A Verdade.
- Dan Mena Psicanálise
- 20 de out. de 2023
- 12 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
A Verdade é uma Construção sob a Perspectiva de Lacan e a Influência da Linguagem. Desvendando a Verdade na Psicanálise. O Que é Verdade? "Eu, a verdade, falo" Lacan. Por Dan Mena.

A Construção da Realidade Subjetiva. Experimentamos um certo deleite ao desafiar as normas do juízo, ao questionarmos as leis do entendimento e desconsiderar a lógica, por essa via somos levados a uma jornada muito intrigante. Essa satisfação se vê ampliada, quando verificamos que a verdade é permeada pela ambiguidade. A questão se devemos aceitar ou não suas consequências equidistantes, lugar do dilema ético, esse que tem confundido pensadores ao longo dos séculos. Ao proferirmos uma fala de maneira supostamente imprecisa ou assertiva; a pessoa que a ouve deve acolher as suas decorrências, independentemente do que foi dito? Por outro lado, há uma verdade última que merece ser compartilhada de forma inquestionável? A história revela, que a noção de veracidade é dinâmico, que evolui com o tempo de acordo com mudanças sociais e culturais. Ela não é uma entidade monolítica, mas uma construção articulada e multifacetada, cuja compreensão foi moldada por filósofos ao longo dos séculos. À medida que adentramos, tanto nas perspectivas antigas quanto contemporâneas, somos lembrados da necessidade contínua de uma reflexão e diálogo sobre a natureza do corpo linguístico. Ao examinarmos às diferenças distantes do que pode ser a verdade, encontramos diferentes planos de leitura. Platão, por exemplo, via a verdade como algo eterno e transcendental, uma realidade que transcende a sua indeterminação. Aristóteles, enfatizava a sua correspondência com a realidade, o que implica que ela seja dúbia, dependendo das circunstâncias. Kant, por meio de sua “Crítica da Razão Pura,” introduziu a ideia de que é talhada pela experiência e pela razão, sugerindo que a sua busca é inerente à natureza da compreensão do ser. Pensadores como Foucault, questionaram sua objetividade e argumentaram que é esculpida pelo poder e as estruturas de autoridade da sociedade. “A verdade é uma coisa deste mundo: ela é produzida apenas pelo conflito entre múltiplas forças.” Nas discussões sobre pós-verdade e desinformação, a sociedade atual lida com desafios crescentes em relação à sua natureza. A internet e as mídias sociais a tornaram vulnerável e suas interpretações ainda mais divergentes, susceptíveis a grandes manipulações. Na psicanálise é uma área de estudo fascinante, já que sua indagação é uma das forças motrizes por trás do próprio processo terapêutico. Lacan nos trouxe um novo enfoque que revolucionou todas as acepções ao introduzir sua caracterização pela linguagem e a estrutura simbólica. A verdade não é uma entidade fixa diz ele; ''uma construção que varia conforme o contexto e a narrativa do sujeito''. É sempre parcial e está sujeita à interpretação. “A verdade só pode ser articulada através das estruturas linguísticas e simbólicas que moldam nossa compreensão do mundo.” (Lacan, 1966). Não está para além da palavra; antes, a verdade para nós é produzida pela sua relação com ela mesma, como aquilo que se subtrai, dizer que algo também lhe escapa e gera por sim uma falta imanente, isto é, não transcendente. Essa verdade da qual nos apoiamos na clínica é aquela que foge a narrativa como um excesso da linguagem, mas na mesma medida que ela é dita. Boa leitura.
“A verdade é inconclusiva, uma jornada entre o eu e o outro se entrelaçando num balaio de dualidades construídas pela interação com a linguagem.” Dan Mena.
Transbordando a psicanálise, vejamos outros ângulos em suas diferentes formas;
Correspondência: Sustenta que uma afirmação é verdadeira se corresponder ou se ajustar aos fatos ou à realidade objetiva. É uma das concepções mais comuns da verdade.
Coerência: Foca na consistência lógica e na relação entre as afirmações. Segundo essa teoria, uma afirmação é verdadeira se ela se ajustar e for coerente com um sistema de crenças ou conhecimento mais amplo.
Pragmática: Relacionada à utilidade e à eficácia de uma afirmação, na prática, está acoplada e agrupada à sua capacidade de funcionar de maneira eficaz em um determinado contexto.
Relativa: Pode variar conforme o ponto de vista, cultura, contexto e percepção individual. O que é verdadeiro para uma pessoa ou grupo, pode não ser verdadeiro para outro/s.
Subjetiva: Subjetivamente depende da experiência e da percepção individual, lugar onde alguém considera o verdadeiro, aquilo que está relacionado com sua perspectiva tridimensional de vida.
Por que acreditamos sermos donos da verdade?
Egocentrismo: Uma tendência natural de ver o mundo apenas do próprio ponto de vista pode nos levar a acreditar que nossas crenças e âmbitos são os mais corretos e coerentes. Isso nos faz sentir que estamos “certos”, por extensão, que possuímos e somos detentores da verdade.
Segurança: Buscamos resguardo, salvaguarda, amparo e estabilidade, acreditamos que ao possuirmos a verdade nos apropriamos de uma falsa sensação de proteção e defesa, já que nossa estrutura cognitiva nos transmite uma inabalável conformidade para compreender o mundo, e assim nos sentimos protegidos.
Confirmação: O viés confirmativo é a tendência de buscar, interpretar e lembrar informações de maneira a assegurar nossas próprias posturas preexistentes. Essa obliquidade pode nos fazer ignorar ou descartar informações que contradigam nossas inflexiveis opiniões, reforçando assim nossa enganosa convicção de estarmos absolutamente certos.
Identidade e pertencimento: Nossa personalidade muitas vezes está ligada às nossas crenças e valores. A aceitação social e o sentimento de ser, de estar conectados a grupos com juízos e preceitos semelhantes podem nos levar a reforçar nossas próprias ambíguas verdades, como forma subjetiva de nos alinhar com dita comunidade, tribo, ideologia, religião, etc., aquela à qual pertencemos e nos identificamos.
Desconhecido: A incerteza e o incógnito podem ser assustadores para muitas pessoas. Acreditar firmemente em uma verdade secular oferece uma sensação de fictício controle e previsibilidade, em um mundo que de outra forma seria absolutamente imprevisível e insuportável. Muitos acreditam ilusoriamente que podem controlar tudo, uma irônica utopia do sapiens.
Educação e socialização: A forma como somos educados e socializados desempenha um papel importante em nossos prismas. As normas culturais, valores familiares e as influências sociais podem moldar nossa visão de mundo prematuramente, criando uma base falsa para a convicção, certeza e confiança que detemos a verdade sobre um determinado assunto ou pensamento.
Autoafirmação: Necessidade de se sentir elevado(a) intelectualmente, social, profissional ou moralmente pode levar a um sujeito a se sentir fortemente sugestionado(a) pelo ar de superioridade. Isso pode ser uma forma de encontrar autoafirmação e reforço superficial da inexistente autoestima nele(a).
Autenticidade e a construção da personalidade.
Para além das teorias, é imperativo considerar a interconexão entre autenticidade e a construção da personalidade, uma questão de relevância medular na psicanálise. Este campo teórico-psicológico sustenta que a aceitação da verdade pessoal e a manifestação dela são impreteríveis para o desenvolvimento mental saudável. A negação ou distorção dela, pode incitar conflitos internos e impor desafios emocionais substanciais. Percorrendo os caminhos de Freud a Lacan, ambos apresentam diversas interpretações sobre como a genuinidade é percebida, forjada e decifrada pelos simbolismos e ícones. Compreender a noção de efetividade no contexto analítico, não apenas enriquece nossa compreensão da psique, mas também lança entendimento sobre questões fundamentais relacionadas à integridade, identidade e crescimento emocional. A exploração dessas múltiplas dimensões do que é real continua a oferecer um percurso singular em direção à autoconsciência. Com sua notabilidade, Lacan desempenhou um rol vanguardista, renovador, reformador e radical na redefinição das fronteiras entre essas duas pontes. Sua distinção e diferenciação desses dois domínios representaram uma contribuição única e, uma vez que, até então, a verdade necessitava de um ponto de ancoragem, um porto de referência em direção à realidade para ser validada. Assim, articula esse discernimento de maneira enfática em seu texto de 1956, “A Coisa Freudiana”, no qual introduz a célebre frase: "Eu, a verdade, falo". Dita discrepância promove uma operação sem precedentes, enquanto a verdade na maioria das vezes era vista como inacessível sem possuir uma amarração no concreto, assim ele a sustenta invertendo a lógica, onde dito dizer, aquele de cunho fatídico não está além da palavra; pelo contrário, é produzido pela interação com a própria linguagem. De acordo com essa escala, a verdade escapará à nossa verbalização, mas apenas enquanto ela é expressa. Dessa forma, na psicanálise a verdade não terá mais uma visão de mundo universal, más, será respectiva a experiência analítica.
A verdade como estrutura da constituição do sujeito.
Ao discutir a prática da experimentação perscrutadora, investigamos a ideia de que essa movimentação envolve percorrer pela estrutura da constituição do sujeito. Essa emaranhada lógica discursiva que nos habita, sugere que a verdade na prática terapêutica não é obter dela uma certeza sobre algo, mas sim, encontrar uma transparência que possa emergir através da linguagem e da sua interação com o discurso. Destarte se relaciona à subjetividade, não pode ser considerada de uma lisura relativa. Em vez disso, ela está intimamente ligada ao campo imaterial, etéreo e abstrato, emergindo da prática da fala e do exercício que fazemos da palavra. Portanto, transcende as dicotomias tradicionais da narrativa universal e particular da objetividade e subjetividade. A natureza da verdade na psicanálise sublinha o caráter inacessível por meios convencionais; “A verdade, em sua essência, não pode ser apreendida mediante representações padronizadas. Por esta razão, sou levado a afirmar que a verdade não é um dado passível de apreensão direta, algo que possamos capturar, senão que nos escapa da própria palavra.” Nesse sentido, provém sua dificuldade de ser expressa, verificada, ressaltando que excede o que pode ser comunicado de forma transparente. Esse postulado aborda a relação da fidedignidade com a abstração, impalpabilidade, incorporalidade, ela não é o que possa ser completamente compreendido pelo indivíduo. “Não podemos falar da verdade para o sujeito. Tal se apresenta como uma totalidade a ele, mais se inflama na própria falta e imprecisão das palavras.” Portanto, é o discurso; “A verdade emerge da interação da linguagem com a realidade, onde o seu dizer, é o resultado da articulação entre o simbólico e o real.” Aparece no inconsciente, seja por meio de um deslize verbal, um ato falho ou até mesmo um simples suspiro, sempre se manifesta e se mostra como uma irrupção inesperada.
“Não podemos separar a verdade da interpretação. Cada observação é uma tentativa de chegar mais perto da verdade, mesmo que ela nunca possa ser completamente apreendida.”
Algumas das principais características na concepção lacaniana incluem:
Verdade e o inconsciente:
A verdade sobre a psique está oculta no inconsciente, estruturado como uma linguagem, e que a verdade sobre os desejos e traumas mais profundos estão criptografados na linguagem simbólica. Portanto, seria a mesma algo que está escondido, reprimido e muitas vezes inacessível à consciência, logo inalcançável.
A falta e a busca pela verdade:
O conceito de “A Coisa” representa o objeto perdido ou ininteligível que está no cerne do nosso desejo. Esta falta estrutural, está ligada à busca contínua pela efetividade. Estamos constantemente remexendo para preencher essa ausência, muitas vezes através de formas simbólicas e culturais, mas a verdade nos permanece elusiva e inatingível.
A relação com o ''Outro'':
Em seu modelo do ''Estádio do Espelho'', Lacan justifica que a construção da identidade está ligada à relação com o outro. Essa demanda pela suposta realidade é influenciada pelas percepções e expectativas alheias. Na substância de; “o olhar do outro” podemos verificar como a dedicação e energia que concentramos em encontrar veracidade se esculpe e modela nas viabilidades de terceiros, sobre o que projetamos e quem somos.
A verdade e o desejo:
A interação entre eles está ligada à falta, à busca pelo real, visto que nossos quereres em última análise, são insaciáveis, porque a verdade é sempre parcial e inacessível.
Na era digital.
Adentrando na contemporaneidade temos uma variante absurda da verdade na era digital, fato que surge destacando os desafios únicos da disseminação massiva de informações online. Questões relacionadas à sua veracidade, ao fenômeno das notícias falsas, à manipulação de dados e à necessidade de desenvolver habilidades críticas para discernir o que é digno de autenticidade em um mundo informático cada vez mais interconectado. Esta época trouxe consigo uma revolução na forma como acessamos, compartilhamos e consumimos conteúdos. No entanto, essa sublevação também apresenta desafios, especialmente no que diz respeito à clareza dessas referências. O fenômeno das ''fake news'', se tornaram uma preocupação global, onde plataformas de mídia social e tecnologias de edição estão sendo usadas para criar e disseminar informações enganosas, criando um forte impacto no social, opinião pública e na política. Dados podem ser deturpados, invadindo questões de privacidade e segurança para promover agendas específicas. Por esta razão, se torna significativo o desenvolvimento pessoal de habilidades críticas do pensamento nesta era. Competências como a avaliação da fonte, a verificação dos fatos e a compreensão das técnicas de manipulação são imperativas para determinar a veracidade das dilucidações e explanações online. Devemos entender como essas implicações afetam o que poderíamos considerar verdade. Passaria isso pela confiança nas instituições? Que efeitos ela tem sobre a democracia e o nosso engajamento cívico? Estas são questões que precisam ser abordadas à medida que navegamos por um mundo de bits cada vez mais heterogêneo, aonde tudo se diluiu ainda mais, como anotei no início; ''a história revela, que a noção de veracidade é dinâmico, que evolui com o tempo de acordo com mudanças sociais e culturais'' é assim se propaga. Neste cenário em constante mudança, a ponderação contínua recaindo sobre a verdade, a ética e a integridade informativa repassada. essencial para uma sociedade digital informada e responsável.
Algumas frases de psicanalistas que auxiliam na compreensão;
“A verdade é como um eco distante que ressoa nas paredes do inconsciente, um som esperando ser ouvido e compreendido na busca da nossa autêntica identidade.” Dan Mena.
“A verdade é como um quebra-cabeça psíquico, revelando-se gradualmente à medida que exploramos os recantos mais profundos do inconsciente.” Freud.
“A verdade muitas vezes se esconde sob as camadas do recalque, esperando ser trazida à luz da consciência.” Freud.
“A verdade é a jornada de integração, onde reconhecemos as partes ocultas de nós mesmos e abraçamos nossa totalidade.” Jung.
“A verdade reside nas complexas dinâmicas das relações emocionais, onde os objetos internos moldam nossa compreensão do mundo.” Klein.
“A verdade é intrinsecamente ligada à linguagem, onde as palavras e símbolos refletem a complexidade do eu e do outro.” Lacan.
“Convidando a explorar a verdade nas sutilezas das relações terapêuticas, onde a empatia e a autenticidade desvendam as verdades escondidas.” Ferenczi.
“A verdade é uma jornada de descoberta do self verdadeiro, desvendando as máscaras sociais que usamos.” Winnicott.
“A verdade é como a interpretação de um sonho, onde os elementos latentes revelam nossa psique mais profunda.” Bion.
“A verdade é encontrada na autenticidade das relações, onde o espelho do outro reflete nosso verdadeiro eu.” Kohut.
Perguntas e respostas:
O que é a verdade na psicanálise? Uma construção subjetiva que pode variar de pessoa para pessoa.
Como se manifesta na linguagem? Lapsos verbais, atos falhos e símbolos linguísticos são considerados pistas para a compreensão das questões inconscientes.
É absoluta ou pertinente? A verdade é relativa, ao estar ligada à experiência e à subjetividade de cada indivíduo. Não há uma verdade universal.
Está oculta no inconsciente? Partes dela estão, de fato, acobertadas no inconsciente.
Será sempre benéfica? Sua busca pode ser dolorosa, confrontá-la nem sempre é terapêutico. No entanto, a longo prazo sua revelação é um passo para a cura.
Está relacionada aos desejos? Sim, está ligada aos quereres, libido e conflitos inconscientes.
Qual é o papel do analista? Criar um ambiente seguro para o paciente examinar sua concepção de verdade.
A verdade será descoberta na terapia? É construída à medida que o paciente investiga seus pensamentos, sentimentos e memórias, parte dela já existe no inconsciente.
A verdade é sempre parcial? Quase sempre fragmentada, sua compreensão completa raramente é alcançada.
A verdade não pode ser capturada.
No campo psicanalítico se apresenta como um enigma, para nós, resiste a uma interpretação definitiva. Ela é uma construção intricada, moldada pelas nuances dos processos psíquicos. Poderíamos equiparar sua elaboração a um filme de ficção, onde palavras, narrativas, cenários constituídos e compostos pelos pacientes se transformam no ''set'' de filmagem, onde serão rodadas as cenas, como verdades ocultas em meio às camadas de sua própria experiência abstrata. Todo filme tem um texto; eis o discurso, que será permeado por deslizes verbais, atos falhos e até mesmo silêncios, talvez o lugar onde se possa considerar que a verdade do tema surge. No entanto, essa suposta veracidade não é estática, ela flui, se transforma e evolui à medida que o processo terapêutico avança, o filme roda junto. No espaço do ''setting'' analítico, os desejos superabundantes do cliente aparecem reprimidos e arquivados no inconsciente, onde começam a aflorar. São esses quereres muitas vezes dolorosos que constituem de fato a verdade que nos interessa para o roteiro. Destarte, ditas manifestações nem sempre serão agradáveis e poderão ser muito angustiantes, por vezes, possuem um caráter místico que persiste insistentemente contrário à objetividade. A verdade não pode ser capturada como um corpo físico ou em sua plenitude, há nela um elemento que escapa à compreensão do ser, essa é sua essência. E exatamente dito aspecto enigmático que lhe confere um mistério inexecutável, um ar metafísico que a separa do resto do campo cognitivo. Por outro caminho, sua dicotomia, seu oposto; a mentira não a transformam em um obstáculo à verdade, más, em muitos casos, a inverdade é um caminho aberto para ela. A mentira, fala Lacan, é inerente à nossa natureza, no entanto, essa afirmação não deve ser confundida com a inautenticidade patológica, sendo uma forma doentia de engano. Em vez disso, como analistas, devemos incluir, levar a sério as falsas aparências apresentadas pelo cliente, onde tais distorções da verdade podem conter componentes e elementos da própria verdade que se ocultam e dissimulam. ''Nenhuma referência pode ser feita à verdade sem indicar que ela só é acessível a um meio-dizer, que não pode ser dita por inteiro, porque para além dessa metade não há nada a dizer'' Lacan.
Ao poema; A verdade - Drummond.
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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