A Intimidade.
- Dan Mena Psicanálise
- 17 de set. de 2023
- 12 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2024
“Intimidade é o nível mais profundo da vivência psicossocial, apenas possível pela exposição das nossas vulnerabilidades” Dan Mena. Por Dan Mena.

O que queremos dizer quando empregamos o termo intimidade?
Quais são as questões com as quais nos esgrimimos nas nossas vidas?
A psicanálise oferece uma lente poderosa para a compreensão da intimidade, revelando como nossos desejos, traumas e relações moldam nossa capacidade de nos conectarmos amplamente com outros. Ela se manifesta em diferentes espectros de nossa vida, e, verificamos logo, como ditas complexidades são inerentemente ligadas a experiências interpessoais que permeiam nossas conexões. Analisaremos uma dimensão essencial da vivência, que abrange desde relações românticas e familiares até conexões indagas com amigos, inclusive a mais importante, aquela que estruturamos consigo. Em seu trabalho “A Interpretação dos Sonhos” (1900), Freud objeta, que os sonhos revelam desejos e pensamentos íntimos, muitas vezes reprimidos e recalcados em nosso inconsciente. “Os sonhos são a estrada real para o inconsciente.”. Essa citação freudiana, ressalta como a psicanálise, desde seu início, estava ligada à exploração das camadas sondas da psique, onde a intimidade de nossos anseios e perturbações mais escavas residem. Também Jung, introduziu a ideia do "Self" como um centro unificador da mente, em seu livro “Memórias, Sonhos, Reflexões” (1961), ele escreve: “A busca da intimidade com o Self é uma jornada interior que nos conecta com nossos aspectos mais profundos e autênticos.” Uma jornada rumo à aceitação de nosso Self como um processo íntimo e essencial para a saúde psicológica. A fidedignidade envolve a noção do “Eu Verdadeiro” ou do "Self, Autêntico”, que incluí a aceitação de todos os aspectos de si, inclusive, aqueles que podem ser desconfortáveis. Genuinidade se relaciona com a remoção das máscaras sociais na busca pela intimidade pessoal, visto, que frequentemente usamos dessas defesas psicológicas, como a repressão, para esconder nossos verdadeiros desejos e medos. (O self é uma instância psíquica que contém os elementos que compõem a personalidade, mas não abarca o núcleo da existência legítima do indivíduo. O protagonista da existência é o “ser interior”, e o self, que atua como assistente principal na formação da personalidade.) Boa leitura.
A singularidade da intimidade.
A noção de particularidade na intimidade nos permite vislumbrar a especificidade radical que lhe está implícita, característica essencial da nossa prática analítica. O íntimo nos remete para o que é mais próprio de si, e, por outro lado, para a sexualidade, inequivocamente ligada ao pudor. (O pudor como barreira ou limite que protege o mais íntimo do sujeito, uma proteção que forjamos contra nossa dissolução subjetiva, onde o conceito de limite é crucial. O limiar que pode ser respeitado, violado ou ultrapassado, cabe a cada um, na sua abrangência). A palavra deriva da raiz latina ''intimus'', que significa mais íntimo. Se explana em um espaço privado, no qual os outros não se devem intrometer, por conseguinte, uma relação interpessoal que envolve a pessoalidade física e emocional de uma relação essencialmente peculiar. O psicanalista Theodore Rubin a descreve como ''uma proximidade bondosa, que inclui cuidados mútuos não competitivos, trabalho em prol de objetivos comuns… confiança, zelo e disponibilidade, troca de sentimentos e autorrevelações de ternura'', (Rubin, 1989). Essa dialética na esfera da estreiteza, da privança do próprio “corpo-mente” que (Wrye, 1998), cita. Destarte, se entrelaça como um elo da relação entre pessoas, onde ambas se comunicam e se constituem por si. Na perspectiva de um adulto socializado, contemporaneamente atrelado a cultura ocidental, ser íntimo de si e estar seguro de uma condição prévia para criar essa divisa com outros, aqueles que precedem o repartimento deste espaço em direção a um ''sentido do eu''. A nossa relação natural e peculiar, reflete a forma significativa do manejo do corpo, em transição com a nossa mente nascente, tanto consciente quanto inconsciente. No relativo à introdução desta formação no ser, será de suma importância como nos tocaram, beijaram, acariciaram, alimentaram, recebemos a higiene, trataram, nos seguraram no colo, se dirigiram ao falar conosco, às maneiras que aprendemos a brincar juntos e dividir os afetos. Em diferentes facetas e modos, podemos ter sido ignorados pelos pais ou cuidadores, constritos, excessivamente reprimidos, invadidos fisicamente, castigados, abandonados física e emocionalmente, constrangidos, forçados, obrigados, etc., o que delimitará, certamente demarcar a forma comportamental do corpo-mente e sua futura elaboração. Nossas relações íntimas primárias, sujeitas a um certo decorrer pela primazia do ''outro'', que se instituem e firmam na sujeição dele, campo especialmente abalizado pela leitura psicanalítica e às relações de objeto. Razão, pela qual estaremos sempre a mercê da emblemática dependência que surge do desamparo precoce, mesmo quando envidamos grande esforço e resistência para nos tornarmos independentes desta sina primitiva, para a qual levantamos grandes defesas protetivas para fugir dessa inevitável carência e sujeição.
Não é tão intima e privada quanto pensamos.
Sua definição não está incisa numa regra inflexível, é cônsona, não pode ser transladada como ambígua ao que é público. Contudo, e afiliada a manifestações psíquicas que delineiam a experiência de privacidade, como os sentimentos de vergonha e acanhamento que estabelecem uma esfera de validação. Ela se manifesta como um modo de comunicação observável também em uma prática comum entre crianças. Contar segredos, onde o tal incógnito, não compreende necessariamente informações tão substanciais assim. No entanto, o ato de compartilhar uma confidência, independente da sua relevância, cria uma relação especial entre duas pessoas, que as compromete de fato entre si. Logo, essa confiança depositada pode ter um peso, uma carga de confiança, a tona cientes, que o dito confiado deve ser sigiloso, e que da nossa dimensão individual não possui mais importância do que para aquele que a revela. Na nossa época, existe uma percepção universal de que há uma inclinação para a evidenciação, exteriorização e exposição da intimidade, principalmente no tocante as redes sociais e outros meios. No entanto, essa abordagem é um tanto simplista, pois em último caso, existe um discurso público sobre o assunto, onde o íntimo não é fatalmente oposto ao comum coletivo. Esse desarranjo conceitual moderno, pressupõe estabelecer uma equidade entre o que seria íntimo e o que é caseiro, doméstico e familiar. A intimidade em si, extrapola o ''sui generis'', porque se vincula de muitas formas ao social, que muitas vezes e esquecido na sua leitura. Embora todos, nos tornamos comunicadores em várias esferas do conhecimento, é importante observar que, apesar de termos muitos contatos, principalmente online, poucos são os laços de verdadeira intimidade. A pessoalidade e privacidade sempre envolvem o outro, mas ocorre com nossa anuência e presença, à medida que estamos dispostos a permitir que a palavra adentre, promova uma certa transformação, reconhecendo nossa condição de seres falantes. No que tange a clínica, a psicanálise e fundamentada na intimidade, visto que estabelece uma forma de comunicação distinta da cotidiana, daí que firma seu caráter específico. O cliente-paciente que fala, narra, conta, não está trocando informações com o psicanalista, ele não flui meramente como transmissor de informações, mas sim, recupera por ela(e) sua própria posição de fala, e ao fazer isso, a perde, se extravia desse lugar, à medida que o recupera. Isso que Lacan descreverá como “destituição subjetiva”. (A destituição subjetiva foi um conceito lacaniano para marcar o fim de análise. O sujeito entra em análise dizendo: “Não sei o que está acontecendo comigo”, e começa a falar da pressuposta autoria que os outros têm sobre suas queixas. Ele(a) não sabe por que tem tais sintomas, (o conjectura que sabe), mas tem dedos para apontar… porque por si, não pode suportá-los, logo, precisa atribuir a culpa consignada. Mas será que falando podemos encontrar aquilo que somos, que nos constituí entre erros e acertos? Aquilo que ocorre quando o sujeito se reconhece na opacidade de um objeto pulsional que o estabelece e, ao mesmo tempo, lhe escapa da sua verdade?. Essa é a tal opacidade que Lacan indica toda vez que fala do advento do ''objeto a'' em sua condição de resto. Ao tentar falar sobre o desejo, há um momento em que chegamos ao ponto do cordão umbilical, onde não podemos ir adiante, eis que se infiltra, a ideia de destituição subjetiva. Ela consiste em dizer que, no final da análise, o sujeito saberá alguma coisa.
A intimidade está ligada ao conceito de “objeto a” e nossa relação com o desejo.
Considerações importantes:
Objeto a: Representa um objeto perdido ou inalcançável medial para nossos quereres. Não, é algo físico real, mas sim algo conectado a excitação, associado a fantasias. A busca desse elemento-objeto, pode ser vista como uma tentativa de preencher um vazio interiorizado.
Desejo e falta: O desejo está cravado na nossa ausência primitiva, na sensação de que algo está faltando. Essa inexistência supressiva é o que impulsiona a libido e a torna interminável. A busca pelo ''objeto a'' é uma tentativa de lidar com essa carência como necessidade.
Intimidade e o Outro: Na relação com o esse outro e que o sujeito busca realizar seus desejos, encontrar um sentido de norte para seu desprovimento. A busca pelo ''objeto a'', envolve o sentido de reconhecimento, que virá pela satisfação vivida nos olhos do outro.
Desejo inconsciente: A volúpia, concupiscência, excitamento e assanhamento inerentemente ao homem (ser), é inconsciente e muitas vezes irracional. Portanto, a intimidade envolve a exploração dos desejos instintivos inconscientes que moldam nosso comportamento, condutas e relacionamentos.
Por que procuramos a intimidade?
Ela nos permite confirmar nossos estados interiorizados e as formas como se consolidam e revigoram. Serão ampliados via relações interpessoais, onde ditos laços desejados, juntamente com às experiências individuais, vão permitir uma validação. Destarte, seja desejada a intimidade é uma peculiaridade que não pode ser a contra-gosto ou viabilizada por estratégias pre-concebidas. Sua integridade está no marco imprevisível da espontaneidade irregular dos afetos. Más, quando isso se apresenta por um querer, acontece da forma mais intensa, prazerosa e deliciosa. Esse encontro de dois mundos, de sentir no outro e com o outro, um compartilhar real, que nos vislumbra e apresenta o que somos numa dimensão de observação, distinção e pensamentos que justificam nossa extensão de subsistência, tanto para si quanto para outros. Esta importante abonação para o ser, serve como instrumento expiatório para dar peso à experiência de vida, aquela que somos implicados, ao abrir a janela da permissão de aceder à mente e o coração do outro, já que esse ''outro'', nos compreende e acolhe. Necessidades relacionais se diferenciam das instintivas porque são, na verdade, necessidades internas; vejamos suas diferenças:
Instintivas; são aquelas que estão presentes desde o nascimento e são necessárias para a sobrevivência do indivíduo. São exemplos, a fome, sede, sono, sexo, fisiológicas, etc.
Relacionais; surgem da interação com o meio ambiente. São exemplos, amor, aceitação, afeto, carinho, acolhimento, etc.
Necessidades instintivas e relacionais estão intimamente relacionadas, visto que ambas precisam ser satisfeitas para podermos sobreviver e se desenvolver. No entanto, relacionais são essenciais para a saúde mental e emocional, relevantes para o ir em frente do ego, o qual é a parte da personalidade responsável pela nossa adaptação ao mundo. O ego precisa de amor, aceitação e benquerença para se dilatar e amplificar de forma saudável. Sua frustração concomitante, pode levar a problemas emocionais como a baixa autoestima, ansiedade e depressão.
Um exemplo da sua manifestação:
Um bebê chora quando está com fome, mas também quando precisa de atenção e afeto.
Ele(a) pode se recusar a comer, se não se sentir amada(o) e aceita(o) pelos pais.
Um adulto pode desenvolver problemas de relacionamento se tiver dificuldade em expressar seus sentimentos ou se sentir rejeitado pelos outros.
Associação livre.
Um exemplo prático (trecho) da clínica, e como o conceito de intimidade aparece. Por meio de uma narrativa abreviada paciente-analista, a presença de uma queixa específica. Cenário: ansiedade, insegurança, medo…
Daniel Olá, Vítor. Como você está hoje? Como foi tua semana… me conta? Continuemos daquele ponto, onde você falava sobre questões relacionadas à intimidade e ao seu relacionamento com Sara.
Vítor: Obrigado Daniel, estou bem, tive uma semana tranquila no trabalho, foi bom. Emocionalmente estou um pouco ansioso, meu normal, né? rsrs… mas estou pronto para continuar a trabalhar nisso. Andei pensando… acho que meu problema central é que, quando as coisas começam a ficar mais sérias, eu começo a me distanciar emocionalmente de Sara.
Daniel: Compreendo Vítor. Essa tendência de você se afastar dela emocionalmente quando a intimidade aumenta é uma reação comum em muitas pessoas. Você mencionou que seus pais não eram muito expressivos quando se tratava de doar afeto. Como você acha que essa experiência da tua infância com eles moldou sua maneira de se relacionar com os outros hoje?
Acredita que sua ansiedade levada a esse nível seria o normal da sua personalidade?
Vítor: Acho que cresci vendo meus pais, que raramente demonstravam afeto um pelo outro. Eles não discutiam suas emoções, e as conversas sobre o relacionamento eram praticamente inexistentes. Talvez eu tenha internalizado essa ideia de que não se deve compartilhar muito emocionalmente. Não, não acho que minha ansiedade esteja em uma normalidade, me incômoda bastante…(silêncio… abaixa a cabeça e reflete).
Daniel: É interessante que você tenha identificado essa possível conexão Vítor. As experiências da infância frequentemente influenciam nossos padrões de relacionamento na vida adulta. O medo de você se machucar, que já me mencionou anteriormente, também pode estar relacionado a essas experiências passadas. Como você acha que esse medo se manifesta no teu relacionamento com Sara?
Vítor: Acho que… pausa… hummm… quando sinto que as coisas estão indo bem demais, começo a me preocupar em ser machucado novamente. Às vezes, isso me faz criar desculpas para terminar o relacionamento ou me afastar dela antes que as coisas fiquem sérias.
Daniel: Novamente? Me conta algo sobre esse passado que está no ''novamente''?
Então, não, é algo sério?
Vítor: Não, não é bem isso que quis dizer… não gostaria de falar agora sobre esse passado que me machucou… outro momento!
Daniel: Então, tudo bem… você pode dizer isso de outra forma. Quero ouvir de novo? Gostaria de entender melhor essa dicotomia. (cria outra posição… agora se implica emocionalmente).
Daniel: Parece que você está usando a criação dessa distância e afastamento como uma forma de proteção contra possíveis feridas… isso é uma estratégia de autopreservação que você desenvolveu para evitar a dor. No entanto… já pensou na possibilidade que essa postura também pode estar te impedindo de experimentar o lado satisfatório dessa convivência? Como você se sente sobre essa possível estratégia que montou?
Vítor: Sim, eu sei que não é saudável agir dessa forma, más, é como se houvesse uma barreira enorme que não consigo atravessar.
Daniel: Entendo completamente, Vítor… você acha que Sara é importante para você? Ou tanto faz?
Vítor: É, sim, não tem a ver com ela, ela é uma mulher incrível.
Daniel: Tem a ver com quê? Te ouvindo… tive a sensação de que parece que só você dá as cartas...e se ela terminasse hoje?
Vítor: Não pensei nisso…
Daniel: Imagina que ela acabasse agora com você? Como você vai se sentir?
Vítor: Ficarei arrasado… sofrerei um bocado…(pausa longa)… ela é importante para mim.
Daniel: Pois é... Agora você percebe que iria sofrer da mesma forma? Não seria uma melhor posição baixar essa guarda?
Vítor: Vendo por esse lado, você tem razão… de uma forma ou outra, parece que o resultado seria o mesmo.
Daniel: Parece que de ambos os ângulos… você só espera pela dor? Quer dizer… você só anda com o pé no futuro? O primeiro passo para a transmutação de pensamentos é a conscientização, você esta aqui porque deseja entender como eles estão te afetando, e algo necessário a essa questão é você viver o presente com toda sua força, sem medos.
Vítor: Isso que você me falou foi reconfortante de ouvir Daniel, eu realmente quero mudar e superar essas questões.
Daniel: A mudança é um processo Vítor, e estamos aqui para percorrê-lo juntos. Com tempo, reflexão e compreensão, acredito que você pode alcançar seus objetivos. Estou comprometido em te apoiar nessa jornada rumo a relacionamentos mais saudáveis e uma vivência íntima emocional mais comprometida.
Continua…(o nome do paciente é seu implicado foram alterados para preservar o sigilo profissional).
A intimidade é um processo que envolve diversos fatores, como:
Confiança: Necessita que confiemos uns nos outros para compartilhar pensamentos, sentimentos e experiências mais íntimas.
Vulnerabilidade: Requer implicação, ser exposto, e que nós tornemos vulneráveis reciprocamente.
Aceitação: A intimidade só é possível quando somos aceitos e compreendidos pelas pessoas.
Intimidade pode ser difícil de alcançar, ao exigir enfrentar medos e inseguranças. No entanto, é uma experiência recompensadora que pode trazer grande felicidade e satisfação.
Frases que contribuem para sua compreensão:
“A intimidade é um estado de mútua confiança e abertura entre duas pessoas, que permite que elas compartilhem seus pensamentos, sentimentos e experiências mais íntimos.” Freud.
“A intimidade é a capacidade de nos conectarmos com os outros em um nível profundo e autêntico.” Jung.
“A intimidade é um estágio do desenvolvimento psicossocial onde os indivíduos buscam relacionamentos próximos e significativos.” Erikson.
“A intimidade é a capacidade de nos relacionarmos com os outros de forma honesta e genuína.” Horney.
“A intimidade é a capacidade de nos sentirmos seguros e aceitos por outra pessoa.” Winnicott.
O ir e vir do seu espírito.
A intimidade é um aspecto essencial do desenvolvimento, na medida que permite nos conectar em um nível autêntico. Na psicanálise, é um objetivo do próprio processo terapêutico. Quando vivida desde o seu ápice, é de fato uma relação com nossa verdade, gangorra do vai e vem, desse espírito de comunhão. Por essa via, nos define como sapiens, mas só ganha sua real substância quando dialoga, trata, confraterniza, enlaça com nossas capacidades únicas de conhecer e do não saber, interpretar bem ou mal, que se sujeitam entre si hipoteticamente, para formar parte de uma suposta realidade de unificação. Ditas dimensões do sentimento e do calvário do dissabor, também permitem um encontro de mentes que transcodificam essa verdade. Se evocasse agora Bion, ele diria que o sofrimento é um encontro emocional consigo mesmo, que enfatiza a nossa finitude, incompletude e responsabilidade primárias, ao mesmo tempo, ligadas às primeiras memórias de solidão. Assim, vivenciar um vínculo estreito, envolve sofrer com ele e, como consequência, desafia nossa competência e habilidade em compreender essa fragmentação e fragilidade que acompanham muitos clientes como Vitor. Ansiosos(as) de poder superar barreiras emocionais para formar vínculos íntimos e responsáveis com seus parceiros. Essa riqueza paradoxal, que inclui a solidão, tornam a angústia um do outro mais suportável, que envolve tolerar a incerteza e a ambiguidade. Quando estamos íntimos de alguém, devemos estar dispostos a nos expor a um risco emotivo, pois sabemos que podemos ser feridos ou rejeitados. Afinal, é disso que se trata, de compartilhar nossos pensamentos e sentimentos, um processo de partilha que não pode ser renunciado, pois nos auxilia do inerente desamparo existencial, eis a equação, compreender o outro para acolher a si.
Ao poema; Intimidade por José Saramago.
No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
Até breve, Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130
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