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A Projeção.

Atualizado: 22 de set. de 2024



“Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.” Jung. Por Dan Mena.

A vida é uma Projeção.


Projetamos o tempo todo como uma forma de rejeitar para fora de si aquilo que somos, atribuir ao outro, algo que nos pertence.

Qual o real motivo por trás desta conduta? Qual a nossa responsabilidade nas queixas que apresentamos sobre outros? Desafogar, aliviar, respirar, afastar, transferir, evitar sensações incômodas e desconfortáveis, comunicar algo do nível inconsciente.


Na psicanálise freudiana clássica, a projeção é entendida como um mecanismo de defesa que consiste em atribuir a outras pessoas, objetos, situações, sentimentos, pensamentos ou características que na realidade pertencem ao próprio. É uma forma de transferir a responsabilidade dos nossos atos, afetos, desejos e sentimentos para o exterior, evitando o embate psíquico da sua aceitação. Embora este mecanismo possa ter uma função protetora, contribuindo para evitar sentimentos de culpa ou ansiedade, também pode levar a distorções na percepção da realidade. Ao projetarmos aspectos de nós próprios nos outros, perdemos a oportunidade de confrontar e compreender os nossos conflitos e emoções, o que, a longo prazo, pode ser prejudicial para o bem-estar psicológico. Como mecanismo de defesa natural que manterá o equilíbrio do indivíduo no seu ambiente, permite detectar e identificar traços de caráter, bem como problemas, frustrações, ilusões e fantasias. Este recurso de defesa, se manifesta na comunicação oral e está presente na verbalização do nosso discurso, tanto quanto no dizer do outro. Também notabilizamos isso no comportamento perante às pessoas que nos rodeiam, nas reações emocionais que refletem aspectos não reconhecidos, reputados, conceituados ou negados. Boa leitura.


“Por alguma razão o ser humano tem a necessidade de se sentir melhor do que os outros e de projetar seus demônios”. Tutu.


Ao estarmos atentos às nossas reações emocionais e aos comportamentos de terceiros, podemos obter pistas importantes sobre possíveis posições que estamos aplicando nesse traquejo. Se determinadas características dos outros nos incomodam e afetam significativamente, pode isso ser um claro sinal de que estamos espelhando nossas questões mal resolvidas. Freud salientou, que a projeção é um mecanismo inerente ao ser humano e argumenta estar presente em vários ângulos da vida quotidiana, como as superstições, a mitologia e o animismo, (animismo; cada uma das doutrinas que afirmam a existência da alma humana, considerada princípio e sustentação de todas as atividades orgânicas, especialmente das percepções, sentimentos e pensamentos). Na psicoterapia psicanalítica, o objetivo é explorar e compreender como a projeção funciona na mente, entrando no mundo interior do indivíduo para identificar e trabalhar com seus conteúdos inconscientes que são arremesados para o exterior. O objetivo é alcançar uma maior compreensão dos processos emocionais e psíquicos, o que pode levar a mudanças e melhoras no funcionamento mental.


“Uma forma inteligente de nos livrar das situações é projetar nos outros, nosso próprio estado de espírito”. Kafka


Embora Freud no tenha abordado extensivamente o conceito de projeção em seus trabalhos, mencionou o tema em algumas ocasiões ao discutir fenômenos psicológicos e mecanismos de defesa. Referencias;


“A psicologia individual, em todo caso, nos ensina com a experiência que as pessoas jamais estão livres da tentação de atribuir seu próprio estado de coisas a outras pessoas” Freud, “Psicologia de Grupo e a Análise do Ego” (1921).


“A projeção é o processo de expulsar nossas próprias tendências inaceitáveis, desejos ou emoções e atribuí-las a outras pessoas.” Freud, carta para Wilhelm Fliess, (1897).


“A transferência é uma repetição e rememoração não só de um relacionamento real de infância, mas também de uma fantasia infantil e de uma projeção desses devaneios sobre a pessoa do médico.” Freud, “Observações sobre o Amor de Transferência”, (1915).


Essas citações ilustram como ele reconheceu o artifício psicológico através do qual as pessoas atribuem a outros, seus próprios pensamentos, emoções ou traços inaceitáveis. É importante notar que a projeção é um dos muitos mecanismos de defesa que Freud explorou em sua teoria psicanalítica, ajudando a entender como as pessoas lidam com conflitos emocionais e psicológicos inconscientes. 


Lacan, anotações;


Lacan também abordou o assunto em sua teoria psicanalítica, referindo-se a ela como um mecanismo fundamental na constituição do eu e na relação do sujeito com o mundo externo.


“A projeção é a operação pela qual o sujeito desconhece, em sua ação, o que o move.” Lacan, “Agressividade em Psicanálise” (1948).


“O sujeito projeta-se no outro, mas ele também se projeta na imagem que o outro tem dele.” Lacan, Seminário 4, “A Relação de Objeto” (1956 – 1957).


“O eu se forma via uma série de identificações e projeções que permitem ao sujeito se relacionar com o mundo ao seu redor." Lacan, no Seminário 2, “O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise” (1954 – 1955).


“A projeção é uma das formas através das quais o sujeito lida com seu próprio desejo e suas fantasias inconscientes, projetando-os em objetos externos.” Lacan, “O Seminário, Livro 6: O Desejo e sua Interpretação” (1958 – 1959).


Lacan viu a projeção como um processo central na formação do eu e nas interações do sujeito com o mundo ao seu redor. Ele enfatizou que a projeção não é apenas uma forma de atribuir características a outros indivíduos, mas também uma maneira pela qual o sujeito lida com seu próprio desejo inconsciente e fantasias. Isso revela a importância da projeção na psicanálise lacaniana e como ela pode ser explorada para compreender o funcionamento psíquico do sujeito.


Identificação projetiva.


A expressão “identificação projetiva” é utilizada por Melanie Klein em “Notes on some schizoid mechanisms”. Klein, (1946).


Os objetivos da identificação projetiva podem ser diversos:


Se livrar de uma parte desagradável de si.

Uma posse agressiva sobre o objeto.

Esvaziamento e controle predominante do objeto.


(Na psicanálise, um objeto é uma representação mental de um elemento externo. Assim, não se fala em investimento de energia psíquica ou catexia em relação a objetos tópicos e exteriores, mas sim em associação a suas representações na mente do indivíduo.)


Um dos resultados é a identificação do objeto com a parte projetada do ''self'', (O self é descrito como instância psíquica fundamental que contém os elementos que compõem a personalidade, mas não incluem o núcleo da existência genuína do indivíduo. Assim, o protagonista da existência é o “ser interior”, e o self, atua como coadjuvante principal na formação da personalidade), daí deriva a expressão ''identificação projetiva". Nesses eventos não são apenas projetados impulsos. Também partes do self; por exemplo, a boca e o pênis do bebê, produtos do corpo; a urina e fezes, sendo disparados sob o objeto na fantasia. "A projeção das partes conduz à perseguição, engloba não só tais elementos, o ''Eu'', também percebe elas como boas. Às partes boas, podem ser projetadas para evitar a separação, para idealizar o objeto. Quando o ''Eu'' interior, é sentido como cheio de maldade, se lançam ao objeto para sua projeção. Isto leva a uma idealização excessiva do objeto e a uma desvalorização do ''Eu''. ''A identificação projetiva é a base das relações de objeto narcísicas”. “Quando citadas partes negativas são projetadas, o objeto se torna um elemento temido; quando as boas entram em ação, acontece uma dependência esquizoide particular do objeto: o qual deve ser controlado, visto que sua perda implicaria prescindir de uma parte de si próprio. Destarte, existe um medo de ser completamente controlado, porque o objeto contém uma parte valiosa do ''self''. O medo esquizoide de amar se funda no fato que, quando a identificação projetiva, como mecanismo principal do sentimento, significará projetar partes boas do self no objeto, se esgotando assim de si próprio, permanecendo na percepção de escravidão. Devido aos perigos envolvidos nas relações de objeto baseadas na identificação projetiva como personalidade desagregada, pode tentar fugir de todas suas relações de objeto. Isto explica que, durante muito tempo, se relacionou que pacientes narcísicos e esquizoides não desenvolviam nenhuma transferência. Outro autor que utiliza muito o conceito é Bion. No seu livro “Rethinking”; propõe — acompanhando Klein — que numa fase primitiva do desenvolvimento humano, a ausência de um objeto bom passa a ser vivida como um ataque de objetos maus. Tanto a dificuldade em simbolizar a diferença entre presença e ausência, como a utilização da identificação projetiva como mecanismo predominante, seriam dois indícios do funcionamento da parte psicótica da personalidade. 


Para entender melhor essa relação faremos uma compreensão de Klein, que afirma que todos desenvolvemos certos conjuntos de atitudes e defesas com às quais aprendemos a lidar com a ansiedade, o terror, o amor e o odio. Esses conjuntos, formam sua teoria do desenvolvimento, que inclui duas partes; a esquizo-paranoide e a depressiva. Descreve elas como formas de nos posicionarmos no mundo. Apesar de originadas nos primeiros estágios da vida, estamos sempre oscilando entre elas. Essas atuações, são mais do que um ciclo distinto, senão a sequência do desenvolvimento; ''Ansiedades e defesas, persistem ao Iongo da vida” (SEGAL, 1964). Segundo Klein, no momento do nascimento a criança tem ego suficiente para sentir ansiedade e empregar alguns mecanismos de defesa. A ação instintiva da pulsão de morte, juntamente com a frustração levam a raiva, desencadeiam o temor do aniquilamento, e por ser o ego ainda frágil tende a ser fragmentado em momentos de ansiedade. Esse processo convoca as defesas esquizo-paranoides. Dita cisão entre o bom e o mau e a proteção do ego primitivo, se conectam correlacionados com os temores infantis, tomando a forma de fantasias de perseguição. Nos anteparos e fantasias, o mundo e cindido entre objetos introjetados e idealizados. Tais sentimentos que provem da frustração são direcionados para alguma coisa ou alguém, ''objeto''. A identificação projetiva e sintomática da posição esquizo-paranoide, onde sentimentos agressivos e a raiva de origem desconhecidas ocorrem primariamente. ''A primeira forma de ansiedade, advinda de uma fonte externa pode ser encontrada na experiência do nascimento, momento em que às angústias sofridas são percebidas como um ataque'', (KLEIN, 1952). A prática da amamentação humana dá o início a primeira relação de ''objeto'' com a nossa mãe ou cuidadora, nessa fase evolutiva ela não e percebida como um objeto total. Ao contrário, o bebê reage a uma experiência de opostos, algo entre o bem e o mal. Por essa razão empírica, o seio da mãe será dividido entre o seio bom e o mau, satisfazendo e frustrando o bebê concomitantemente.


Melanie Klein não usou explicitamente o termo “identificação projetiva” em sua obra, a expressão foi cunhada posteriormente por outros psicanalistas, como Wilfred Bion e Herbert Rosenfeld, que se basearam nas ideias de Klein e expandiram o conceito. A ênfase de Klein estava mais relacionada a mecanismos como a “identificação projetiva primitiva” e a “identificação introjetiva”, sendo conceitos diferentes, embora relacionados com os temas da projeção e da identificação. Posso trazer algumas citações das mais relevantes que tratam deles:


“A identificação projetiva primitiva é o processo pelo qual a criança projeta partes indesejáveis de si mesma em objetos externos, sentindo-se invadida por essas partes, mas sem reconhecê-las como suas.” Klein, “Contribuições à Psicanálise” (1948).


“A projeção é uma defesa usada pela criança para se livrar de partes indesejáveis de si mesma e colocá-las em objetos externos.” Klein, “Desenvolvimento da Criança” (1932).


“A criança identifica-se com a mãe e com outros objetos significativos em seu ambiente, internalizando-os e formando seu próprio sentido de self a partir dessas identificações.” Klein, “Desenvolvimento da Criança” (1932).


“A identificação introjetiva é o processo pelo qual a criança incorpora aspectos positivos e negativos do objeto em seu self, internalizando-os como parte de sua psique.” — Melanie Klein, “Contribuições à Psicanálise” (1948).


Às anotações a diversos autores auxiliam a compreender diferentes abordagens sobre o que posso citar como o prisma central das diversas projeções.


A ''Identificação Projetiva'' difere da ''Projeção'' (…) uma vez que esta última é um mecanismo que funciona desde o início da nossa vida, estruturando o psiquismo que se elabora “sobre um objeto”. A projetiva, por outro lado, tende a procurar o controle e possuir o objeto. Ela recai sobre o objeto, tendo uma intenção agressiva, o que significa que, se a sua intensidade for excessiva, pode ser desestruturante e negativa.


A projeção é o analista.


Bion, Segal, Rosenfeld chamam nossa atenção para as diferentes finalidades da identificação projetiva. O tema, antes descrito como um mecanismo de defesa apenas, ganhou força na clínica contemporânea, sendo redefinida como uma forma de comunicação que pode levar a mudanças psicológicas. Seria, portanto, o processo através do qual sentimentos pertinentes ao ''Eu'', como sendo ele(a) projetado no ''Outro'', figura do analista, criando um modo de ser entendido como integrado a uma parte do ''outro''. Esse elo que atua nas origens da empatia, quando usado exageradamente, pode levar à perda de identidade e nitidez das fronteiras entre o ''Eu'' e o ''Outro''. Enquanto o analista pode receber ditas projeções dos sentimentos e afetos conflitantes do seu paciente, pode processá-los, torná-los mais assimiláveis e disponíveis para sua reintegração ao paciente. Quando isso ocorre, o cliente ganha em sua capacidade de integrar amor e ódio, e um caminho para tolerar a consequente ambivalência da ansiedade decorrente desta incorporação. Neste ponto, a técnica psicanalítica passa a incluir uma disposição do terapeuta em receber as projeções, colocando sua mente a disposição, situando o analista em uma posição delicada. Ele pode ser tomado pelas identificações projetivas de tal modo que sua capacidade de pensar fique paralisada ou comprometida cognitivamente, formando um conluio inconsciente com a parte imatura da personalidade de seu analisado.


''No entanto, o êxito técnico consiste em conseguir se manter permeável e capaz de receber e compreender as proeminências do paciente sem ser totalmente tomado por elas''. (Zimerman, 1997).


Projeção psicológica. Possibilidades;


Atributos: quando projetamos nos outros traços e características próprias que não queremos reconhecer ou enfrentar.


Afetivas: Quando sentimos algo em relação a uma pessoa que não desejamos admitir ou que, em segunda ordem, nem sequer temos plena consciência de que estamos sendo atravessados pelo sentimento.


Deficiências: Quando queremos sobrecarregar outra pessoa com nossas próprias deficiências ou necessidades, porque não suportamos transportar elas.


Wilfred Bion sobre o conceito de “identificação projetiva”, ele desenvolveu significativamente o tema em sua obra psicanalítica:


“A identificação projetiva é uma das mais importantes das operações mentais ao permitir a comunicação. É através da identificação projetiva que os objetos se tornam conhecidos.” Bion, “Elementos da Psicanálise” (1963).


“A identificação projetiva é uma maneira pela qual o paciente tenta colocar seus sentimentos e pensamentos no analista, forçando-o a experimentar o que ele próprio está sentindo.” Bion, “Aprendendo com a Experiência” (1962).


"Na identificação projetiva, os pensamentos, fantasias e emoções do paciente são projetados no analista, que pode ser afetado por essas projeções sem estar ciente disso.” Bion, “Transformações” (1965).


Bion considerou a matéria, como um mecanismo mental que desempenha um papel crucial na comunicação entre paciente e analista. Enfatizou como essa identificação pode afetar o analista e como ela é usada pelo paciente para lidar com ansiedades intoleráveis e experiências emocionais que não podem ser diretamente enfrentadas ou compreendidas. É um conceito fundamental na sua obra, que explorou extensivamente em sua teoria e prática psicanalítica.


Por que a projeção é inconsciente?


É fácil perceber quando as pessoas estão projetando, destarte ser mais difícil identificar esta tendência em nós próprios.


Vejamos alguns sinais;


Dificuldades em ser objetivo(a), ganhar perspectiva e dificuldade em se posicionar de forma empática no lugar do outro.

Perceber espontânea e prontamente que a situação gerada ou sua reatividade é um padrão recorrente de quem projeta.

Se perceber magoado(a), chateado(a), defensivo(a) ou sensível em relação a algo que alguém disse ou fez.

Agir reativamente e se culpar posteriormente da ação em um breve lapso temporal.


Diante destas situações. Podemos nos indagar?


O comportamento que não me agrada nesta pessoa é algo que considero intolerável em mim?

De que forma estou agindo em relação a esta pessoa?

Que tipo de narrativas estou criando para mim, para me justificar sobre esta situação?

Quem? Ou o quê? Que situação isso me faz lembrar?


Avaliando sinceramente seus posicionamentos poderá fortalecer suas execuções, se tornando uma pessoa mais tolerante, adaptativa ao meio, complacente, compreensivo(a) e elástica nas vivências.


Citações famosas que ajudam a entender o assunto.


“Errar é humano, mas culpar os outros é ainda mais humano” Chaplin.

“Se somos tão inclinados a julgar os outros, é porque tememos por nós mesmos.” Oscar Wilde.

“Acusar os outros é ignorância, acusar-se a si próprio é compreender-se. Não acusar os outros nem a si próprio, é a verdadeira sabedoria” Epiceto.

“São pouquíssimos os homens capazes de tolerar, nos outros, os defeitos que eles próprios possuem” Arthur Graf.


A projeção é uma das defesas mais arcaicas e primitivas do ''Eu''; se o suposto observador não tem consciência das suas próprias emoções, pulsões ou impulsos, os transfere para agentes externos. ''Na projeção, ficamos alheios fantasiosamente a determinados atos, reduzindo imaginariamente a responsabilidade de si próprio pelas respectivas consequências e repercussões'' Dan Mena.


Penso finalmente, que o problema não é tanto a projeção em si, mais a interseção que fazemos ao próprio desenvolvimento, quando negamos de alguma forma uma comunicação clara que outros possam constatar quanto o que conseguimos entregar de si. Embora isso possa levar a conflitos interpessoais com outras pessoas. No entanto, acredito que o pior cenário desta enunciação é que quanto mais nos projetamos, mais nos afastamos e distanciamos de nós próprios. Quanto mais me projeto, menos me reconheço, me esqueço de mim é da minha personalidade gradativamente, potencializo aquele(a) que não sou, porque estou a mercê, exposto e fragilizado(a) ao olhar para o exterior. Uma parte relevante da busca do equilíbrio emocional, bem-estar e felicidade, acampam no conhecimento de si, no reconhecimento das nossas aptidões, pontos fortes e também na observação das minhas fraquezas e fragilidades, como instrumento para saber gerenciar e regular minhas perspectivas particulares de mundo. Culpar com rigor e inclemência os outros, quando deveríamos apontar primeiramente para nós, sinalizando um entendimento sábio, que antes de julgarmos terceiros, talvez seja prudente voltar a lupa para nós próprios. O indivíduo que teme sua própria consciência, e se sente afetada(o), perturbada(o), pode encontrar suprassumo conforto na ideia de que são sempre os ''outros'' que me provocam. O psicanalista, psicólogo ou terapeuta, podem dar apoio neste processo de inversão, guiando-o(a) para o autoconhecimento, na medida que o mesmo(a) vai se conscientizando dos seus aspectos transferenciais, saindo da suposta posição de vítima e vitimizador(a), se responsabilizando efetivamente por seus feitos e condutas.


Projetamos a todo momento, isso não é negativo nem positivo, depende das qualidades que arregimentamos, se estas são ou não negadas em si. Podem ser a base de qualidades incríveis e maravilhosas, como a empatia, amor, generosidade, doação, sentimentos românticos e carinhosos ou aqueles de índole negativa, como a raiva, inveja, odio, ganância, arrogância e o desprezo. A projeção inclui uma visão dupla, visto que ajuda muitas vezes às pessoas se apaixonarem, e também a se odiarem em outros momentos. 


Quanto a nós, analistas, é nossa formação, Freud enfatiza a necessidade de que aquele que cogita cuidar de outros, que se dedique com muito afinco ao cuidado de si, afinal; “nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e resistências internas” (Freud, 1976).


Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 
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