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Autoerotismo Feminino.

Atualizado: 22 de set. de 2024



''Todo prazer é erótico''. Freud - por Dan Mena.

Havelock Ellis em 1910 foi o primeiro a introduzir e cunhar o termo autoerotismo, este vocábulo que envolve a mente e o corpo, consegue produzir pensamentos ou sensações sexuais, sem a necessidade de estímulos externos. Assinalado como um aspecto natural de cada indivíduo, inclui todos os comportamentos que geram e provocam prazer sexual, isso compreende, orgasmos durante o sono, também o narcisismo, (conceito da psicanálise que define o ser que admira exageradamente a sua própria imagem, e desse modo nutre uma paixão excessiva por si). Assim, o autoerotismo, é apresentado como uma possibilidade autogerida de prazer individual, que alberga a excitação, tesão, líbido, volúpia, fantasias, sonhos, explorações, desejos e liberdade, uma possibilidade de satisfação mental ou física, que não provém imperiosamente de um estímulo externo, não se reduz à masturbação, mas, pode também estar ligado ao narcisismo e a atividades conectadas a prazeres autônomos. Felizmente, falar hoje sobre este assunto, já não carrega o mesmo peso do tabu arcaico, onde não é raro nas publicações periódicas se tratar abertamente sobre esta abordagem.


É habitual… a que se deve? É o meu tema da semana. Por Dan Mena.


A gaudibilidade, (capacidade de experimentar prazer), um termo bem recente, portanto, é natural que nem tenha ainda tradução para o português, particularmente dei este entendimento que pondero bem adequado. Considerando a formação da palavra, a versão mais natural, a meu ver; que fala do desfrute, que no se limita ao sexual ou autoerótico, senão a possibilidade de obter satisfação em diferentes situações. Padrós, Herrera e Gudayol (2012), a definem como; ''aquilo que engloba todos os processos mediados entre estímulos e o gozo que as pessoas experimentam, ou seja, um conjunto de moduladores que regulam sensações subjetivas de experiências gratificantes em maior ou menor grau de intensidade, por períodos mais ou menos prolongados''. Assim, quanto maior for a gaudibilidade, súpera a probabilidade de entretenimento, satisfação e entusiasmo. Um nível elevado dessa prática, implica numa experiência frequente e intensa de prazer, que, por sua vez, aumenta e melhora outros moduladores do comprazimento sexual, gerando um espiral positivo em direção ao bem-estar, segundo releio, (Fredrickson e Joiner, 2002).


Onde tudo começa.


Em 1905, Freud, na sua obra “Três ensaios sobre uma teoria sexual”, salienta como as primeiras impressões sexuais do nosso desenvolvimento deixam traços profundos na vida anímica, condição circunstancial para se tornarem determinantes para a evolução e avanço sexual posterior, e que o eclipse evasivo ou a fuga dessas impressões infantis, se deve a uma mera retirada da consciência, conhecida como a repressão, (a repressão é um mecanismo mental inconsciente, pelo qual as ideias ou os impulsos indesejáveis e inaceitáveis para a consciência são suprimidos por ela e impedidos de entrar no estado consciente). Este material indesejável não está geralmente sujeito à recordação voluntária consciente. Esta espécie de desmemória dos traquejos sexuais infantis, leva o (homem) a realizar esforços para esclarecer o mistério da sua sexualidade, recorrendo a intuições, experiências e conhecimentos pré-concebidos, para tentar dar sentido à sua experiência sexual subjetiva, conforme (Jaida 2001). O autoerotismo, é afinal um conceito desenvolvido por Freud, para descrever um tipo de sexualidade orientada para o próprio corpo, sem dispor do objeto externo.


O que é o autoerotismo para Butler (2017); Neste ano, ele define o autoerotismo como; ''a excitação e satisfação que se relacionam com a euforia e frenesi sexual, gerado pela própria pessoa, muitas vezes, através da masturbação''.


Clinicamente o autoerotismo é considerado um método de prevenção, uma vez que médicos e sexólogos o defendem como uma forma de sexualidade segura, que proporciona liberdade sexual e reduz o risco da gravidez indesejada, enquanto, ao mesmo tempo, preserva da contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, (Espitia e Torres). A educação sexual mais abrangente, não deve ser direcionada para a proibição e o medo. Se faz necessário separar o prazer das questões da sexualidade, matéria que tem gerado muito debate, sobretudo nas questões de gênero, onde os corpos das mulheres e homens estão no palco das principais discussões, através dos mandatos de gênero, sobretudo das mulheres, que tem visto negado seu espaço de prazer, como se o acesso ao próprio corpo fosse forçado a obter satisfação apenas se vier de um terceiro.


''O autoerotismo, é uma ferramenta válida como elemento emancipatório, forma um elo de transformação das reclusões que foram socialmente geradas como consequência dos estereótipos de gênero''. (Galán e Macías, 2019; Macías e Luna, 2018).


Um tabu que começa na infância.


Nos primeiros anos de vida, surgem às sensações corporais, recepcionadas através da estimulação genital, seja de forma involuntária ou indireta, acontecem, seja atritando partes íntimas com objetos, almofadas ou simplesmente utilizando o impulso muscular das coxas. Nesta fase, pais ou cuidadores, podem se incomodar com ditos gestos, sobretudo, quando tais comportamentos não ocorrem de forma privada ou na presença de estranhos. Este desconforto, carrega uma falsa implicação popular, na crença de que crianças e idosos não possuem sexualidade. Neste processo de crescimento e conhecimento do corpo, presenciamos a primeira forma de discriminação, onde a autoestimulação masculina é mais bem tolerada do que a feminina. No entanto, críticas negativas, reprovação e censura, vão repercutir na forma de culpa e vergonha, criando uma extensão projetada de medo e temor do prazer sexual. Nas últimas fases do crescimento, adolescentes são muitas vezes educadas para se absterem de si, em qualquer tipo de exploração sexual. De qualquer forma, será inevitável que vasculhem sua sexualidade, confrontando-se com seus pares, procurando informações na internet, indagando nos seus grupos sociais, em cursos de educação sexual, pedindo dicas para amigas mais íntimas e experientes, para construir assim a sua identidade sexual e erótica. Do ponto de vista prático, conceber que a sexualidade não é um evento instantâneo, e, portanto, necessita de integração a vida, e não deve ser radicalizado. Um ponto de equilíbrio, pode ser encontrado no acolhimento como um processo natural do indivíduo, que evolui com seus ciclos e etapas ligadas ao crescimento. Assim, se considerarmos o entendimento e sua compreensão, será muito salutar para às partes involucradas. Abrir o dialogo, principalmente a escuta, propiciam ao processo, uma mansidão de imperturbabilidade sobre o tema da masturbação na fase precoce desse progresso.


Na adolescência, pode ser importante lembrar;


Dissipar os falsos mitos sobre as razões que levam mulheres a se masturbarem.

Saber explicar os benefícios da masturbação feminina.

Dissipar ideias erradas, como a de que demasiada masturbação causa infertilidade feminina.

Configurar o senso de equilíbrio entre prazer e patologia.


Nos casos em que o autoerotismo, perde o seu carácter prazeroso ou em que, apesar de o praticar, ocorre anorgasmia feminina,

(transtorno do orgasmo feminino, ou anorgasmia, nome dado ao sintoma, onde mulheres possuem dificuldades de atingir o clímax durante a relação sexual ou o sentem em baixa dimensão, diminuída). Dita ausência de prazer, demora em atingir o orgasmo ou atenuação da intensidade, quando mesmo desejante e contando com a excitação e estímulos adequados. Portanto, vale a pena indagar o que está errado? Que tipo de insatisfação envolve, como é sentida tal decepção? É, o que seria necessário para alcançar a conciliação consigo mesma. Existe um motivo consciente ao qual atribui a frustração? Qual?


O termo sexualidade contém uma dimensão fundamental para o ser humano, ancorado e baseado no sexo, incluindo o gênero, a sexualidade e identidades, a orientação sexual, o erotismo, a ligação, o laço, o amor e a reprodução se fundem. O vivemos sob uma extensa e variada expressão polimórfica, na forma de pensamentos, cultura, valores, papéis, relações, fantasias, atividades, práticas, desejos, crenças, atitudes e afetos. É o resultado da interação psicológica, biológica, social, familiar, econômica, ética, religiosa e espiritual. Já o erotismo, sensualidade e voluptuosidade, não são exercícios idênticos na concepção de desempenho para homens e mulheres, suas diferenças acarretam e causam efeitos distintos em ambos, originam hierarquias e valores desarmônicos, com ações aceitáveis e inaceitáveis de parte a parte. Para a psicanálise, sem a investigação, não é possível pensar essa constituição da sexualidade no sujeito, sem antes, o psicanalista configurar um claro panorama das relações que o(a) mesmo(a) estabeleceu ao longo de sua história emocional, familiar e sexual. Desde suas primeiras teorizações, Freud situa e posiciona o inconsciente em um lugar de matriz medial na compreensão da sexualidade. Aqui sinaliza claramente, que a inserção do indivíduo na sociedade exige abdicações, desistências e abandonos pontuais, dotados sob circunstanciais congêneres aos nossos desejos sexuais originais e mais primitivos. Desta forma, estabelece a constituição do desejo no lugar alto do conflito psíquico moderno. A existência de obstáculos e barreiras, se traduzem inevitavelmente mais tarde em sintomas, pela mediação de uma série de recursos sistemáticos e afetivos, que transfigurados e mascarados de afetos e expectativas daquilo que foi negado, como acesso à sua transformação em atividade consciente pela repressão, (Freud, 1905). Consequentemente, os sintomas que deslizam pelo desejo e o impulso sexual, rivalizam com a repulsa sexual. A masturbação feminina e o autoerotismo, pela ação voluntária intrínseca na procura pelo prazer sexual através da estimulação de zonas erógenas, esta deixando para trás os modelos estereotipados culturais anacrônicos. Para as mulheres, a masturbação pode ser uma prática sexual de autoconhecimento, que ao ampliarem na sua consciência corporal, se apropriam devidamente de benefícios psicológicos, comportamentais e físicos, ensejando aumento da qualidade de comunicação com os laços sociais. Na sua livre percepção da dinâmica do ato, poderão decidir se é uma atuação desejável, querida, positiva ou não, que permanecerá além das experiências alheias.


''Na masturbação feminina, o que importa é o grau de satisfação sexual e a percepção de bem-estar, sendo que o autoerotismo, também é visto como um facilitador da satisfação quando se opta por estabelecer algum tipo de relação sexual com outra pessoa''. Cavendish.


A OMS Europa, no documento standard for sexuality, afirma: ‍


“A educação sexual também faz parte de uma instrução mais abrangente, e influência o desenvolvimento da personalidade da criança. O carácter preventivo da didática sexual não só ajuda a evitar possíveis consequências negativas relacionadas com a sexualidade, como também pode melhorar a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar, contribuindo assim para a promoção da saúde em geral”.


Por que o tabu sobre o autoerotismo feminino?


Numa sociedade fálica (se refere ao falo; relativo ao órgão reprodutor masculino: símbolo fálico), onde as mulheres eram vistas como passivas no que diz respeito à sexualidade, particularmente ligadas à sua função reprodutiva e familiar, uma crença conectada à ideia de ser uma parceira dedicada aos homens, e onde a masturbação era percebida como uma atividade puramente masculina. Durante muito tempo, foi inimaginável que mulheres obtivessem prazer individual. Nesta leitura, a masturbação feminina era recebida como uma forma de ocupação de vazios emocionais, usada para lidar diligentemente com situações estressantes. Por volta de meados do século passado, foram surgindo bases conceituais liberais para a melhor compreensão do prazer feminino, reposicionado tanto o papel social da mulher, quanto seu desembaraço do suposto rol dependente de um terceiro na sua experiência sexual, partindo então para a ação exclusiva e irrestrita da sua escolha e opção.


É porque as mulheres se masturbam?


Quando uma mulher se masturba, promove a libertação de dopamina, que melhora o humor, a qualidade do sono e aumenta a gratificação sexual. Os benefícios da masturbação feminina podem ser fisiológicos e psicológicos ou ambos combinados.


A masturbação é boa para as mulheres? Por quê?


Reduz a probabilidade de infecções do trato urinário, uma vez que ajuda a expulsar e eliminar colonias de bactérias do colo do útero;

Alivia a tensão e reduz consideravelmente o stress;

Mantém os tecidos elásticos e saudáveis;

Diminui as dores musculares;

Reduz a probabilidade de perdas involuntárias de urina;

Reforça o tônus muscular nas zonas pélvica e anal.


Um efeito positivo importante no ato, é que o autoerotismo implícito, ajuda a libertar e a desinibir a mente, permite à mulher ter mais confiança em si própria, na elevação da autoimagem e no seu corpo.


Mulheres e a masturbação.


— As mulheres se masturbam segundo pesquisas recentes, em média, dois dias por semana, enquanto a média dos homens é de quatro.

— Quarenta por cento, admitem utilizar brinquedos sexuais, enquanto 60% utilizam apenas as mãos. No caso dos homens, apenas 10% utilizam brinquedos sexuais.


‍Quando é que a masturbação feminina pode ser um sintoma de problema psicológico?


A masturbação pode se qualificar como uma forma de lidar com o rancor, a raiva, frustração e ansiedade, e ser usada para confrontar dificuldades. Com o tempo, pode se tornar uma ferramenta instrumental que responde a outros aspectos psicológicos para além da necessidade de prazer. Pode ser vivida e experienciada como um sedativo natural e, na sua psique ser associada entre a ansiedade e suas preocupações, desencadeando por vezes, um círculo vicioso perigoso de extravasão. Quando a autoestimulação assume características obsessivas e compulsivas, afetam a esfera relacional da pessoa em várias direções, por exemplo; se transforma num sintoma de dependência sexual, que no aspecto feminino está para a ninfomania, (incapacidade de controlar o impulso sexual. Embora não esteja oficialmente listado como uma perturbação mental, a hipersexualidade pode adquirir um lugar incapacitante para o indivíduo. A compulsão sexual pode ser determinada quando existe uma necessidade imperiosa, urgente e irracional, introduzido por um ciclo assiduamente repetitivo, que conduz a mulher a masturbar-se reiterada e sistematicamente durante o dia.


Quais seriam as consequências desta disfuncionalidade?


Diminuição do desejo sexual;

Isolamento social;

Fadiga crônica;

Evitar ter relações sexuais;

Ansiedade progressiva.


A sexualidade pela nossa visão psicanalítica.


A vida sexual concreta de um adulto não é, normalmente, aquilo que os psicanalistas trabalhamos num tratamento com um cliente, a não ser, que seja o sintoma para o qual o paciente recorre, se queixa, ou que a forma específica de expressão da sexualidade dessa pessoa dificulte e crie problemas em outras áreas da sua vida. No tratamento psicanalítico, as formas como um indivíduo experimentou as satisfações e frustrações da sua sexualidade na infância, irão aparecer nas suas formas de sentir, pensar e agir. De outro ângulo, Guerreschi (2007), aborda a distinção entre uso e abuso, entre normalidade e patologia. O tema é dividido em várias direções: quando trata das consequências físicas das adicções, como distúrbios do sono, fadiga, baixa imunidade, alimentação irregular, sexo virtual, masturbação excessiva e perversões nocivas. Guerreschi, situa a questão como uma combinação dos modelos sistêmico-relacional e cognitivo-comportamental, vindo em oposição à abordagem psicanalítica. Uma personalidade dependente, diz o autor; ''onde propõe centrar a atenção na relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, como um processo único e particular''. Ao definir a dependência, entre o poder da substância e o que lhe é atribuído pelo sujeito. Ele afirma que ''a dependência se constrói numa circularidade de necessidades e significados''. Propriedades da experiência de uso do objeto que retroalimenta suas causas, reestruturando a autopercepção; assim, um sujeito com suas necessidades, vive no encontro com o objeto, uma experiência particular de reestruturação de si. A partir deste ponto, surge uma certeza individual de ter encontrado um lugar a resposta fundamental das suas carências e desejos essenciais, que não podem ser satisfeitos de outra maneira. (GUERRESCHI, 2007).


Cada uma das zonas erógenas tem associada a si determinadas formas de relacionamento consigo, e com os outros que têm a ver especificamente com o prazer e o desprazer, associados a esse espaço e extensão. Num desenvolvimento saudável, nenhuma destas áreas terá sido tão prazerosa ou negativa, que o indivíduo tenha se fixado a essa forma de obter prazer, porque era o máximo que conhecia pela sua experiência ou porque nunca tinha o suficiente. No entanto, se tiver havido dificuldades de desenvolvimento, pode não ser capaz de se mover livremente entre as muitas formas de obter satisfação, ficando preso num sistema sexualmente empobrecido. O mesmo acontece com a relação de amor, identificação e hostilidade com os pais ou cuidadores. Se a pessoa não pôde amar, rejeitar, renunciar, aproximar, emparelhar, alcançar a identidade paterna num grau satisfatório, permanecerão fortes os desejos retidos nesse nível de desenvolvimento, que irão sobrecarregar suas relações pessoais, de trabalho, amizade e afetos.


No tratamento psicanalítico, o analista e paciente, formam uma aliança previamente pré-estabelecida, (transferência), (a psicanálise se utiliza do fenômeno da transferência para, e através da mesma, conhecer e interpretar as fantasias de conflitos do inconsciente nele contidos e expressos, promovidos via técnicas legadas por Freud, são elas;


Associação Livre, como regra fundamental;

Atenção flutuante;

Abstinência;

Neutralidade.


Assim, sob esta metodologia, procuramos a dissolução dos fenômenos transferenciais primários que adoecem nossos vínculos, onde serão convocados ambos, (cliente-analista) a um trabalho conjunto, para libertar o paciente destas limitações, através da sua compreensão profunda, e para ela ou ele, possam desfrutar de uma sexualidade mais alargada, rica, diversa e prazerosa, tanto no sentido psicanalítico como na acepção habitual.


A masturbação é mais uma prática nas relações sexuais, que não deve substituir em hipótese alguma às relações de casal. Se isso acontecer, é necessário consultar um profissional, visto ser muito provável que tal comportamento esconda outro tipo de patologias, como a dependência, depressão, baixa autoestima, esgotamento e estresse, entre outras diversas possibilidades.


Concluindo, ditas descobertas freudianas no campo da mulher, (feminilidade), são altamente relevantes, definitivas até este ponto atual, visto que é fonte primária de referências de consulta científica, onde continuam sendo sustentáveis como base fundamental de estudo das problemáticas psíquicas contemporâneas. Quando ele aborda essencialmente suas pesquisas sobre a feminilidade, lhe atribui o termo “continente obscuro”, o que demonstra que nem para ele o tema foi esclarecido e elucidado. Claramente, Freud denota sua insatisfação com a natureza inconclusa das suas explorações. Em seus “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, de 1905, anotado no início do meu artigo, onde escreveu; ''a vida sexual dos homens somente se tornou acessível, enquanto a das mulheres, ainda se encontra mergulhada em impenetrável obscuridade'' (1972). Observa ainda mais tarde, bem posterior aos ensaios originais, que a vida sexual das mulheres adultas e maduras, permanecem no manto das trevas para a psicologia, e diz; ''que nunca encerrou a questão sobre a sexualidade feminina''. Acentua e enfatiza, na XXXIII Conferência sobre feminilidade que “através da história, as pessoas não encaixam perfeitamente o enigma da natureza da feminilidade” (1932), acrescentando: “aquilo que constitui a masculinidade ou a feminilidade é uma característica desconhecida, que foge do alcance da anatomia”. Na sua proposta crítica e visionária, na observação da feminilidade como existência em si, até a puberdade, a infere de um monismo sexual, (o monismo sexual, seria a hipótese de existir um só e mesmo aparelho genital, como a primeira das teorias sexuais, que carrega em sua concepção a importância da particularidade para a feminilidade, é, que o único órgão sexual reconhecido pela criança nos dois sexos, é o órgão masculino, ou seja, o pênis). Outra importante contribuição faz Lacan, que dá uma extensão ao processo de estruturação feminina, que na decorrente falta de um ''significante'' capaz de nomear a mulher, vai definir a sexualidade em termos de posições, feminina e masculina, repassando a todo ser falante sua decisão de ocupar uma das duas posições, as quais, não se encontram de fato vinculadas ao sexo biológico. Pela leitura lacaniana da feminilidade, podemos interpretar melhor o que Freud tentou dar uma definição, ao dizer que;


“O desejo que leva a menina a voltar-se para o seu pai é, sem dúvida, originalmente o desejo de possuir o pênis que a mãe lhe recusou e que agora espera obter do seu pai” (1933).


A partir desta interessante releitura que faço, entendo claramente, que a hábil posição feminina se caracteriza fundamentalmente por sua capacidade de se dirigir a um ''Outro'', inclusive inqualificável, capaz de fazer com que algo ou alguém, se torne presente na sua fantasia ou mesmo torná-lo/a real. Nas entrelinhas descubro como homem, o quanto há de divino ou maquiavélico no universo feminino, como competente que é, a mulher, de se satisfazer com um gozo definido ao seu bel-prazer. Sendo mística e ascética, em pró de si mesma, pode individualmente, simultânea ou independentemente, ainda lançar seu descortinar para o campo masculino.


''Não posso ver mérito algum em se ter vergonha da sexualidade''. Freud.


Vamos ao poema de Maria Teresa Horta;


Masturbação


Eis o centro do corpo

o nosso centro

onde os dedos escorregam devagar

e logo tornam onde nesse

centro

os dedos esfregam - correm

e voltam sem cessar


e então são os meus

já os teus dedos


e são meus dedos

já a tua boca


que vai sorvendo os lábios

dessa boca

que manipulo - conduzo

pensando em tua boca


Ardência funda

planta em movimento

que trepa e fende fundidas

já no tempo

calando o grito nos pulmões da tarde


E todo o corpo

é esse movimento

que trepa e fende fundidas

já no tempo

calando o grito nos pulmões da tarde


E todo o corpo

é esse movimento

em torno

em volta

no centro desses lábios


que a febre toma

engrossa

e vai cedendo a pouco e pouco

nos dedos e na palma.


Por Dan Mena, até breve. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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