, teologia e filosofia. Essa perspectiva maior permite que consideremos suas múltiplas dimensões. "A interdisciplinaridade nos ensina que a culpa e o perdão são entrelaçados, entre ética, religião e sociologia, elas moldam nossa existência." – Dan Mena.

Por exemplo, a teóloga Miroslav Volf, em seu livro "Exclusion and Embrace", discute o perdão como um ato de reconciliação que vai além da justiça, promovendo uma nova forma de coexistência pacífica. Volf expõe, não se resume à renúncia de um ato de vingança, mas envolve a criação de um espaço para a renovação das relações, onde a justiça restaurativa substitui a retributiva. "Ao perdoar, não renunciamos à justiça, mas levamos tudo para o espaço restaurativo, onde a reconciliação é a mais nobre das vinganças." – Dan Mena.

Da mesma forma, Emmanuel Levinas vê o tema através da lente da ética da alteridade, onde o perdão é uma responsabilidade inalienável em relação ao outro. Para ele, a relação ética é a base da nossa humanidade, e a culpa emerge como um reconhecimento da intrínseca falibilidade e da obrigação para com o próximo. O perdão, nesse sentido, é um ato de transcendência que libera as amarras do decorrido e nos permite uma renovação.

Na sociologia é vista como um mecanismo de controle social. Sociólogos como Émile Durkheim e Norbert Elias pesquisaram amplamente como a culpa funciona para manter a coesão social, internalizando essas normas e valores que regulam a conduta. Nesse âmbito, pode ser entendido como uma ferramenta de reintegração social, que permite a restauração das relações rompidas e a reconstrução do tecido social. "Durkheim nos lembra que a culpa não é apenas uma emoção pessoal, mas um mecanismo que reflete a necessidade de pertencimento em sociedades regidas por normas compartilhadas." – Dan Mena. A psicologia, por sua vez, nos fornece uma compreensão detalhada dos processos internos que geram a culpa e facilitam o perdão. Teorias como a da ''dissonância cognitiva'' de Leon Festinger explicam como o desconforto entre crenças e ações pode levar a esses sentimentos, e como a resolução de tal discordancia pode ser alcançada através de mecanismos de autojustificação ou da mudança comportamental. Destarte, as abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia Focada na Compaixão (TFC), oferecem estratégias práticas e eficientes.

A psicanálise se beneficia enormemente dessa multiplicidade interdisciplinar, pois permite uma compreensão mais holística e integrada dos fenômenos psíquicos. A colaboração entre diferentes áreas do conhecimento enriquece a teoria e a prática da nossa clínica, sob novas perspectivas e métodos de intervenção. Ao integrar esses quadros, podemos abordar o tema de maneira mais abrangente, considerando não apenas os processos internos do indivíduo, mas também outros contextos subjacentes. "Perdoar não é esquecer, mas registrar com sabedoria, libertar o outro e a si mesmo da clausura da reprodução simbólica." – Dan Mena. A Dimensão Cultural.

Diferentes culturas têm normas, valores e expectativas distintos que moldam a forma como os indivíduos percebem e lidam com esses sentimentos. 

A Culpa na Cultura Ocidental.

Na cultura ocidental é internalizada como uma experiência pessoal e subjetiva. As normas religiosas e morais desempenham um elemento chave na formação do superego, que, por sua vez, regula essas vivências com a matéria. A tradição judaico-cristã, enfatiza a culpa como um reconhecimento do pecado e a necessidade de expiação. Esta concepção é sobremaneira enraizada na psique ocidental, que influencia tanto a prática religiosa quanto a ética secular.

Autores como Freud e Erikson discutiram como a interiorização dessas normas podem levar a embates. Freud, em particular, associou a culpa ao desenvolvimento do superego. Erik Erikson, ampliou o tema freudiano ao considerar a importância das etapas do desenvolvimento psicossocial. Assim, assinala que ele surge especialmente durante a fase da "iniciativa vs. culpa", que ocorre entre os três e os seis anos de idade. Nessa fase, a criança começa a desenvolver um senso de iniciativa, mas pode também sentir culpa ao perceber que certas ações ou impulsos são inaceitáveis para os padrões dos adultos. Essa lide entre a busca por autonomia e a necessidade de conformidade contribui para a formação da identidade e pode gerar persistente direcionamento. "A justiça restaurativa, ao substituir a retributiva, nos mostra que as verdadeiras reparações não são punitivas, mas relacionais, aquelas que promovem a paz." – Dan Mena.

A Culpa na Cultura Oriental.

Nas culturas orientais, a culpa é vista de uma maneira mais coletiva. As sociedades deste continente, como as japonesas e coreanas, valorizam a harmonia social e a interdependência dos indivíduos dentro da comunidade. Nesses âmbitos, tratar dela não é apenas uma questão de responsabilidade pessoal, mas também de manter o equilíbrio e a honra do grupo. A vergonha e a perda de face são componentes importantes na experiência deles.

O sociólogo Erving Goffman aborda isso em seu estudo sobre a apresentação do self na vida cotidiana. Ele argumenta que, em sociedades orientais, a culpa e a vergonha estão intrinsecamente ligadas às normas sociais e à necessidade de preservar a imagem pública. Isso implica que também é uma experiência coletiva, envolvendo a restauração da honra e da harmonia no grupo.

"Perdoar, na perspectiva filosófica, é considerar no outro uma alteridade inalienável, um chamado que transcende os limites do ‘’eu’’." – Dan Mena.
"A justiça restaurativa, ao substituir a retributiva, nos mostra que as verdadeiras reparações não são punitivas, mas relacionais, aquelas que promovem a paz." – Dan Mena.

O Perdão nas Diferentes Culturas.

Também varia amplamente entre culturas. No Ocidente, é visto como uma ação individual, uma escolha pessoal de liberar a raiva e a dor. Já nas culturas orientais, pode ser um processo comunitário, onde a reconciliação e a restauração das relações sociais são premissas fundamentais. "Perdoar, na perspectiva filosófica, é considerar no outro uma alteridade inalienável, um chamado que transcende os limites do ‘’eu’’." – Dan Mena.

Perdão Segundo Miroslav Volf.

Li "Exclusion and Embrace" deste autor, nas páginas deste livro fascinante, fui muito tocado pelas suas reflexões. Ele nos guia admiravelmente através de um terreno emocional e intelectual hermético, dando uma compreensão sobre o perdão como ferramenta que pode transformar tanto indivíduos quanto sociedades. "O perdão não é um ato passivo, senão uma revolução interna que desarma a exclusão e reconstrói caminhos para a dignidade compartilhada." – Dan Mena.

Ele começa descrevendo a alienação como uma das maiores instigações que enfrentamos nas relações interpessoais. Ao tratar o outro como um indesejável, desumanizado, nós o excluímos de nossa esfera de compaixão e justiça. Esse popular ''cancelamento'' é uma conduta que não se limita apenas às interações, mas que se estende a estruturas sociais, políticas e culturais. Tal prisma me fez considerar sobre as formas sutis e não tão tênues de segregação que ocorrem ao nosso redor e percorrem dentro de nós mesmos.

No centro da sua obra está a ideia de que o perdão é determinante para superar essa subtração social e promover a inserção. Ele nos desafia a enxergar o tema como algo muito mais alto do que simplesmente renunciar ao ressentimento. Entendi aqui, que perdoar é um movimento ativo em direção à reconciliação, não é apenas esquecer ou minimizar a ofensa, a traição, ou tudo aquilo que possa ser considerado como tal, mas sim aceitar plena e autenticamente o ofensor como um ser digno de compaixão e respeito. "Seguir o caminho da escusa é resistir à lógica do cancelamento, optando por uma ética de acolhimento." – Dan Mena.

A aproximação teológica de Volf fundamenta essa prática na doutrina cristã, destacando que, assim como Deus perdoa incondicionalmente, nós também somos chamados a perdoar uns aos outros. Esse entendimento como uma imitação do amor divino, oferece uma nova chance sem exigir nada em troca. Certamente, ele foi amplamente inspirado pelo filósofo francês Emmanuel Levinas, pois aborda o assunto através da ética da diversidade. Portanto, vejo nisso uma espécie de responsabilidade que temos em relação ao outro, uma resposta ao chamado ético. É também um estímulo provocativo que afronta a tentação de desumanizar aqueles que nos feriram e os que ferimos, e nos convida a reconhecer o semelhante de forma fraterna. "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas." (Mateus 6:14-15).

Ele não deve de forma alguma perpetuar a injustiça ou isentar os opressores de seus deveres. Em vez disso, devemos criar uma dimensão de justiça restaurativa, onde se abra o caminho para a reparação, restituição e a renovação das relações quebradas. Este é um conceito que ressoou intimamente em mim, pois lida diretamente com a possibilidade de reconciliação em um mundo imperfeito. "Ele não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões." (Salmos 103:10-12).

Volf usa a imagem do abraço como uma metáfora poderosa para a inclusão radical do outro. Esse acolhimento requer que abramos nossos braços e coração, simbolizando a disposição de receber o outro integralmente, apesar das suas transgressões. Esse gesto não é apenas metafórico, mas prático, exige sim um compromisso ativo com a construção de uma comunidade baseada na consideração do semelhante. "A alegoria do abraço, tão poderosa em Volf, nos ensina que o perdão não exige conivência com o erro, mas presume coragem para acolher o ‘’outro’’, como um gesto de empatia." – Dan Mena.

O perdão liberta o ofendido do encapsulamento emocional do ressentimento e da amargura, permitindo uma vida mais autêntica. No nível social, tem o potencial de romper ciclos de violência e retaliação, promover a paz e a justiça a longo prazo. Logo, praticado de forma genuína, pode ser uma força poderosa para a mudança positiva. Destarte ele seja um defensor firme do perdão, também reconhece seus quadrantes limitadores. Pode ser extremamente difícil sua aplicação, especialmente em casos de ilegalidades graves e traumas hediondos. No entanto, devemos insistir, que o perdão, embora exigente, é primordial para a cura em qualquer norte.

"O perdão é a semente que, ao germinar, quebra as correntes do passado e liberta a alma. Sua verdadeira força reside na capacidade de restaurar o que foi perdido, sem jamais ignorar a justiça." – Dan Mena.

O Impacto da Culpa e do Perdão.

Tenho refletido bastante sobre o impacto da culpa, aprendi que ela não é simplesmente algo a ser superado, mas sim uma força psíquica, uma singularidade cravada na história pessoal das nossas interações e relações com o “outro’’, logo, isso inclui um espectro muito personalizado. Quando me deparo com questões que envolvem o tema, percebo o quanto isso realmente atua em nossas vidas de maneira intensa e, muitas vezes, inconsciente.

Quando não integrada ou resolvida, pode ser um arcabouço, que pode nos manter aprisionados a um passado que não conseguimos deixar ir. E, ao mesmo tempo, sinto que temos a chave para abrir a porta. Mas, ao contrário do que muitos acreditam, o perdão não é algo que simplesmente oferecemos ao outro. A reconciliação é sempre um processo que exige antes que nada, tempo, depois sim, trabalho, reflexão e renovação com nossas experiências mais dolorosas.


"Perdão não é uma dádiva que oferecemos ao outro; é um processo interno que nos exige confrontar nossas próprias sombras, aceitar a dor e buscar a cura, para então estender um gesto de reconciliação legítima." – Dan Mena.

Como analista fui além, entendendo que não é uma simples denúncia de atos, mas uma manifestação de desacordos internos. Como mencionei anteriormente, o superego, com sua necessidade de controle, cria uma vigilância constante sobre nossas ações e pensamentos. Cada erro, cada falha, é apontada em nosso nariz, criando uma oportunidade para a culpa se manifestar. Em algumas pessoas, essa sensação vira autocensura e autojulgamento. Mas, ao mesmo tempo, esse mesmo superego que aponta, é necessário para a formação da moralidade. O problema surge quando ele se torna excessivo, e se sobrepõe ao ego gerando aflição. A culpa, nesse caso, não está relacionada a um erro ou falha real cometidos, mas sim a uma percepção distorcida do que é “certo” ou “errado”, geralmente exagerados. "A culpa, em sua forma mais destrutiva, nasce da sobrecarga de um superego que não admite falhas e, ao se sobrepor ao ego, se perde na ilusão de perfeição." – Dan Mena.

O perdão em relação ao outro segue mais ou menos uma dinâmica muito semelhante. Quando alguém nos machuca, a culpa não procede apenas do ato cometido, mas da nossa incapacidade de lidar com o desgosto causado. Perdão, nesse contexto, não seria assim uma simples concessão, mas uma escolha de se livrar da mágoa, de deixar de carregar aquele peso do rancor e o ódio. Para ser genuíno, exige uma conversão, ele não anula o erro do outro, mas permite que a relação se renove, que o vínculo seja arranjado de uma maneira saudável, então, a vida segue. Esse remendo, por assim dizer, não é fácil de aplicar, pois muitas vezes nos sentimos extremamente golpeados (as) e a mágoa toma conta. No entanto, ao admitir perdoar, estamos permitindo que o laço se restabeleça, seja qual for, e evolua positivamente. "Culpa real e fictícia se confundem no campo da psique, mas apenas a compreensão de ambas podem nos permitir distinguir o que realmente precisa de reparo e o que pertence à nossa própria projeção fantasiosa." – Dan Mena.

É importante salientar também a diferença entre culpa real e fictícia. A culpa real está relacionada a ações ou omissões que, de fato, causaram dano a nós ou aos outros. Já a culpa ficcional impõe uma sensação, essa que surge sem uma base concreta, habitualmente originada de expectativas e pressupostos projetados ou de um superego demasiado crítico. "Perdoar não é esquecer, mas uma decisão de não permitir que o rancor dite a direção de nossas vidas; é um ato corajoso de buscar a evolução do vínculo, mesmo diante da dor." – Dan Mena.

Ambos, culpa e perdão, são partes naturais e primitivas do homo sapiens. A culpa, quando entendida e integrada, pode se tornar uma mentora para o crescimento pessoal, enquanto o perdão, quando legítimo, oferece emancipação.

"Sede bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo." (Efésios 4:32).

"Eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro." (Isaías 43: 25).
"O perdão é a semente que, ao germinar, quebra as correntes do passado e liberta a alma. Sua verdadeira força reside na capacidade de restaurar o que foi perdido, sem jamais ignorar a justiça." – Dan Mena.

O Poder do Perdão na Perspectiva Divina.

O perdão não apaga a dor, mas a ressignifica; não elimina o passado, mas o reintegra à história pessoal de forma que ela possa ser vivida sem a destruir. E assim, o ciclo de culpa e perdão se tornam não apenas uma trilha individual, mas uma força coletiva. Ele existe como um lembrete de que somos todos, em última análise, interligados por nossas vulnerabilidades, fragilidades e imperfeições compartilhadas, e também, da nossa capacidade infinita de amar e recomeçar às fases.

Este assunto é um atributo central do nosso criador, conforme escrito em inúmeras passagens bíblicas. Deus é misericordioso e compassivo, sempre disposto a poupar aqueles que se arrependem de coração. Esse ângulo, nos oferece uma penetração espiritual da fé ao ato de perdoar, sugerindo que, ao perdoarmos uns aos outros, estamos imitando o caráter divino e acolhendo a graça que nos é oferecida, gratuita e incondicionalmente.

"Eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro." (Isaías 43: 25). Palavras-chave:

Byung-Chul Han, A Sociedade do Cansaço. Miroslav Volf, Exclusão e Abraço. Sigmund Freud, O Mal-Estar na Civilização. Melanie Klein, Inveja e Gratidão. Emmanuel Levinas, Totalidade e Infinito. Erik Erikson, Infância e Sociedade. Norbert Elias, O Processo Civilizador. Émile Durkheim, As Regras do Método Sociológico.

Até breve, Dan Mena. 

Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 — CNP 1199. Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 — CBP 2022130.

Dr. Honoris Causa em Psicanálise pela Christian Education University — Florida Departament of Education — USA. Enrollment H715 — Register H0192. Todo o conteúdo deste site, incluindo textos, imagens, vídeos e outros materiais, é protegido pelas leis brasileiras de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) e por tratados internacionais. A reprodução total ou parcial, distribuição ou adaptação dos materiais aqui publicados é permitida somente mediante o cumprimento das seguintes condições:


I - Citação obrigatória do autor: Daniel Mena ou Dan Mena

II - Indicação clara da fonte original: www.danmena.com.br

III - Preservação da integridade do conteúdo: sem distorções ou alterações que comprometam seu significado;

a - Proibição de uso: O material não poderá ser utilizado para fins ilegais ou que prejudiquem a imagem do autor.

b - Importante: O uso não autorizado ou que desrespeite estas condições será considerado uma violação aos direitos autorais, sujeitando-se às penalidades previstas na lei, incluindo responsabilização por danos materiais e morais.

c - Contato e Responsabilidade

Ao navegar neste site, você concorda em respeitar estas condições e a utilizar o conteúdo de forma ética. Para solicitações, dúvidas ou autorizações específicas: Contato: danmenamarketing@gmail.com +5581996392402

 
 
 

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page