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A Arrogância.

Atualizado: 22 de set. de 2024



A arrogância é uma crença na superioridade e numa autoestima exagerada, que se manifesta presunçosamente pelo indivíduo.

A maioria das pessoas não gosta de pessoas arrogantes, principalmente porque nos fazem sentir mal e provocam uma sensação de inferioridade. A arrogância, é um sentimento de superioridade e autoestima exagerada, que se manifesta de forma presunçosa pelo indivíduo. Um estudo realizado nos Estados Unidos, revelou que crianças entre 4 e 8 anos já mostram algum traço de pensamento arrogante. Inicialmente, acreditam que podem saber mais do que os adultos, e é possível, que esta estrutura possa ter começado como um mecanismo de defesa infantil, na realidade produto de uma infância de muita rejeição e desacolhimento dos seus cuidadores. A dado momento do nosso desenvolvimento, abandonamos esta postura egocêntrica, ajustando-a, para aquelas socialmente niveladas. Este tipo de comportamento pode parecer agradável no início, ao tender a transmitir uma imagem de confiança e seriedade do sujeito, que passado algum tempo, já não nos sentimos bem em tê-lo(a) por perto, nem desfrutamos tanto da sua companhia quanto antes.


Não podemos confundir arrogância com autoestima, precisamente porque pode ser a expressão do oposto, como uma autopercepção de fragilidade. Pessoas com autoestima qualificada têm uma imagem equilibrada de si. Não sentem que ocupam uma posição superior, mas que estão apenas no mesmo nível intelectual do que qualquer outro(a), sem se sentirem sob pressão ou ameaçados(as). Este conceito de Ego sobrestimado, é uma percepção inflacionada desta atuação. Todos podemos cair nesta armadilha sem que ela seja patológica, mas, quando o orgulho se torna um hábito, podemos encontrar neste tipo de traço, distúrbios emocionais disfuncionais, tais como a personalidade narcisista. Uma característica comum dos presunçosos é que sofrem muita rejeição nos ambientes sociais, o que os leva a manter relações superficiais e banais, carregando uma experiência de solidão e isolamento. Interpretam esta rejeição social como emocionalmente dolorosa, a entendem como uma consequência direta da sua suposta posição diferenciada do resto. Estas atitudes, mantêm vivo um problema de gerenciamento social, como forma de defesa, não para resolver sua insuficiência, senão para sustentar sua falta de confiança e própria reprovação. Geralmente utilizam este formato, para criar auxílios defensivos, diante de uma identidade vulnerável, ativam estes subterfúgios para esconder uma profunda convicção de desamparo interior, reagindo com desprezo aos outros para não serem repudiados(as), negados(as) ou isolados(as), sendo menos doloroso para si, criar esse distanciamento. No fundo, lês falta capacidade de comunicação, uma marca predecessora da sua constituição, que em algum momento das suas vidas foi omitida por quem realmente devia estruturar esse afeto, na sua fase inicial e crítica do seu desenvolvimento. Portanto, o complexo de superioridade: é o processo psicológico pelo qual certas pessoas tentam concentrar-se em realçar suas prováveis qualidades positivas, ensejando uma compensação recalcada dos seus defeitos menos suportáveis. Por trás de cada indivíduo que sofre deste complexo, há alguém que se sente inferiorizado e tenta mostrar qualidades para emergir e aparecer. Adler, o considera um mecanismo inconsciente, que se manifesta como “uma afetação da personalidade, que leva à adoção de posturas prepotentes no trato com terceiros”.


Quais são estes comportamentos:


Existe uma crença constante de superioridade, com a transmissão de uma imagem exagerada e super dimensionada.

Consideram que têm o direito de tratar mal outras pessoas, uma vez que as colocam numa posição de inferioridade.

Mostram sua raiva com intimidação física, corporal e verbal, usando gestos e linguagem baixa e agressiva.

Consideram-se melhores em tudo, presumem, portanto, que outras pessoas têm inveja deles(as).

Tendem a atacar a pessoa, em suas crenças, pensamentos e ideias.

São cruéis e irônicos, querem ridicularizar o outro como forma de humilhação.

Altamente hedonistas, se concentram nos seus próprios desejos e benefícios.

Faltam-lhes escrúpulos, seu único objetivo é concretizar seus desejos, cumprir suas metas.

Querem obter sucesso e reconhecimento, custe o que custar, independentemente dos métodos que tenham que aplicar.


Como lidar com pessoas que desempenham este papel?


Não tente estabelecer uma relação onde se espera uma resposta de duas vias, elas(as) não responderão há altura.

Seja tão concreto(a) quanto possível, isso pode neutralizar seu exibicionismo e pseudo-importância.

Não lhes dê privilégios especiais, trate-os como qualquer outra pessoa, mostre segurança e escuta atenta.


Na psicanálise, o Ego é a instância psíquica reconhecida como Self, uma função parcialmente consciente, ela controla e modula os instintos do id, ideais do Superego e a realidade do mundo exterior. O que é coloquialmente chamado de Ego, neste caso, é um excesso de autoestima, que leva muitos a praticar atos sem se preocuparem com suas consequências. Se acrescentarmos a arrogância como componente, o sujeito(a), tenderá a ser ostensivo(a), pedante, soberbo(a) e corajoso(a). Na verdade, nesta postura inflexível, coexiste uma pessoa pouco intima com a humanidade, uma vez que não reconhece o outro, frequentemente alimentado(a) por um profundo medo de todos. Sua inclemência e aspereza, são um escudo para que outros não lhe acedam emocionalmente, bloqueando a possibilidade de feri-los emocionalmente. O bom conhecedor de si próprio, tanto quanto dos outros, é bondoso e pacífico, tem um carácter forte, um espírito fraterno, nunca estará a serviço de rebaixar seu igual, opostamente, estará beneficiando, ajudando o próximo, sendo solidário nas suas possibilidades e condições. A única maneira de o(a) arrogante se curar é abrir-se aos outros, interessar-se genuinamente por eles(as), ressignificando suas fraquezas, que tanto sofrimento lhe causaram no decorrer da vida. A dada altura, compreenderá o indivíduo, que sua insegurança deve ser extinta para poder evoluir, abandonando uma firmeza forjada, que não lhe pertence, nem está no devido lugar. No final, podemos ponderar, que todos nós, de uma forma ou outra, sofremos de medos, fragmentações e inseguranças, que em muitas circunstâncias, conseguiremos agir muito eficazmente ou não, mais que o acesso ao reconhecimento, amor e afeto dos outros, passa por um nivelamento. Certamente que será com uma boa dose de transparência e humildade que podemos amar e ser amados abnegadamente, sem necessidade de usar máscaras, maquiagem ou subterfúgios desnecessários.


E finalmente, a personalidade narcisista patológica nega a preocupação pelo outro, quando dirige toda sua energia para si próprio. Eis que surgem, o excesso de preocupações estéticas contemporâneas, que detectamos diariamente em pessoas que dedicam grande parte do seu tempo neste empenho. Às redes sociais como cenário, são como o espelho de Narciso, ao criarem um palco perfeito para expressar ditos padrões, e como desejam se elaborar e ser vistas(os). A função do olhar, de ser enxergado(a), é de particular importância aqui, jogando seu papel protagonista. O espelho, representando a ''Imagem Idealizada'' de si, trata sobre “Ver e ser visto”. Lacan, considera isto como parte do nosso Imaginário, na construção de imagens que servem em parte para distrair, convencer e atrair, almejando a postulação de efeitos que sejam reconhecidos falsamente pelo “Outro”. Esta multiplicidade de representações e exibições, distrai do que realmente importa. Do Simbólico, do discurso, da palavra, onde o nosso Inconsciente está estruturado como uma linguagem, podemos facilmente encontrar a Verdade.


Por Dan Mena


Ao poema… por Álvaro de Campos (trecho).


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo.

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho.

Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos.


Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado.

Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído.

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil.

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Interpretação do poema: Retrata a hipocrisia de uma sociedade que deseja aparentar ser perfeita.


Por Dan Mena. Membro Supervisor do Conselho Nacional de Psicanálise desde 2018 - CNP 1199 Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise desde 2020 - CBP 2022130

 
 
 

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