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A Tatuagem.

Atualizado: 22 de set. de 2024

Descubra o poder transformador das tatuagens: autoexpressão e identidade. Uma linguagem universal que fala sobre você.


“A tatuagem é a sublimação dos conflitos transformados em arte na pele.” Dan Mena. Por Dan Mena.

Tatuagens têm uma longa história que remonta à pré-história, evoluindo significativamente ao longo dos milênios. Antes de adentrar na análise desde o ponto de vista psicanalítico, seu significado e simbolismo, percorramos um pouco sobre seu surgimento desde os primórdios até os dias atuais. As evidências arqueológicas sugerem que têm uma datação que remonta a pelo menos 5.000 anos, encontradas em múmias no Egito e Ötzi, o Homem do Gelo dos Alpes, que datam de cerca de 3.300 a.C. Na pré-história, eram usadas em rituais religiosos, cerimônias de passagem, iniciação ou para simbolizar a afiliação a uma tribo, clã ou comunidade. Eram comuns na Grécia Antiga e Roma, usadas para marcar escravos e criminosos, mas também por soldados para identificar suas legiões. No entanto, muitas culturas antigas, como os celtas e os japoneses, também as usavam com significados espirituais e culturais. Durante as explorações do século XV e XVI, sua arte se espalhou para outras partes do mundo, incluindo as Américas e o Pacífico no século XIX e XX. Experimentou um ressurgimento no final dos últimos séculos graças ao circo e artistas de espetáculos, o que ajudou a popularizar sua prática no mundo ocidental. Nas décadas de 1950 e 1960, se tornou associada à rebelião, cultura pop e à contracultura, impulsionada em parte por músicos, artistas e atores que exibiam tatuagens. Hoje em dia, são amplamente aceitas na sociedade, deixaram de ser exclusivas de grupos marginais, sendo consideradas uma forma de expressão pessoal, além disso, os avanços tecnológicos retiraram seu caráter permanente, visto sua remoção a laser ser plausível de eliminação. Altamente personalizadas, designs que têm significado pessoal e particular, como homenagens a entes queridos, símbolos espirituais ou expressões de interesses e paixões como o futebol. Boa leitura.


Más, por que nos tatuamos?


Autoexpressão: Usamos tatuagens como uma forma de expressão, reafirmando crenças, valores, paixões, interesses e personalidade por meio da arte corporal.


Memória e homenagem: Podem servir para prestar homenagens a entes queridos falecidos ou vivos, representando memórias especiais ou comemorando relacionamentos significativos.


Cultura e tradição: Em algumas culturas, são usadas como parte de rituais ou tradições. Elas podem simbolizar a afiliação a uma tribo, clã ou comunidade.


Estilo e estética: Algumas pessoas optam por fazer tatuagens simplesmente porque gostam da aparência delas, podem ser uma forma de aprimorar a estética moderna da cultuação ao corpo.


Empoderamento: Pode ser uma forma de promoção de autonomia, emancipação, participação, afirmação, denotar capacidades, é, fantasiosamente estar no controle do corpo e aparência.


Superar desafios: Uma forma de sobrelevar traumas ou desafios pessoais, marcando uma virada na vida.


Identidade sexual e gênero: Neste sentido desempenham um papel na exploração e expressão da identidade de gênero e sexualidade.


Moda e tendência: Em alguns casos, são influenciadas pela moda e predisposições atuais, para se encaixarem em grupos sociais ou seguir tendências estilísticas.


Significados religiosos e espirituais: Para o tatuado pode significar uma fé, dar sentido religioso ou dogmático, representar crenças e valores espirituais. No texto bíblico de Levítico 19:28 podemos ler; “Não farás nenhum arranhão no teu corpo devido a um morto, nem imprimirás nenhuma marca nele.”


Arte corporal e autoestima.


É um fenômeno multifacetado, não só especificamente porque penetra nas camadas profundas da pele e permanece visível do exterior, parte da sua cor se espalha pelo corpo, mas também pelo seu significado psicológico e simbolismo. Tatuagens têm sinônimos diferentes, tanto conscientemente quanto subconsciente. A psicanálise contribui para ampliar suas dimensões, o que é necessário quando consideramos que possuem: intenções, motivos e fundamentos, como uma dinâmica emergente que entra nos desenhos da linguagem, aqueles que não são falados, mas contados por simbologias. Muitos caminhoneiros, músicos, marinheiros, jogadores de futebol, presos ou pessoas em psicoterapia, por serem muito distantes nos relacionamentos ou lares, desenvolvem fortes sentimentos inconscientes, como desejo ou desenvolvimento da agressão sexual, homossexualidade, distância interna ou externa de casa, da família, dos afetos que levam a angústia e a dor. Do abandono a perda, estas duas preocupações constituem um grande choque para a segurança interna do sujeito, que se divide entre as fronteiras emocionais e a sua identidade. Através das tatuagens, um indivíduo pode recuperar temporariamente essa segurança e tentar criar um sentido da sua identificação, como vemos claramente nos presídios, quase uma unanimidade da sua prática. Também na clínica analítica contemplamos nitidamente surgir o seu motivo subconsciente, pois muitos pacientes fazem tatuagem durante a análise, e foi isso que aconteceu comigo, como analisado, o que me fez concluir que a tatuagem tem um lado prático e um imagético. No primeiro nível, manipular a pele por meio destas representações é uma tentativa de vivenciar algo tangível que contém e nos impõe limites. Ao fazer isso, ela transfere emoções insuportáveis para a ferida dolorosa no corpo, tornando-a mais resistente, assim que a pele afetada cicatrizar, ela integrará uma sensação e toque ao corpo. Inspirada nas reflexões de Freud em (1923), sobre as origens físicas do eu, a pele é considerada a fronteira frágil do ''eu'' e durante o desenvolvimento infantil, na segunda metade do primeiro ano de vida, será a primeira fronteira estabelecida. Com a separação da mãe o objeto transicional, (algo que não está definitivamente dentro nem fora da criança; servirá para que o indivíduo possa experiênciar situações, e assim ir criando seus próprios limites psíquicos em relação ao externo e ao interno.), adquire significado (Winnicott, 1951). Assim, a necessidade do outro permanece constante e inevitável, mas esse ''outro'' atua apenas como uma limitação funcional para o eu. O processo de se permitir tatuar-se pode ser entendido como uma investida ativa de expressar e corrigir deficiências passadas através do ato, uma tentativa de reformar estética e especificamente a imagem corporal.

''Com uma separação bem-sucedida, se forma a ideia do interior na sua impossível totalidade, do espaço delimitado por um limite e do espaço exterior ilimitado além desse limite. Portanto, a condição para se permitir fazer uma inscrição é a ideia inconsciente de ter um corpo próprio, representando uma unidade externamente limitada, ao qual se pode atribuir um significado, e assim existe pelo desenho, onde imagens inconscientes podem ser projetadas e revisitadas'' Dan Mena. O termo “imagem corporal” cunhado pelo psicanalista Schilder em (1935), resumiu neste conceito uma função complexa da experiência mental, baseada na fisiologia, livremente investida e integrada nas relações entre o organismo e o seu ambiente. A imagem corporal é baseada em ilusões e padrões de atividade formados, eliminados e restabelecidos ciclicamente em relação ao mundo externo e aos seus motivos. É um processo ativo e de longo prazo, que não deve ser entendido literalmente, mas sim, como todos os investimentos espirituais e manifestações da experiência física do ser. Através desta dimensão, nosso corpo se torna objeto de investimento, e a imagem resultante desse inversão é, exceto no estado ilusório, insubstituível e deve ser mantida intacta a todo custo. Esta é, portanto, uma perspectiva útil, simplificando a interpretação dos fantasmas psicológicos associados aos sentidos, o que por sua vez nos permitem revisitar áreas inconscientes de destruição. O corpo, no seu espaço tridimensional, é o ser por excelência capaz de transformar uma imagem espacial em algo sensível. Através da percepção corporal de dados sensoriais ativamente interpretados, ativamos a imagem inconsciente no corpo e no espaço, que é continuamente construída e elaborada, criando a base para nossa orientação interiorizada, percepção de fatos e a criação de hipóteses sobre o mundo. Quando esse contexto do corpo colide com as fronteiras que separam o espaço interior do exterior, o córtex exterior pode ser carregado de ilusões e, consequentemente, de situações em que o fisiológico se encontra num estado de desintegração física e emocional que pode ser explorado como base para perceber a realidade, e daí, tecer hipóteses sobre o mundo que habitamos.


Tatuagem como objeto.


O objeto tatuado permanece parte do corpo, e o ato de tatuar tem apenas sucesso parcial na criação de um elemento temporário. No momento em que surge a necessidade da tatuagem, por assim dizer, no átimo onde o espaço dessa transição arrisca desabar o que de fato não funcionou para a psique. Acima de tudo, é necessário algo estático e imutável, como se ela conseguisse metaforicamente interromper o turbilhão degenerativo do tempo ou proporcionasse uma distância segura do sujeito, criando um suposto equilíbrio. Assim, algumas pessoas tatuadas tentam esconder a sua possivel deficiência de identidade ou uma subversiva personalidade fragilizada e vulnerável. a utilizando como um processo de encontrar harmonia essencial. Às imagens escolhidas inconscientemente visam aqueles que a ela se referem, ou pretendem refletir e esculpir sua própria ausente identificação. A tatuagem em si é imóvel, não permite movimentos e praticamente não deixa espaço para transições, fato que possui significado inconsciente e consciente, desempenhando um papel figurativo. Em Totem e Tabu de (1912), Freud se refere ao fenômeno e explica como as pessoas se inscrevem com imagens de animais totêmicos na antiguidade. O que é o totem para a psicanálise? Um nome de grupo e da ancestralidade ou significado mitológico; (Freud,1913), que regido pelas leis da mitologia terminará por se transformar em tabu. Este, geralmente, é algum tipo de animal que atua como arauto e espírito protetor do indivíduo. Curiosamente são herdados apenas pelo sangue materno ou paterno e estão associados à exogamia (endogamia entre parentes invisíveis ou distantes), que proíbe relações sanguíneas entre povos primitivos. Animais totêmicos não devem ser mortos ou engolidos. Essa proibição está no cerne do totemismo, crenças na proibição, estão no medo da ação das forças demoníacas que podem ser entendidas como uma projeção no ambiente, de um desejo inconsciente de fazer algo censurado e interdito. A proibição está relacionada com a negação da comunicação mágica, expressão das técnicas que dominam o pensamento animista dessas culturas antigas. O princípio principal é o poder absoluto do pensamento. Freud estabeleceu uma relação entre a neurose obsessivo-compulsiva e outras formas de neurose e paranoia, nas quais o poder absoluto do pensamento às vezes é controlado ilusoriamente. Se o equilíbrio interno é ameaçado pela violação de um tabu inconscientemente temido, e se os desejos, medos de abandono se tornam insuportáveis, então a tatuagem acede como uma diligência de transformação a violação dele e, ao mesmo tempo, revelará o fator inconsciente. Essa ausência e falta de sentido, como se não conhecesse a si, é uma imagem do vazio e estranho mundo em que nos encontramos, sempre girando em torno de uma moldura cívica. Destarte, podem ser entendidas como sinalização de um possivel meio de transporte, que se encontra vazio do seu objeto principal, sem perfil e sem identidade. A necessidade de uma tatuagem surge quando a distância interna ao objeto desejado é muito grande ou muito curta, ou simplesmente ambas, simultaneamente. Motivo pelo qual devem ser mantidas a uma distância segura e equilibrada da sua inscrição, lugar onde o corpo pode voltar a ser o ponto de partida para a atividade mental saudável, sem usar de subterfúgios.


Psicanálise, tatuagens e contemporaneidade.


A prática milenar de tatuar o corpo ganha novos contornos sob a lente da psicanálise. Embora Freud não tenha especificamente discutido tatuagens em suas obras, uma série de estudiosos contemporâneos expandiram essa análise, desvendando os motivos psicológicos subjacentes a esse fenômeno cultural intrigante. Favazza oferece uma leitura sobre a automutilação, incluindo elas, como uma forma de lidar com a dor emocional. Ele postula: “A automutilação é uma tentativa de transformar a dor mental insuportável em dor física, as quais são mais fáceis de suportar.” Nesse contexto, a tatuagem pode ser vista como uma forma de expressar angústias internas, um elo tangível entre as emoções, afetos e a realidade física. Viren Swami e Adrian Furnham, em suas pesquisas, denotam o ato de tatuar como uma manifestação da autoimagem; citam: “a tatuagem pode ser vista como um meio de controle sobre o corpo”, onde o indivíduo busca assertividade e significado pessoal, algo que transcende a superfície da pele, tornando-se uma narrativa visual das emoções internas e da identidade individual. A socióloga Katherine Irwin oferece uma visão social, onde esse ato se confunde com símbolos de pertencimento e resistência. Irwin afirma: “As tatuagens são frequentemente uma forma de resistência ao conformismo social”. Aqui, vão ser interpretadas como um meio de desafiar normas sociais, representando uma busca pela autenticidade e pela expressão genuína da individualidade. Margo DeMello, como renomada antropóloga, destaca como elas se entrelaçam com a identidade cultural. Em suas palavras: “As tatuagens podem ser vistas como uma forma de comunicação cultural”. Essa transmissão, transcende palavras, comunicando tradições, crenças e histórias de maneiras que vão além do consciente, penetrando no domínio do subconsciente. Para citar Chris Sullivan, que examina o complexo de “tatuagens de memória”; “as tatuagens são uma forma única de luto”, servindo como uma conexão constante com os entes queridos que se foram ou relacionamentos que terminaram. Nesse contexto, são interpretadas como um meio de manter imaginariamente laços emocionais e memórias vivas, proporcionando uma compreensão das camadas psicológicas por trás dessa prática milenar. Essa interseção fascinante entre a mente e a expressão artística de Favazza, Swami, Furnham, Irwin, DeMello e Sullivan, cada um à sua maneira, anotam a presença transcendental da tatuagem através da pele, servindo como telas visíveis das complexidades psicológicas e da experiência de vida a que somos submetidos.


Sujeito e corpo estão separados.


''O tema do corpo e da marca como sinal da relação complexa que mantemos com ele passa pela ideia de que temos um, mas não somos ele, sujeito e corpo estão separados, e é essa divisão que tem nos levado ao longo da história a recorrer a uma variedade de artifícios para estabelecer e construir uma conexão fisiologista''. Dan Mena. A tatuagem e o piercing emergem como formas intrigantes de tomar conta, nos apropriarmos dele. No mundo atual clamamos pela uniformização e indiferenciação onde a tatuagem pode ser interpretada como uma tentativa de distinção. Uma maneira de forjar uma identidade nova e muitas vezes mascarada, que pode ser a do super-homem, samurai, guerreiro, pop-star, indígena, estrangeiro, e assim por diante. Essa busca por singularização pode levar à ocultação da nossa identidade original, dando a ela uma ornamentação simbólica e imaginária. A tatuagem não só apela para o senso de beleza, mas também gera impacto, curiosidade ou mesmo repulsa, carrega uma sensação de estranheza que não pode ser ignorada. Estética e contemporaneidade estão enraizados na cultura oriental, o que a torna uma forma de expressão visual e filosófica que é estranha ao ocidente, ela difere das práticas tradicionais da superficialidade, como a maquiagem, porque é uma marca sólida, escrita no maior órgão da nossa estrutura fisiológica. Ela revela o corpo nu de maneira crua, muitas vezes ocupando o lugar do invólucro, destacando áreas do corpo de maneira única e provocativa. Da perspectiva social, pode ser vista como uma maneira de desafiar a conformidade e a homogeneização da sociedade, algo que lembra o espírito dos românticos do século XIX, que adotavam roupas e acessórios distintos para se diferenciar da elite burguesa. Nesse sentido, a tatuagem contemporânea compartilha um vínculo com culturas orientais, oferecendo uma visão de mundo dessemelhante, uma concepção de beleza alternativa e uma filosofia de vida singular. Num mundo em constante mutação, assume o papel de estabelecer algo inalterável e estável, apesar do discurso moderno, que caracteriza o sujeito como um simples consumidor potencial em um cenário sinistro de consumo descartável. Sua escrita destaca a conexão entre o traço, a letra, o desenho e o símbolo, sugerindo que seja também uma forma de comunicação que envolve não apenas o corpo, mas também a mente. Desta forma transcende a metáfora, e se apresenta como uma marca visível que revela o corpo em sua forma autêntica.


Corpo como expressão da linguagem.


Na abordagem lacaniana, Lacan contribuiu significativamente para a compreensão da relação entre o corpo e a psique, suas ideias inspiram uma série de interpretações e análises desenhadas como uma superfície onde somos “escritos”. Em seus seminários, discute frequentemente a relação entre o corpo e a linguagem, enfatizava que o primeiro é uma parte essencial da expressão da linguagem e, como tal, uma superfície onde significados são afirmados. Em seu Seminário 23, dize: “O corpo é a superfície na qual somos escritos” (Lacan, 1975). Esta afirmação destaca a ideia de que ele não é apenas um recipiente passivo, mas sim um local ativo de inscrições e significados. Também argumentava, que o corpo é central na experiência de angústia e no funcionamento do desejo, lugar onde se manifesta com seus quereres totalmente ligados à corporalidade. Em seu Seminário 10, observou: “A angústia é uma mensagem, um sinal do desejo” (Lacan, 1962). Em seu Seminário 2, declarou: “O corpo é o lugar onde se inscreve a verdade” (Lacan, 1954), sugerindo ser ele onde a verdade sobre o sujeito se revela, com suas expressões, identidade e história. A relação entre o corpo e a linguagem, o papel deles na experiência angustiante são apenas alguns dos muitos tópicos abordados em sua obra. O corpo na psicanálise influência uma ampla gama de estudos, enriquecendo nossa compreensão. Portanto, a frase de Lacan, “O corpo é a superfície na qual somos escritos”, ressoa como um convite à exploração das interconexões entre a psique e o corpo, o que continua a estimular a pesquisa e o pensamento na psicanálise.


“A tatuagem é um rito de passagem simbólico, que marca transformações psicológicas.” Dan Mena.


“A automutilação é uma tentativa de transformar a dor mental insuportável em dor física, sendo mais fácil de suportar.” Favazza


“A tatuagem pode ser vista como um meio de controle sobre o corpo, onde o indivíduo busca assertividade e significado pessoal.” Viren Swami e Adrian Furnham.


“As tatuagens são frequentemente uma forma de resistência ao conformismo social.” Katherine Irwin.


“As tatuagens podem ser vistas como uma forma de comunicação cultural.” Margo DeMello.


“As tatuagens são uma forma única de luto, servindo como uma conexão constante com os entes queridos que se foram.” Chris Sullivan.


“Tatuagens podem ser uma tentativa de se comunicar sem palavras, de expressar o inexprimível.” Adam Phillips.


“As tatuagens podem ser vistas como uma forma de narrativa visual, contando histórias pessoais e representando a identidade.” Mary Kosut.


“O corpo é a superfície na qual somos escritos.” Lacan.


“Tatuagens são uma fusão de corpo e mente, um meio de externalizar pensamentos e sentimentos internos.” Catherine Belling.


“Tatuagens podem servir como um meio de controlar o corpo e suas representações, uma tentativa de reconciliar o eu com o corpo.” Matti Huttunen.


“A tatuagem é uma expressão do desejo humano por identidade duradoura num corpo efêmero.” Dan Mena. A identidade que tranascende o simbólico.


A prática de fazer tatuagens se revela como uma poderosa expressão da identidade pessoal em toda sua riqueza simbólica, por esta razão, transcendem como meros desenhos na pele; elas comunicam não apenas uma história e seu significado pessoal, mas também oferecem uma porta de entrada para a interpretação do inconsciente. Possuem a capacidade ímpar de contar uma história, mesmo em um mundo que a percebe como uma simples tendência. Na sua dinâmica, emerge um desejo intrínseco de se encaixar, de pertencer, revelando tanto uma carência quanto um anseio. Não se limitam ao símbolo inscrito, desde sua concepção como uma ideia, até sua materialização por meio de um processo doloroso. O processo da dor, os cuidados e a cicatrização não são apenas elementos físicos que a acompanham, senão uma profunda insistência na compreensão da existência corpórea, este corpo delimitado, recortado, onde a libido quer se materializar como um órgão que cria elos de prazer, atravessados por um imposto sofrer. Sob a ponta afiada da agulha, se faz para o ''Outro'', se constitui nesse recorte libidinal, como se incorporando a eventos não assimilados, esses que clamam por serem lidos e ouvidos, ligados à atualidade da vida e à nossa atuação performática. São símbolos que não necessitam de palavras para serem expressos, se materializam pela fantasia, se tornam vivas e visíveis, onde o olhar do outro é importante na forma como despertam emoções e sentimentos. Quando percebemos que estamos sendo observados através delas, o olhar se torna consciente e, com ele, surge a possibilidade de sermos vistos como desejamos e projetamos, ou até mesmo, apenas percebidos. Como cita Osório (2009); “O corpo é libidinal, erotizado pelo cuidado materno e integrado antecipadamente pelo olhar da mãe. Somente o amor de uma mãe permite agregar subjetivamente todos os desajustes, o traumático e o que é desestabilizador do cuidado de um bebê; mesmo antes dele ter autonomia corporal. Assim percebemos os danos que a ausência desse olhar materno pode causar a uma criança.” Eis a questão infantil a que é remetida. Finalizando, sejam elas discretas em áreas escondidas, até quem cobre grande parte do seu corpo com desenhos de grande tamanho, situados em áreas visíveis, parece nelas existir uma necessidade superior de ser fitado. Através da singularidade ou da aparência marcante, garantem em grande proporção que receberão a atenção desejada; “No corpo tatuado, enquanto imagem vista, reconhecemos um corpo como isca, chamando e evocando um movimento no outro. Não se trata apenas do que queremos exibir, o aquilo estaria no nível mais consciente, mas do que intencionamos receber, não tanto denotar, mas convocar o olhar do semelhante.” Em um mundo que muitas vezes nos exige conformidade e padronização, a tatuagem permanece nas suas telas, viajante pelos séculos como uma afirmação ousada e bela da especialidade de cada um… quem sabe? um testemunho silencioso da capacidade infindável de amarmos e ser amados.


“Ink da Alma” Dan Mena.


Na pele a tinta eterna traça caminhos,

Agulha e sonhos em ritmos mesquinhos.

Cada traço, entre gritos e suspiros,

Tatuagem da alma, que silencia gemidos.


Lamina na pele que grava segredos,

Artista e psique, conexões e enredos.

Cada pigmento, um traço, um lamento,

Tatuagem, terapia… que doce tormento!


Tinta eterna que traça contos,

Eco silencioso de sonhos e encantos,

A agulha que dança e vibra pulsante,

Uma obra-prima que nasce radiante.


Pigmento, memória e fogo,

Uma lembrança, um tributo, um jogo,

A tinta se mistura ao sangue e à alma,

Símbolo eterno que jamais se acalma.


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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